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Alfabetização

Um grande "pobrema" de português

O professor Paulo Batista identifica a dificuldade dos alunos em português ao ler provas e trabalhos | André Rodrigues / Gazeta do Povo
O professor Paulo Batista identifica a dificuldade dos alunos em português ao ler provas e trabalhos (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)

Três em cada dez universitários brasileiros fazem parte de um grupo com nível básico de alfabetização. Isso significa que, mesmo dentro da faculdade, cerca de 30% dos estudantes têm grau de letramento abaixo da média – eles leem e compreendem textos médios e curtos, mas não dominam documentos grandes e complexos. Os dados fazem parte do último levantamento do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), de 2011/2012.

Essa realidade é sentida por professores dentro da sala de aula, independentemente da área do conhecimento. Em cursos de Humanas, Saúde ou Exatas, os docentes percebem que há algo errado com o domínio do português entre os alunos. Os problemas não se restringem a erros gramaticais; estão principalmente na dificuldade de articular ideias e produzir textos com mais de dez linhas.

Basta corrigir uma prova discursiva ou um trabalho para que o professor descubra que casos desse tipo não são raros. Foi assim que o professor de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Paulo Sergio Batista percebeu que muitos de seus alunos compreendiam o conteúdo da disciplina, mas não conseguiam escrever e organizar ideias durante uma prova. Para dar respostas mais longas, a solução encontrada por parte dos estudantes é redigir os pensamentos em tópicos.

A professora de Língua Portuguesa dos cursos de Engenharia e Informática da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Angela Helena Zatti nota o mesmo que Batista. Além de provas e trabalhos, ela sente que a dificuldade em se expressar afeta também as apresentações orais. Segundo ela, a falta de domínio do português mostra-se ainda mais preocupante durante a redação da monografia, pois, por ser um trabalho extenso, a dificuldade do estudante torna-se maior.

Consequências

Patinar no português pode afetar o aprendizado e até o exercício da profissão. No primeiro caso, o estudante tem dificuldade em compreender textos mais complexos e não consegue ter um desempenho pleno. No segundo, mesmo que domine bem a parte técnica, o profissional pode ser rejeitado por ter um texto ruim. Angela lembra que, nas Engenharias, os profissionais fazem muitos relatórios e documentos mal elaborados comprometem todo o processo de trabalho.

O professor Bruno Dallari, do Departamento de Linguística da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz acreditar que a culpa dessa defasagem no conhecimento da língua materna está na deficiência da educação básica brasileira e na falta de leitura antes e durante o ensino superior. "Não existe milagre para uma boa escrita. Os cursinhos vivem atrás de fórmulas mágicas para isso, mas o fato é que a melhor saída é ter tempo e paciência para aguardar a prática que aparece com a leitura."

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