O Brasil não é um país que é tido como grande incentivador do esporte dentro das universidades. No entanto, em Curitiba isto parece estar começando a mudar. As instituições de ensino que ainda não oferecem apoio aos times de seus universitários ou bolsas admitem a ideia como possibilidade para um futuro próximo. E nesse sentido, a UniBrasil é uma das que largam na frente. Além de apoiar uma estudante de Educação Física que corre nas principais provas do estado (leia a história ao lado), a faculdade patrocina alunas do time de vôlei e uma equipe de rugby, que este ano conquistou o campeonato estadual.
Depois de um longo inverno sem equipes treinando oficialmente, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) começa a se movimentar pela mobilização do centro acadêmico. Segundo o coordenador do departamento de esportes da PUCPR, Luiz Carlos Py, três times estão sendo formados e em processo de seleção dos estudantes. Futsal e basquete feminino e vôlei masculino já têm os treinadores e técnicos escolhidos e a intenção é transformar a universidade em um "celeiro" de atletas. "Um programa está sendo estudado, com o objetivo de preparar os alunos para os jogos, e também com um processo de distribuição de bolsa-atleta. A demanda é cada vez mais crescente, mas hoje ainda acontece de uma forma mais organizada pelos próprios alunos, enquanto a PUCPR entra em termos de organização dos espaços e limpeza", diz.
Para o professor de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR)Fernando Mezzadri, doutor em Educação Física e professor de Políticas Públicas para o Esporte, oferecer bolsas de estudos para universitários atletas é mais do que justo. "É importante, pois esses alunos dedicam parte do seu tempo na representação da instituição. É papel da universidade o desenvolvimento da prática esportiva, tanto corporal para todos os alunos, como uma prática de treinamento esportivo para quem tem mais habilidades e condicionamento", afirma.
O gosto pelo esporte
Apesar de ter uma boa adesão dos alunos e participação em quase todas as modalidades do esporte, a UFPR não oferece hoje nenhum tipo de bolsa aos alunos participantes este é um assunto que estaria sendo tratado com os ministérios do Esporte e da Educação. "Jogamos porque gostamos", diz Guilherme de Souza Nogueira, 19 anos, aluno de Ciências Biológicas e jogador do time de vôlei da UFPR. Ele conta que além de malhar todo dia, tem treinos três vezes por semana. Dedicação que já rendeu a ele muitas oportunidades de subir ao pódio. "A universidade nos oferece lugar para treinar, malhar e também os materiais de treino. Uma bolsa-atleta seria bacana, até para que houvesse um maior comprometimento dos atletas da universidade", conta.Fernando Mezzadri afirma que na UFPR ainda faltam melhores espaços e que as condições de uso das quadras e equipamentos não são as melhores. "Vamos verificar se com as Olimpíadas alguns equipamentos esportivos, como ginásio e pista de atletismo, podem ser construídos e servir para os treinos. Hoje temos dois campos oficiais de futebol, uma pista de atletismo que não é oficial, mas é boa, e três quadras cobertas. Estamos construindo duas quadras poliesportivas e esperamos construir mais um ginásio e uma pista de atletismo", diz.
Na PUCPR, os mais de 3 mil alunos podem usar a estrutura de esportes mesmo sem a intenção de representar a instituição. Entre as modalidades disponíveis estão a musculação, corrida de rua, duatlon, flex bola, natação, hidroginástica, spinning e, em breve, pilates com aparelho. Mas isso não sai de graça. "As atividades são abertas à comunidade e os alunos têm 10% de desconto. Assim como têm desconto na locação de quadras, que são muito procuradas e têm um valor mais em conta que o cobrado pelo mercado", conta Luiz Carlos Py.
Apesar de tudo, ainda falta muito
Há cerca de três décadas, a educação física era obrigatória na universidade. Desde que ela foi abolida do currículo, o esporte foi perdendo força no Ensino Superior. Essa é a opinião de Paul Julius Stanganelli, professor de Gestão Esportiva da PUCPR e assessor técnico da Paraná Esportes. "A não obrigatoriedade fez com que houvesse um retrocesso no desporto universitário. Antes qualquer aluno que entrasse, fosse em Geografia ou Odontologia, tinha de fazer pelo menos um ano da disciplina. Com isso a faculdade tinha mais condições de montar equipes."
Enquanto os Estados Unidos e países da Europa têm forte tradição de investimento no esporte de universitários, no Brasil isso ainda está engatinhando. Há espaço para treinar, universidades equipadas, professores capacitados e alunos dispostos. Contudo, não se vê avanço. Não há um calendário esportivo forte no meio universitário e quem pratica alguma modalidade o faz mais como promotor da imagem das instituições. "Há a necessidade de se resgatar essa dinâmica desportiva. Não adianta ter projetos isolados que servem apenas poucos ótimos atletas. O esporte vem da quantidade, e da oportunidade para todos", diz.
Maiores parcerias com a iniciativa privada e políticas de desenvolvimento do esporte seriam a solução. "O esporte é um produto e precisa de vinculação com o mercado. Quando se investe no esporte, se ganha com o reconhecimento público. Há uma tendência de se trabalhar dessa forma e, como o Brasil está envolvido em grandes eventos esportivos, isso servirá de estímulo a novas formas de se relacionar com o esporte."