A sala de aula tradicional, com um professor que fala sem parar em aulas expositivas, está com os dias contados. O ambiente planejado para o amanhã será de troca de ideias, recursos tecnológicos, apresentações orais e muito trabalho para cumprir dentro e fora da universidade. Essa deve ser a realidade de, ao menos, 22 instituições brasileiras de ensino superior nos próximos anos entre elas, estão as paranaenses Opet, PUCPR e Universidade Positivo (UP). De olho na necessidade de melhorar o processo de ensino para garantir a aprendizagem dos estudantes, elas se uniram e criaram o consórcio Sthem.
A iniciativa inédita prevê três anos de parceria com o instituto Laspau, da Universidade Harvard, período em que professores brasileiros serão capacitados para adotar metodologias e tecnologias de ensino inovadoras. Em maio, 120 docentes tiveram a primeira etapa do curso, em São Paulo.
As técnicas, baseadas na metodologia ativa de ensino, não são novidade desde 1960, a academia discute novas abordagens em sala de aula. No entanto, longe da teoria, práticas inovadoras são pouco vistas nas universidades brasileiras e os alunos continuam a sentar-se passivamente nas aulas, aguardando a absorção do conhecimento por meio da fala do professor.
A superintendente do Grupo Opet, Adriana Karam Koleski, vê com otimismo a experiência do consórcio. "Sabemos que temos de inovar e que o aluno tem de ocupar um espaço diferente na sala de aula para que a aprendizagem ocorra, mas acabamos parando por aí, teoricamente. O consórcio é uma forma de as universidades irem além", afirma. Nas Faculdades Opet, quatro turmas de pós-graduação vivenciarão este semestre letivo em salas invertidas, um dos conceitos inovadores que alteram a lógica tradicional da sala de aula.
Na UP, três professores participaram do curso e repassaram o aprendizado a outros docentes para programar mudanças estratégicas. "Estamos aprendendo com o modelo americano, avaliando como era a aprendizagem antes e como fica depois, além de registar a satisfação dos alunos no início e ao final", conta a pró-reitora Acadêmica Márcia Sebastiani. Ela diz que alguns professores já usam métodos ativos intuitivamente, mas a ideia é abraçar um modelo mais científico.
Por sua vez, a PUCPR enviou seis professores ao treinamento. Dois deles organizam treinamento para outros docentes da universidade. "Temos essa tendência de trabalhar forte com a inovação e entramos nesse processo para não sair mais. Se o consórcio puder ser renovado, vamos renovar. Se ele morrer, vamos continuar buscando outros meios", afirma o pró-reitor de Graduação, Vidal Martins.
Iniciativas que são vitrine para novas ideias
Antes de o consórcio Sthem ser articulado, o Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) já experimentava aulas diferenciadas no Laboratório de Metodologias Inovadoras (www.labmi.com.br), formado por professores que estudaram novas metodologias de ensino em Harvard e no MIT. Dirigentes de instituições do país inteiro têm visitado o laboratório, uma invenção do professor de Física Eric Mazur, de Harvard, que recentemente recebeu o prêmio da Academia Minerva para avanços na educação superior. Mazur foi premiado pela inovação de sua metodologia, chamada peer instruction ou aprendizado entre pares, que consiste no aprendizado pela interação com os colegas.
Em Minas Gerais, a Universidade Federal de Itajubá também saiu na frente. Há quatro anos, criou o grupo de pesquisa em Aprendizagem Baseada em Problemas, uma das técnicas de metodologia ativa. "Os alunos e professores desenvolvem o conteúdo de acordo com o problema ou projeto e apresentam uma proposta de solução. É uma experiência bem inovadora. Antes, alguns estudantes se engajavam em editais como Guerra dos Robôs e Aerodesign. Agora, têm isso em disciplinas", conta o pró-reitor adjunto de Graduação, João Batista Turrioni.
O pró-reitor conta que o consórcio é uma iniciativa pioneira. "Nunca vi um projeto com tantas instituições envolvidas com o objetivo de melhorar as práticas de ensino. A ideia do Laspau [instituto de Harvard] é que a gente desenvolva nosso próprio modelo. O modelo brasileiro de ensino inovador vai nascer a partir dessa troca que estamos começando", afirma.