A esta altura do ano, enquanto muitos estudantes ainda curtem as férias e outros tantos esperam o fim da greve, cerca de 300 alunos contam ansiosos o passar dos dias. São os velhinhos alguns bem mais que os outros que frequentam um dos 24 cursos do Núcleo de Aprendizagem e Aprimoramento para a Amadurecência (Napi), criado há 20 anos na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Em recesso desde o fim de junho, as atividades serão retomadas em agosto.
Para minimizar os impactos que o termo usado acima pode gerar, que fique claro que eles preferem ser chamados de "novos idosos" ou "amadurecentes". É compreensível, considerando que a animação e a energia com que participam das aulas nada lembram a figura pálida e encurvada a que a palavra empregada pode remeter. Qualquer pessoa acima dos 50 anos pode se matricular. Entre os cursos mais procurados, estão os de idiomas, Informática, Teatro, Dança, Pintura em Tela e Coral.
Perfil
O perfil dos alunos varia bastante entre as turmas, tanto em idade como em grau de instrução. Quanto ao sexo, no entanto, a maioria é formada por mulheres. "Não sei se é porque os homens não conhecem aqui ou se eles não se interessam em continuar estudando", arrisca Inez Pissinin Belloni, 70 anos. Há dez anos, quando perdeu o marido, ela fez uma faculdade. Há um ano, depois que a filha morreu, Inez resolveu voltar a estudar e se encontrou no Napi.
"Estudar me ajudou demais. Depois que perdi minha filha, que passou doente um bom tempo, eu teria morrido se não tivesse vindo para o Napi", conta. Hoje, ela só tem as quintas-feiras livres, reservadas para os médicos, mas logo pretende começar a usálas. "Faço Psicologia, Inglês, Espanhol, Espiritualidade e Informática, mas vai abrir Italiano e eu quero fazer", diz.
Dentro da PUCPR, as turmas são referência quando se fala em terceira idade, principalmente quando pesquisadores ligados à universidade precisam entrevistar quem é desse público. "Normalmente, recebemos alunos da Psicologia, mas já tivemos o pessoal da Fisioterapia e da Nutrição realizando pesquisas conosco", conta Siderly Almeida, coordenadora do Napi.
Muito além da distração
Enquanto o hobby do marido é a pescaria, Maria Eloina Stuelp, 63 anos, se distrai passando as tardes no Napi, da PUCPR. O companheiro aparece às vezes para conferir as apresentações de canto, teatro ou exposições de quadros da esposa. entre os cursos que faz, alguns a levam para as lembranças da infância. "Vários deles havia começado a fazer quando criança, como canto, teatro e dança. Mas a vida nos leva para outros caminhos e tudo isso acaba", diz Maria, que parou de estudar aos 18 anos.
Há quem imagine que quem tem mais idade volte a estudar apenas para ocupar o tempo livre. É verdade que a distração e as novas amizades feitas em sala de aula contam muito, mas as alunas explicam que a aquisição de conhecimento é o mais importante. "Eu não quero ficar quebrando a cabeça com coisas muito difíceis. Quero aulas divertidas, mas com qualidade. não tenho tempo para ficar só na distração ou ficar fazendo fofoquinhas", conta Maria.
Socialização
Em relação à socialização, que de fato pode ser muito importante para pessoas que se aposentaram, perderam o companheiro ou têm os filhos fora de casa, a coordenadora do Napi, Siderly Almeida, conta que as aulas são uma ótima solução. "Claro que os alunos também vão até lá para conversar, expor suas ideias e sair de casa. É uma fase de expansão de conhecimentos em todos os sentidos. É hora de conhecer temas novos, culturas novas e gente nova."