Veja quais são as instituições que menos aprovaram| Foto:

Análise

Números que camuflam os dados

Da Redação

Em um extremo está o Instituto de Ensino e Cultura do Paraná (ICSP), com 0% de aprovação. No outro, a Faculdade Alvorada, de Maringá, com aprovação de 100%. Apesar da diferença, as duas têm muito em comum: ambas inscreveram apenas um estudante para o exame da OAB. A que não conseguiu aprovar o candidato consta na "lista negra" da Ordem. A que conseguiu ficou no topo do ranking no Paraná, desbancando inclusive a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a segunda que mais aprovou estudantes: dos 109, 56 passaram, taxa de 52,83%. A análise é simples, mas nem tão óbvia, e mostra que os dados devem ser interpretados de forma ampla e relativa. Não que o porcentual deva ser ignorado, mas deve se levar em conta, mais do que o índice, os números de inscritos e de aprovados.

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As instituições de ensino superior que não tiveram bom desempenho na última edição do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), aplicado em dezembro de 2010 pela Fundação Getulio Var­­gas (FGV), poderão ter o número de vagas do curso de Direito reduzido, ou mesmo ser fechadas. Essa é a intenção da OAB, que divulgou ontem uma lista com as 90 instituições que não aprovaram nenhum aluno na última edição do exame. Todas são particulares, e dez são do Paraná. Foram reprovados na prova 88% dos 106.891 inscritos em todo o país.Para a OAB, o problema do mau desempenho no exame (exigido para quem conclui o curso de Direito tirar o registro profissional e trabalhar como advogado) é a má qualidade de parte dos cursos. Segundo a Ordem, há 1.174 cursos de Direito no país, com um total de 650 mil vagas. O Ministério da Educação (MEC) faz supervisões a instituições com mau desempenho no Exame Nacional do De­­sempenho dos Estudantes (Enade).

"Essa situação vem se deteriorando porque há um grande au­­mento no número de candidatos que vêm de faculdades autorizadas a funcionar nos últimos anos. Falta qualidade no ensino jurídico, e isso leva a uma situação de alta reprovação", diz o presidente da se­­­­­ção paranaense da OAB, José Lú­­cio Glomb. As falhas acontecem também no ensino básico, segundo ele. "Existem alunos que não con­­­seguem acompanhar a graduação por causa de dificuldades em língua portuguesa. Alguns não sa­­­bem resolver questões matemáticas ou escrever redações", afirma. "Isso é cobrado na prova e é mu­­­i­­­to menos do que ela deveria cobrar."

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Na média

Dos alunos da Faculdade Dom Bosco, de Curitiba, 11,36% foram aprovados na segunda fase do exame. O número é próximo da média nacional, segundo Evilásio Gentil de Souza Neto, diretor acadêmico da faculdade, mas está sendo visto com cuidado. "Nossa perspectiva é melhorar. Vamos aprimorar o que for preciso e subir esse desempenho", afirma. Ele diz que surpreendeu o fato de as instituições pa­­ra­­naenses terem tido um de­­sem­­­penho inferior em relação ao exame anterior. "Todas foram abaixo nas aprovações."

A instituição com melhor de­­sempenho no estado foi a Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR), que teve 52,83% de aprovação – resultado que não agradou ao diretor de Ciências Jurídicas e professor de História do Direito Ricardo Marcelo Fonseca. "Tive­mos uma posição inferior à que normalmente conseguimos. A UFPR costuma ficar entre as cinco instituições do Brasil", comenta. "Esse desempenho não reflete a realidade dos nossos alunos. A maior parte deles prestou o exame na edição anterior e na última a maioria é de alunos que já não tinham conseguido passar." Ele avalia que o resultado pode ser alterado, já que questões poderão ser anuladas. "Pode acontecer de anular uma questão com uma premissa errada e aí eles dão ponto para todo mundo."

Arrecadação

"A culpa é da OAB e da Fundação Getulio Vargas. Já tivemos muitas fraudes nesse exame, que é feito não para avaliar desempenho, mas para barrar", critica o presidente do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito, Reynaldo Arantes. "Se 90% dos bacharéis pagam para se inscrever e não passam, aguardam o próximo exame e pagam novamente. A cada edição há cerca de 125 mil inscritos e a taxa de matrícula é de R$ 200, gerando uma receita de mais de R$ 23 milhões a cada exame."

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Arantes conta que há 3 anos o movimento está organizado em 20 estados contra o exame. "Temos projetos em tramitação no Congresso que tratam da inconstitucionalidade do exame e que questionam a sua aplicação, por causa dos erros que aconteceram na primeira e segunda fases. É uma aplicação que está sendo desregrada e cheia de erros." A primeira prova do próximo exame da OAB está marcada para 17 de julho e a segunda fase está prevista para 21 de agosto.