O povo ficou de fora
No início da década de 1870 foi criado o Partido Republicano, que se aproximou dos militares insatisfeitos e dos setores econômicos mais modernos da época. Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca mobilizou suas tropas e exigiu a deposição do imperador, provocando uma ruptura histórica que, como tantas outras, não contou com a participação popular. "A proclamação foi uma ação da elite que deixou de fora a maior parte da população, um golpe na calada da noite. É por isso que se diz que o povo foi dormir súdito e acordou cidadão", afirma o professor. Dias depois a família imperial foi banida do Brasil, para evitar que os monarquistas tentassem algum tipo de reação.
Na prática
Veja como o assunto pode cair na prova dissertativa da segunda fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná. A questão foi elaborada pelo professor de História Cleomar Rogério Daldegan, dos colégios Bom Jesus de Curitiba:
"Em meados do século XIX (...) o Império ingressou numa era de mudanças relacionadas à própria expansão do capitalismo. Os ventos do progresso começaram a chegar ao país, atraídos pelas possibilidades de investimentos e lucros em setores ainda inexplorados." (NEVES, Lucia e MACHADO, Humberto. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 313.)
O fim da monarquia brasileira está associada a uma série de transformações verificadas nas estruturas nacionais. Assim, levando em consideração o texto, explique de que maneira as "mudanças relacionadas à própria expansão do capitalismo" acabaram contribuindo ao declínio do Segundo Reinado.
Resposta: Deve ser destacada, na resposta, a adoção sistemática do trabalho livre nas fazendas de café em São Paulo, levando uma nova oligarquia cafeeira a desejar o fim definitivo da escravidão como forma de incrementar ainda mais o trabalho livre, gerando conflito com uma das bases de sustentação do poder imperial. Também há a industrialização que, entre outras coisas, carecia de mercado, e aí, novamente, o choque com as bases escravistas do Império, já que o trabalho escravo limitava o universo consumidor. Por fim, essas mudanças de caráter econômico tinham seus reflexos sóciopolíticos, criando uma crescente onda oposicionista ao governo imperial, exatamente por sua relação com essas estruturas defasadas diante das novas necessidades do capitalismo.
Depois de um fim de semana cansativo, por causa da primeira fase do vestibular da UFPR, hoje é dia de curtir o feriado da Proclamação da República um descanso mais do que merecido, mas também uma boa oportunidade de relembrar o golpe militar que aconteceu em 1889 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Segundo o professor de História Cleomar Rogério Daldegan, dos colégios Bom Jesus de Curitiba, os vestibulandos devem estudar principalmente a relação do processo abolicionista com o movimento republicano, a questão militar envolvida na proclamação e a participação popular (ou a falta dela) no movimento que levou ao fim do Império.
A Proclamação da República foi um golpe sem grandes resistências desencadeado por forças militares, graças a um longo desgaste do sistema imperial. Entre os principais fatores que provocaram a derrubada do Império, o movimento pela libertação dos escravos foi talvez um dos mais importantes. Daldegan explica que a economia brasileira passava por mudanças, com o crescimento da cafeicultura e o surgimento de um novo grupo econômico no campo. "Nas fazendas de café no oeste paulista usava-se o trabalho livre e assalariado. A escravidão vinha em declínio desde 1850 no Brasil, favorecendo a entrada de imigrantes", afirma. Por outro lado havia um grupo de fazendeiros pertencentes à aristocracia tradicional, que utilizava o trabalho escravo e apoiava o imperador.O processo de libertação dos escravos vinha sendo feito de forma gradativa, primeiro com a Lei Eusébio de Queiroz (1850), depois com a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885). Em 1888 a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando todos os negros. "Os fazendeiros estavam se organizando para absorver o trabalhador livre gradativamente. Com a Lei Áurea, eles perderam todos os escravos da noite para o dia e o governo perdeu o apoio desse setor, que era a sua grande base política", explica o professor.
A oposição ao Império também vinha das classes urbanas, que se desenvolveram com o processo de industrialização e buscavam ampliar a sua participação política por meio de uma nova forma de governo. Além disso, o Império começava a perder força junto à Igreja Católica e às forças armadas, especialmente após a Guerra do Paraguai (1864-1870). O exército não estava satisfeito com o tratamento recebido do governo central e acreditava que uma mudança de cenário só seria possível com maior participação política. "O exército considerava que na República poderia haver um espaço maior de participação", diz.
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