Andar pelos corredores de uma universidade e reparar o comportamento dos estudantes, mesmo sem conhecer ninguém, leva quem observa a associar os alunos a determinados cursos. A forma como os jovens se vestem e o estilo de vida que adotam são fatores que ajudam a fortalecer estereótipos de universitários concretizados ao longo de anos.
Estudantes que se arrumam formalmente com camisa e calça social, por exemplo têm grandes chances de estar cursando Direito ou Administração. Já o uso de jaleco branco remete imediatamente ao acadêmico de Medicina.
Embora o cenário acadêmico tenha mudado bastante nas últimas duas décadas, como as atitudes e os valores dos jovens, muitas das imagens padronizadas das profissões continuam as mesmas. Contudo, engana-se quem pensa que isso é um fator negativo ou que apenas massifica os estudantes.
Identidade
Para o especialista em Psicologia Social e Antropologia e professor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Gilberto Gnoato, seguir o padrão dos colegas de curso faz parte do processo de identificação profissional. Isso corresponde a uma transição da identidade de aluno para a vida adulta, com uma carreira e um papel na sociedade.
A reportagem conversou com universitários de diversos cursos de diferentes instituições de ensino superior para saber como eles se veem e como percebem os estudantes de outras graduações. Confira ao lado quais os grupos mais comuns, seus estilos e comportamentos.
Roupas casuais, mochila nas costas de preferência com algum aparelho eletrônico dentro , livro em uma mão e calculadora científica na outra. Se você imaginou um engenheiro com essa descrição, acertou. Independentemente da área, o estudante de engenharia costuma estar envolto em números e não dispensa um aparato tecnológico. Talvez por isso a imagem de "nerd" seja incorporada até por ele mesmo. "Cara de louco e um livro embaixo do braço. É assim que se identifica quem cursa engenharia", brinca Osmar Olavo Kober Filho (dentro do carro, de camiseta escura), que estuda engenharia Mecânica na Tuiuti. Esse perfil acaba englobando também quem faz outros cursos da área Tecnológica, como Informática e Tecnologia da Informação. (AS)
Cursos como História, Filosofia, Design, Jornalismo e Ciências Sociais têm fama de terem os alunos mais descolados e alternativos. Quem visita o pátio da Reitoria da UFPR, por exemplo, vai notar isso pelas roupas e pelas brincadeiras que fazem por lá, entre elas o ogrobol jogo semelhante ao futebol que usa uma bola de tênis e três pessoas em cada equipe. "É um pessoal mais tranquilo, meio bicho grilo, que não se preocupa com aparência e fica bastante no pátio da universidade ou no bar", afirma Gabriel Frigo, aluno de Ciências Sociais na UFPR. Essa tranquilidade também é percebida nos que estudam Psicologia. Além da paciência em ouvir o outro, costumam ter o jeito introspectivo de quem está sempre analisando. De acordo com Natasha Kurtzenbaum, aluna de Psicologia da Faculdade Evangélica do Paraná, quando passam a atender pacientes, os alunos precisam de uma aparência mais séria, então é comum entre as meninas, por exemplo, usar um lenço no pescoço.
Lidar com os animais e a natureza é com eles. "O povo de Biologia é ecologicamente correto. Muitos que eu conheço vêm para a aula de bicicleta e fazem trabalhos de conscientização", diz o acadêmico de Medicina da PUCPR Ricardo Sprenger Falavinha Júnior. Médicos veterinários e agrônomos também fazem parte das turmas que costumam estar em contato direto com o meio ambiente e têm um visual característico. Gabriel Frigo, que cursa Ciências Sociais na UFPR, consegue identificá-los pelas botas e roupas surradas, geralmente usadas para ir a fazendas ou atender animais de grande porte. "Quando bato o olho em alguém assim, sei que faz um dos dois cursos."
>>>Engravatados e bem vestidos
Assim que começam os estágios, os estudantes de Direito e Administração deixam de lado o tênis e a calça jeans e partem para roupas mais formais, pois passam a frequentar ambientes como fóruns e grandes empresas. O que é uma exigência do ambiente de trabalho passa a ser visto por estudantes de outros cursos como certo exibicionismo. "São formais até na forma de se tratar, pois chamam uns aos outros de doutores", comenta o especialista em Psicologia Social e Antropologia Gilberto Gnoato. Além da aparência, o forte engajamento político é outra característica dos futuros advogados. Matheus Barreto, aluno da Universidade Estadual de Maringá, sente que uma das maiores preocupações dos seus colegas é mudar a sociedade. Em rodinhas de conversa, discussões e reflexões sociais são bastante frequentes. Em geral, o aluno incorpora o estereótipo do curso a partir do 3º ano. A transformação não é percebida apenas pelos estudantes de outros cursos, mas também pela família. "Ouvi dos meus tios que eu nem me formei e já falo e me porto como um advogado", diz Barreto.
Livros enormes embaixo do braço, olheiras, cara de cansado e jaleco branco a tiracolo. Essas são as características mais visíveis de um acadêmico de Medicina. Por causa da grade horária integral e do volume de conteúdo que precisam estudar, virar a noite em cima de livros principalmente em época de provas é regra geral. "Estamos sempre pelos corredores falando sobre o que temos de estudar, mas sabemos bem reservar um tempo para nos divertir. Nossas festas costumam encher sempre. Aquela visão de que aluno de Medicina é nerd está ultrapassada", conta Ricardo Sprenger Falavinha Júnior (ao fundo, no centro), estudante de Medicina da PUCPR. A famosa roupa branca só é usada por eles nos dois últimos anos do curso. Mas o jaleco não se restringe aos futuros médicos, alunos de Odontologia e Enfermagem também desfilam com o modelito, o que faz dessa cor o emblema das graduações de Saúde. "Quando vejo alguém de branco com uma maletinha na mão, logo sei que a pessoa faz Odontologia. Eles sempre a carregam por causa dos instrumentais", diz o aluno de Medicina da Universidade Positivo Stephan Saab.
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