Professores e alunos do Brasil e do Canadá se reuniram para elaborar propostas que levem mais qualidade de vida a moradores de área carente| Foto: Márcio Helegda / Divulgação

Choque de realidade

Depoimento de Tatiana Ravache, estudante do 9º período de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo

"Além da famosa selva, carnaval, futebol e caipirinha, muita gente pensa que o Brasil não é desenvolvido como realmente é. O que a gente tem é desigualdade e pontos que precisam de atenção especial, como o Jardim Gabineto, na Cidade Industrial de Curitiba. Ver esse tipo de realidade foi um choque para o grupo de canadenses. Não é algo encontrado por lá.

Entramos de cabeça no projeto, esperando que pelo menos uma das nossas ideias fosse aproveitada. Ver e poder trabalhar com uma pequena porção dessa comunidade foi incrível. Fomos muito bem acolhidos e ouvimos os problemas relatados pelo pessoal da associação de moradores. A partir daí foi juntar o pensamento dos brasileiros e dos canadenses e o resultado dos projetos, feitos em praticamente um dia e meio, foram ideias fáceis de serem executadas pela própria comunidade. Pensamos em soluções viáveis economicamente e não algo utópico.

Como toda atividade que trabalha com a realidade, esse workshop serviu para fazer todos os alunos crescerem como pessoas. Passamos a dar mais valor a tudo que nós temos. Além, é claro, do crescimento profissional."

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Os estudantes visitaram o Jardim Gabineto, na Cidade Industrial, na semana que antecedeu o carnaval
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Onze estudantes canadenses do 2.º ano de Arquitetura e Urbanismo vieram a Curitiba, em fevereiro, com uma missão acadêmica e social. Em parceria com 20 universitários brasileiros, todos se uniram para estudar uma região carente da cidade e propor intervenções urbanas que aumentem a qualidade de vida e o espírito de comunidade. A ação é fruto de um convênio entre a Universidade Positivo (UP) e o Fanshawe College. O encontro foi a terceira participação de alunos canadenses em workshops em Curitiba.

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Os alunos visitaram o Jardim Gabineto, na Cidade Industrial de Curitiba, e conversaram com membros da associação de moradores. Após levantar as necessidades da comunidade, o grupo se reuniu para avaliar propostas de intervenção, que serão apresentadas pelos brasileiros à comunidade. O desafio dos estudantes era transformar um espaço. Para isso, foram discutidos aspectos técnicos, distribuição dos moradores, vegetação, sustentabilidade, relevo e acessibilidade.

Apesar de os alunos da UP também terem se deparado com um ambiente ao qual não estão familiarizados, o impacto foi maior entre os estrangeiros, segundo a professora de Arquitetura da UP Gisele Pinna, uma das coordenadoras do projeto no Brasil. "Os canadenses ficaram surpresos pelo contraste cultural. Ficaram impressionados com as condições locais e foi chocante para eles conhecer o programa da prefeitura, que troca lixo reciclável por comida", conta.

A arquiteta e mestre em Gestão Ambiental Marilice Casagrande Lass, professora da UP que também está envolvida no projeto, ressalta a integração entre os próprios alunos e a interação deles com a comunidade. "Os alunos se empenharam e os moradores também. Eles tentaram se comunicar em outro idioma. Foi uma experiência que foi além do workshop. Foi uma relação mais humana, solidária", diz.

Troca de ideias

Além do trabalho conjunto, o intercâmbio possibilita o acesso a diferentes eixos de formação. No Brasil, os cursos de Arquitetura costumam ser mais generalistas – o aluno tem acesso a informações mais básicas no início do curso e aprofunda o conteúdo nos outros anos, passando por edificações de pequeno, médio e grande porte. No Canadá, a metodologia é outra.

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"Eles trabalham com enfoques e temas diferentes. Se o aluno quer aprender paisagismo, vai aprender paisagismo na teoria e na prática. Vai cortar uma árvore, trabalhar no jardim", explica Marilice. Para os futuros projetos, a ideia é tornar mais concreta a participação dos estudantes estrangeiros. "No ano que vem pretendemos fazer uma intervenção real, notamos que os estrangeiros sentiram falta de poder executar alguma coisa", conta Gisele.