Pessoal do CA de Medicina da Fepar: foco na pesquisa acadêmica| Foto: Felipe Rosa / Gazeta do Povo

Em defesa da qualidade

O centro acadêmico faz parte do movimento estudantil, assim como o Diretório Central dos Estudantes (DCE). A diferença é que o primeiro se preocupa em atender às demandas de uma graduação específica e o segundo atende a todos os cursos. Mesmo assim, os dois têm hoje papéis bem diferente do que tinham nos anos 1970 e 1980, quando seu principal alvo era combater a ditadura militar. "Antes tínhamos um inimigo comum. Agora as bandeiras são outras, mas todas elas estão preocupadas com a melhoria do ensino", diz o coordenador-geral do DCE da UFPR, Victor Meireles.

Entretanto, as forças não estão concentradas apenas em benefício da formação. Algumas causas vão além e estão bem ligadas ao papel social que os estudantes acreditam que suas profissões têm. O CA de Direito Clotário Portugal, do Unicuritiba, junto com outros dois CAs de Direito da cidade, participou em 2011 de um movimento para a instituição da Defensoria Pública no Paraná. "Temos uma relação próxima com eles para defender interesses comuns, que farão parte do nosso futuro profissional", comenta o presidente do CA Clotário Portugal, Luciano Giambarriese Ganho.

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Papel social

O trote solidário – que ocorre no começo e no meio do ano letivo, quando chegam os calouros – só funciona porque os centros acadêmicos existem. São eles os responsáveis por divulgar a ideia entre os novos alunos e entrar em contato com as instituições que receberão as doações – que vão desde sangue até alimentos e material de higiene.

Além do trote, algumas comunidades carentes também são beneficiadas ao longo do ano, seja com serviços jurídicos, de saúde e até de arquitetura. Os CAs estimulam os acadêmicos a prestarem serviços comunitários que, além de contar como atividade extracurricular – exigida na maioria dos currículos –, dão a eles a oportunidade de praticar o que aprenderam em sala de aula.

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Franciel Estival defende que o CA é o lugar certo para futuros políticos mostrarem seu trabalho e obterem popularidade

Não são apenas o professor e a universidade os responsáveis pela promoção do aprendizado dos alunos. Os estudantes podem – e devem – fazer muito por seu curso, promovendo semana acadêmica, palestras e organizando viagens a congressos. Para isso, entra em ação o centro acadêmico (CA), que costuma ser o grande responsável por esse tipo de evento.

"A pesquisa acadêmica é um de nossos focos. Promovemos simpósios, discussões e apresentação de trabalhos. Hoje, isso é o que mais fazemos", conta Weber Ribolli Moragas, presidente do Centro Acadêmico de Medicina Daniel Egg, da Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar).

Como as próprias instituições sabem da importância das atividades extracurriculares para a formação, algumas delas auxiliam financeiramente os centros para que os estudantes possam desenvolver atividades. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) destina uma verba aos CAs para que eles invistam em cursos e palestras.

A pró-reitora Rita de Cássia Lopes explica que existe uma resolução na UFPR que estipula que uma porcentagem do que arrecadam com serviços terceirizados, como cantina e xerox, deve ir aos CAs para custear material gráfico, transporte, palestrante e infraestrutura de evento. "Todos eles, independentemente do curso, ganham o mesmo valor. Não é mensal, mas conforme a solicitação. Antes, a coordenação do curso tem de aprovar."

A Gazeta do Povo conversou com os CAs mais ativos de algumas instituições para saber quais são suas principais atribuições e como funciona sua representatividade no ensino superior.

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Por um curso melhor

Seu curso tem problemas com professores que faltam, laboratórios ruins ou livros velhos e defasados? O centro acadêmico pode resolver. Não só pode como é dele o papel de levar à universidade as reivindicações dos estudantes quando algo está errado. São também os integrantes dos centros que participarão de outras instâncias representativas, como o Conselho Acadêmico ou o Colegiado de Curso, que contam com alunos e professores para votar pontos importantes que envolvem o ambiente universitário, como a mudança curricular. "No nosso caso, esses estudantes têm voto com peso de um quinto. Por isso, mesmo que não seja obrigatório um curso ter centro acadêmico, é muito importante, pois é ele que vai brigar por aquilo que querem os estudantes", diz o diretor de Cultura e Relações Internas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), João Oleynik.

Para socializar

Nem todos os centros acadêmicos têm sede própria. Alguns ficam no prédio da universidade, em uma salinha que não é usada por nenhum departamento. Mas quem colocar os pés por lá, logo vai identificar características que indicam se tratar de um CA: sofá, televisão, livros espalhados e alguns jogos como sinuca, pebolim e até videogame. Essa estrutura vai de encontro a outra função essencial dos centros – a socialização dos estudantes. "Aqui, o aluno pode ler, estudar e descansar das aulas. É um espaço para nós", diz a presidente do Centro Acadêmico de Turismo da PUCPR, Isabel Cristina Nunes Rafael.

Alvos do mercado

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Segundo presidentes dos centros acadêmicos, é a minoria dos estudantes que tem interesse em participar efetivamente do grupo, como integrante. Isso acontece porque eles acreditam que vão gastar muito tempo e terão muito trabalho, o que pode atrapalhar os estudos. Porém, pró-reitores e professores alertam: a participação faz com que esses alunos se prepa­­rem para o mercado de trabalho e treinem a cultura do plane­­jamento, pois precisam administrar as demandas com os recursos que têm e eleger prioridades na hora de reivindicar.

Por isso, hoje, muitas empresas buscam estagiários nos CAs, pois sabem que eles estarão prontos para lidar com adversidades e têm características importantes, que são comuns aos estudantes de movimentos estudantis: críticos, engajados, preocupados com a coletividade e sociáveis.

Participar de um CA também é um treino para quem quer­­ ingressar na carreira política. O presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Franciel Estival, diz que é uma forma de o aluno mostrar seu trabalho e obter popularidade. "Temos um exemplo aqui de um acadêmico de Direito que foi presidente do centro e hoje é deputado estadual."