Quem acaba de entrar na universidade encontra mensagens antitrote em folhetos, banners, cartazes e até no próprio manual do aluno distribuído pela instituição. No primeiro dia de aula, professores repassam mais orientações para que o calouro não participe de trotes violentos, não aceite humilhações ou se coloque em situações constrangedoras.
Ainda assim, vestibular após vestibular, calouros continuam se sujeitando a ações de veteranos que incluem agressividade, bebidas alcoólicas e situações que ridicularizam os novos alunos. Se ninguém é obrigado a participar de qualquer tipo de trote, por que continuamos assistindo a calouros bebendo e mendigando dinheiro nos sinaleiros?
O fato de o trote estar enraizado em nossa cultura faz com que o calouro queira passar por ele. Essa é a opinião de Miriam Angelucci, coordenadora de Assistência Estudantil da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "O calouro gosta de participar, pois é um rito de passagem. Entrando na universidade, ele está feliz e gosta de tomar aquele banho de lama, de festejar e de se sentir acolhido", conta.
Solidários
Entretanto, Miriam lembra que essa comemoração, com direito a se jogar na lama, já foi feita quando saiu o resultado com os aprovados no vestibular. Os primeiros dias de aula devem ser usados para conhecer a universidade e suas atividades. E, mesmo que um ou outro aluno ainda sinta falta de algum trote, crescem a cada ano as iniciativas solidárias. Também chamado de trote cidadão, este é um evento que não constrange ninguém, ajuda quem precisa e promove a importante integração entre os estudantes.
Brincadeiras resistem à prática solidária
Diferentemente da UFPR, que terá a maior parte das aulas iniciada na próxima semana, os alunos já voltaram às salas de aula nas instituições particulares. Neste ano, a maior parte das ações de trote solidário envolveu a doação de sangue e a distribuição de alimentos a instituições carentes. O Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) também promoveu ações solidárias. Mas, segundo o ouvidor da instituição, Mauro Seraphim, ainda assim um pequeno grupo de estudantes não abriu mão de praticar o trote à moda antiga. "Temos uma portaria contra o trote, mas o bichinho da curiosidade leva alguns alunos a caírem na conversa de certos veteranos. Aí vão para fora da instituição para serem recepcionados por lá", diz. Não houve notícia de problemas com bebida alcoólica entre alunos da instituição, mas alguns deles foram por conta própria para os sinais pedir dinheiro.