Suspensão não vem só do boicote dos alunos
Embora a UFPR tenha dito que o boicote promovido pelos alunos de Jornalismo na última edição do Enade tenha sido o responsável pela suspensão imposta pelo MEC, documentos emitidos pelo MEC há dois anos apontavam problemas no curso.
Além das falhas no currículo, a falta de uma biblioteca e um sistema ineficaz de autoavaliação, uma visita do ministério ocorrida em novembro de 2012 encontrou a documentação do curso desorganizada e incompleta. "Os docentes sequer apresentaram seus diplomas de graduação e mestrado/doutorado", diz o relatório.
O texto criticava ainda a escassa oferta de matérias optativas, o número insuficiente de técnicos nos laboratórios, a baixa carga horária cumprida pela coordenação do curso e a titulação insuficiente de alguns docentes. Conforme consta no documento, um "docente faz parte do curso desde 1998 e ainda não se qualificou, sendo que o próprio curso oferece um programa de pós-graduação".
Conforme o professor Mário Messagi Junior, as observações do MEC são conhecidas e o curso de Jornalismo está focado neste momento no protocolo de mudanças prioritárias. (JDL)
Matrícula
A UFPR informou que, caso a suspensão seja revogada, está preparada para dar prosseguimento ao ingresso dos candidatos aprovados o mais rapidamente possível, no entanto, como o MEC não informou quando o resultado será divulgado, a universidade não pode programar uma data para as matrículas e para o início das aulas.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebe hoje e amanhã a visita de avaliadores do Ministério da Educação (MEC) e espera um novo veredito para o curso de Jornalismo, que está com o ingresso de novos alunos suspenso desde dezembro. Para reverter a medida tomada pelo ministério, a UFPR teve de providenciar mudanças e propor um plano de melhorias. Apesar do contexto de crise, o corpo docente da graduação está confiante de que a transformação do curso trará benefícios a toda a comunidade acadêmica.
Na primeira tentativa para revogar a suspensão, no fim de 2013, 16 pontos foram elencados pelo MEC para serem observados pelo curso. A instituição argumentou que vários deles já eram atendidos, mas assumiu o compromisso de solucionar os problemas apontados como os mais graves pelos avaliadores, conta o professor Mário Messagi Junior, responsável pela elaboração do protocolo de melhorias.
"Uma coisa é o diagnóstico da comissão, que aponta o que pode ser melhorado em geral. Outra coisa é o protocolo, no qual nós nos comprometemos em tomar certas medidas concretas em determinado tempo", explica o professor. Entre as mudanças em execução, o professor destaca a reforma do currículo, a implantação de um sistema de autoavaliação e a transferência da biblioteca para o câmpus.
Mudanças
Segundo Messagi, um novo currículo acadêmico deve entrar em vigência a partir de 2015. O MEC teria mostrado preocupação quanto ao perfil dos egressos do curso e, embora a necessidade de modernização mais urgente esteja nas matérias de Jornalismo, os três cursos de Comunicação Social devem ser afetados, pois compartilham várias disciplinas.
De todas as melhorias, no entanto, a mais relevante à rotina dos estudantes é a transferência da biblioteca de Comunicação Social para o câmpus, perto dos alunos. Até agora, os acadêmicos tinham de se deslocar do Juvevê até a Reitoria para emprestar ou consultar os livros. Para minimizar a falta de acesso às obras, foi criada uma sala de estudos com alguns livros, mas nenhum deles foi catalogado como parte da biblioteca. Messagi diz que esse espaço será transformado em biblioteca e que a transferência das obras teria sido iniciada na semana passada.
Justiça Frustrados com a situação, os 25 estudantes aprovados em Jornalismo no último vestibular aguardam a decisão do MEC para definir qual o próximo passo a ser dado. Se as melhorias propostas pela UFPR não forem suficientes para liberar o ingresso de novos alunos, os estudantes e seus familiares anunciaram que irão recorrer na Justiça o direito à vaga. Como plano B, a UFPR cogitou a possibilidade de oferecer vagas nos cursos de Publicidade e Propaganda ou Relações Públicas. "Não acho uma opção válida. Se eu soubesse que o curso seria fechado, teria me inscrito para Psicologia", reclama o aprovado Daniel Lisboa de Abreu Lima, 20 anos.