"O Discurso do Método", obra de René Descartes, é publicado em 1637 e pode-se dizer que é um dos textos mais conhecidos deste pensador, que pertence a uma corrente racionalista e recebe também o título de Fundador da Filosofia. O racionalismo privilegia o pensamento lógico como forma de explicação da realidade algo novo para o homem recém-saído da Idade Média e ainda submetido à autoridade intelectual eclesiástica. A obra foi escrita originalmente em francês, algo incomum para o período, visto que, embora o francês fosse um idioma popular, Descartes é um dos primeiros pensadores a escrever filosofia em primeira pessoa e em seu idioma. Como era comum que autores europeus preservassem o Latim, podemos dizer que Descartes consegue popularizar a filosofia em seu período, uma vez que nem todos dominavam o latim, e a leitura em francês se tornara muito mais palpável.
O racionalismo de Descartes o leva a uma dúvida em relação ao mundo e tudo o que dele faz parte. Desta forma, se vê comprometido a afastar-se de tudo aquilo que até então fora estabelecido e dado como certo. O filósofo inicia este caminho a partir dela mesma, a dúvida, ou seja, é preciso duvidar para chegar à certeza das coisas. Partindo deste pressuposto, ele supõe que todas as coisas que vê são falsas e persuade-se de que tudo que até ali se apresentou não existia e, por conseguinte, despreza, ao menos inicialmente, todos os sentidos, para então recomeçar do zero.
Para trilhar estes caminhos de buscar a fundamentação das coisas e a verdade sobre elas, como já abordamos, é necessário iniciar esse processo duvidando e, junto a isso também se faz necessário um caminho, uma ordem, o que Descartes denomina como Método. Ou seja, seu pensamento é metódico no que tange à elaboração do processo de dúvida; é preciso uma organização metódica para não correr o risco de cair em erros. Descartes persuade-se de que nada, absolutamente nada existe no mundo, que não havia céu nem terra.
Mais do que a verdade, Descartes queria uma certeza, por meio do método; trilhava pelo caminho da dúvida não para ser cético, mas para ter certeza. Como afirma o próprio autor em uma passagem do Discurso do Método: "Esforçar-me-ei, não obstante, e seguirei novamente a mesma via que trilhei ontem, afastando-me de tudo em que poderia imaginar a menor dúvida (...)"
Neste princípio do certo e indubitável, o matemático servir-se-á da suposição ou hipótese da falsidade das coisas que vê. Pelo método, conceberá, momentaneamente, tudo no mundo enquanto falso: janela, eu, você, o Platino ou qualquer outro indivíduo ou coisa serão concebidos enquanto simples quimeras do espírito. Prosseguirá em suas suposições quanto à procedência dos pensamentos em nosso espírito, convencendo-se de que seria capaz de produzi-los. Em seguida, retomará suas dúvidas anteriores, as tais hipóteses utilizadas, tais como a da inexistência dos espíritos e corpos, para em seguida constatar, por meio de uma proposição ("eu sou, eu existo"), a existência ou comprovação da verdade desta afirmação, ao dizê-la.
Após traçar os procedimentos para definir o que se é e não se confundir com outra coisa, manterá apenas o que não reside dúvida. Então, chegará à conclusão de que é um homem, que possui partes distintas, tais como o corpo, os membros e a cabeça (atributos da figura), e a alma, que agora terá seus atributos analisados.
Este mesmo Descartes dirá para agirmos incertos frente à dúvida moral, pois é caráter de nossa moral ser repleta de dúvidas e miserável em certezas, e foi seu caráter não ter se acovardado perante os céticos de seu tempo. Assegurando que as coisas corpóreas são mais fáceis de conhecer que a nossa própria imaginação, ilustrará com um exemplo, o do pedaço de cera que acaba de ser retirado da colméia: "ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e se nele batermos, produzirá um som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste."
Diz nosso autor, a seguir, que, ao aproximar-se a cera do fogo, ela derrete, mudam os seu atributos; com este exemplo, então, traçará uma comparação entre os atributos ou adjetivos e as propriedades corporais, bem como entre a ideia de cera e o espírito, precisando para tanto afastar da própria cera tudo o que não lhe pertence.
Constata que nada permanece senão enquanto algo de extenso, flexível e mutável: "Talvez fosse como penso atualmente, a saber, que a cera não era nem essa doçura do mel, nem esse agradável odor das flores, nem essa brancura, nem essa figura, nem esse som, mas somente um corpo que um pouco antes me aparecia sob certas formas e que agora se faz notar sob outras." Ao conceber a cera e apresentando estas observações, nosso filósofo concluirá pela primazia do espírito em relação à imaginação e sentidos.
Em meio a todo esse processo de busca pela certeza, que aqui não fora totalmente explicitado e que muito mais levaria para levá-lo a cabo, é que Descartes trilha por caminhos nunca antes percorridos, pois nenhum outro pensador ousou de modo algum desmoronar todo o edifício que até ali fora construído, desfazendo-se de todas as verdades e até mesmo da própria existência destas verdades para chegar a uma certeza sólida, concreta e sem sombra ou resíduo algum de incerteza.
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