| Foto: Gilberto Abelha / Jornal de Londrina

Instituições de ensino superior do Paraná poderão ser obrigadas a prever nos vestibulares no mínimo uma questão sobre escritores paranaenses. É o que estabelece o Projeto de Lei 290/13, de autoria do deputado estadual Leonaldo Paranhos (PSC).

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A matéria foi provada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no último dia 3 de setembro e pode impactar diretamente na elaboração das provas de universidades estaduais. A proposta já é considerada inadequada por algumas comissões universitárias que organizam processos seletivos.

Para o presidente da Comissão de Vestibular da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Emerson Arnaut de Toledo, a obrigatoriedade engessaria a escolha dos conteúdos. "Isso nos tira a liberdade de elaborar questões sobre o programa em si. Numa prova de avaliação seriada, por exemplo, seríamos obrigados a pedir o mesmo livro, ainda que ele não esteja no programa da série", define.

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Ele sustenta que autores paranaenses, como Helena Kolody, já foram exigidos no vestibular da UEM, mas que fazer disso uma regra poderá tirar seu caráter educativo. Além disso a falta de obras paranaenses que sejam de domínio público poderia prejudicar candidatos egressos de escola pública.

"Seria criada a mesma dificuldade que se tem hoje em relação aos conteúdos de História e Geografia do Paraná, já que não existe material didático suficiente para indicar", diz o professor, ao enfatizar que já há uma lei estabelecendo que 20% das questões destas disciplinas versem sobre o estado nos vestibulares. Contexto

A chefe da Coordenação de Processos Seletivos (Cops) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Cristina Bulhons Simon, também é contrária à proposta. Ela argumenta que a universidade já pede escritores paranaenses, como Domingos Pellegrini e Dalton Trevisan, mas que o fato preponderante para esta escolha não é o regionalismo.

"O que prevalece é a literatura. Nós procuramos diversificar gêneros e épocas", salienta. Cristina avalia ainda que o projeto poderia favorecer estudantes do Paraná, em detrimento de candidatos de outras regiões.

Já a coordenadora pedagógica da Comissão Permanente de Seleção da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Aline Emílio, defende que vários fatores precisam ser considerados na escolha dos livros indicados, como o conteúdo abordado pelos escritores e não apenas o estado de onde vieram. "O interessante seria se tivéssemos um projeto que valorizasse esses autores. Não é com obrigatoriedade que se ganhará essa visibilidade", pontua.

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Dificuldade será apenas inicial, diz estudante

Em meio à concorrência por uma vaga em universidades públicas do Paraná, a possibilidade de ter de se dedicar à leitura de obras paranaenses não é vista com receio entre os vestibulandos. A estudante Maísa Garcia, 18 anos, reconhece que a medida demandará mais dedicação dos candidatos, assim como as questões sobre História e Geografia do Paraná que já caem em vestibulares do estado. "Para ir bem, estudo em um plantão específico para essas matérias", conta.

O estudante Gustavo Minhon (foto), 18 anos, que se prepara para o vestibular de Jornalismo na Universidade Estadual de Londrina (UEL), acredita que a internet poderá facilitar o estudo de candidatos de outras regiões do país, que até então não teriam fácil acesso a autores paranaenses. Ele também considera o projeto como uma forma de estimular a literatura local. "Se vou prestar um vestibular, tenho de conhecer os livros que a universidade me propõe", diz.

Divergência

O Projeto de Lei 290/13 considera como autores paranaenses os membros da Academia Paranaense de Letras, e entre as justificativas da proposta, está a de que a iniciativa favoreceria o conhecimento e a comercialização de obras. Quando passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a matéria chegou a receber um parecer contrário do relator, ainda assim, foi aprovada por 6 votos a 5 pela comissão.

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