A francesa Mathilde Faure (no centro) se encontra com outros estrangeiros toda quarta à noite no Fidel Bar| Foto: Antonio More / Gazeta do Povo

Da França para terras brasileiras

De mala e dicionário na mão, a francesa Mathilde Faure, 23 anos, desembarcou em Curitiba há pouco mais de um mês. Com espírito aventureiro, paixão pela cultura brasileira e sem falar português, ela interrompeu temporariamente o mestrado em Literatura Francesa para estudar no Brasil.

Ela conta que seus amigos ficaram espantados com a decisão. "Diziam que eu estava louca e que era um país difícil, mas estou gostando", conta. Aos fins de semana, Mathilde costuma viajar. Além da Ilha do Mel, ela já conheceu cidades de Santa Catarina e está com passagem comprada para Foz do Iguaçu.

Às quartas-feiras participa de um encontro com outros intercambistas. "Estamos em uma situação desafiante aqui, sem nossa família, sem amigos. Estar com outros que estejam na mesma situação ajuda bastante", conta.

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Você já teve dúvida sobre em que balada deveria ir, qual seria um bom programa de fim de semana, como tirar um documento ou encontrar uma encomenda extraviada no Correio? Pois imagine passar por tudo isso sendo um estrangeiro recém-chegado no país e sem falar português. Essa é a realidade de muitos estudantes que vêm fazer um intercâmbio em terras brasileiras. Percebendo essa dificuldade, duas amigas, uma que já tinha morado na Alemanha e outra que fez estágio na Assessoria de Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), se uniram para promover a integração de intercambistas acadêmicos.

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Norma Müller, 29 anos, graduada em Letras Português e Alemão, e Gabriela Diniz, 26, formada em Psicologia, decidiram se aventurar nessa área em 2011, enquanto estudavam idiomas. Depois de promover algumas atividades no Paraná, as duas conheceram um projeto bem-sucedido de auxílio a estudantes estrangeiros no Rio de Janeiro, a Rede de Estudantes de Intercâmbio (REI), e, no início de 2012, trouxeram a ideia para Curitiba. Mesmo com pouco tempo em funcionamento, a REI Curitiba (www.reicuritiba.org) já promoveu inúmeras iniciativas, como ajudar estrangeiros a encontrar moradias e promover encontros de confraternização.

Necessidade

A maior parte dos estudantes de outros países chega ao Brasil com lugar para ficar e uma série de problemas resolvidos, mas, com o passar dos dias, muitas dúvidas acabam aparecendo, afirma Jovania Perin Santos, professora de Português para Estrangeiros do Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin). "Se não falam português, preferem frequentar lugares em que não precisam abrir a boca, como restaurantes por quilo e supermercados. Para eles é bastante difícil também o momento de ler e assinar documentos, além de outros trâmites jurídicos e acadêmicos", conta.

A professora disse que já ajudou alunos a entender contratos de locação e outros papéis mais técnicos, difíceis para quem não domina a língua portuguesa. "Eles reclamam de que no Brasil tudo é muito grande, com muitos departamentos e burocracia. É importante que haja mais pessoas que orientem esses estudantes", diz.

A UFPR, que é a instituição de ensino superior do estado que mais recebe estrangeiros, admite que não consegue atender os intercambistas da maneira como deveria. "Nossa equipe é pequena e ainda não temos estrutura para prestar esse serviço. Estudamos implantar o sistema de apadrinhamento em que um aluno da universidade possa ficar responsável por um estrangeiro", conta o assessor de Relações Internacionais Carlos José de Mesquita Siqueira. Segundo o professor, a universidade analisa também a possibilidade de firmar parcerias com outras instituições, como a REI Curitiba.

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Os inícios da REI em Curitiba

Entrevista com Norma Müller e Gabriela Diniz, responsáveis pelo projeto na capital paranaense.

Como chegaram a REI?

Gabriela: A REI surgiu da identificação desta demanda por mais informação sobre a cidade e eventos voltados para estrangeiros. Pensamos que não era só responsabilidade das universidades resolver os problemas desses estudantes e que também não bastava a atuação de uma empresa de produção cultural ou de turismo. Chegamos à conclusão que o ideal seria criar uma rede de estudantes que desse este suporte, até mesmo antes da vinda dos estudantes para o Brasil. Foi então que conhecemos a REI Rio, que iniciou este projeto no Rio de Janeiro em 2008. Por meio desta rede temos contato direto com os estudantes e fazemos a mediação dos serviços que são prestados a eles.

Vocês percebiam que estrangeiros ficavam "perdidos" por aqui?

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Norma: Sim, quando voltei da Alemanha em 2009 já conheci três alemães que vinham para Curitiba. Não tinham a menor ideia de como era a cidade, nem tinham lugar para ficar. Foi então que decidi ajudá-los, já que eu tinha sido bem recepcionada por um grupo de estudantes de lá. Com essa ajuda, eles logo se integraram e tiveram uma experiência muito legal por aqui e já diziam querer voltar sempre para cá.

Quais são as principais dificuldades dos estrangeiros?

Muita gente que vem para o Brasil ainda espera encontrar muita desorganização, e é essa imagem que queremos transformar. Queremos que a percepção deles seja da nossa cidade como um todo, tão diversa quanto é para nós. As dificuldades que eles encontram são em relação à moradia, transporte, e informações em geral: desde como tirar o CPF até se é seguro ou não andar sozinho nas ruas.

Quais são os planos futuros

Gabriela: Em curto prazo, estamos com um projeto no catarse, o "Faça estas bicicletas aparecerem", cujo objetivo é arrecadar recursos para reformarmos bicicletas que serão disponibilizadas para os estudantes. De projeto em projeto acreditamos que estamos melhorando a cultura de recepção do intercâmbio na cidade, além de acabar transformando a cidade também! Temos o objetivo de firmar parcerias este ano e de poder contar com recursos das instituições que se beneficiam do nosso trabalho.

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