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Apesar de todos os problemas na aplicação do Enem, especialistas afirmam que o exame tem um papel importante na educação brasileira. Para o consultor da Unesco no Brasil, o professor da Universidade de Brasília (UNB) Célio da Cunha, os erros operacionais não alteram a concepção do Enem, bem avaliada pelos educadores e especialistas. "Além de representar avanços profundos no ensino médio, permite a mobilidade dos estudantes e a ocupação de vagas que antes ficam ociosas em algumas instituições." Com a criação do Sisu (Sistema de Seleção Unificado), o candidato pode utilizar a nota do Enem para ingressar em universidades de todo o país.

Cunha explica que, como a prova ganhou mais importância ao se tornar a principal porta de entrada em algumas federais, os docentes e gestores tiveram de mudar o enfoque. Se antes a meta era decorar datas e fatos históricos, o novo formato da prova, com foco na capacidade de raciocínio, fez com que os estudantes fossem estimulados a pensar. "O campo cognitivo é de uma visão mais abrangente, que não se esgota nas questões. A evolução desses processos mentais de raciocínio é o principal requisito para uma educação do século 21." Ele lembra ainda que o momento é de construção de uma política pública. Assim, o que a sociedade deve pleitear é a correção e melhora, e não a extinção do exame.

O ex-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Ins­­ti­­tuições Federais de Ensino Su­­pe­­rior (Andifes) e atual reitor da Uni­­ver­­sidade Federal do Tocantis, Alan Barbiero, diz que os problemas recentes mostram a dificuldade operacional de se aplicar o Enem de forma centralizada. "São 4 milhões de provas, quase a população inteira de muitos países", ex­­pli­­ca. "A operacionalização desse pro­­cesso é muito complexa. O Inep poderia aproveitar a experiên­­cia que as universidades federais têm na aplicação dos vestibulares e descentralizar." Segundo Barbie­­ro, com essas modificações o Enem ganharia sustentabilidade e capilaridade, sem correr tantos riscos.

Para Bertha do Valle, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o exame avalia os 12 anos, a partir da implantação do primeiro ano, que o aluno passa em sala de aula. "Claro que a credibilidade é prejudicada, porque este é o segundo ano consecutivo com erros, mas o Enem é sem dúvida válido e constrói um importante retrato", diz.

Precipitação

Na opinião do presidente da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), José Lúcio Glomb, o pedido de cancelamento da prova foi precipitado. Para o advogado, o episódio demonstra "a falta de cuidado para com uma prova tão importante como essa e serve como um alerta para tratar esse assunto com mais rigor", mas é preciso que os órgãos competentes tenham cautela, para que os demais estudantes, não afetados pelas falhas, não sejam prejudicados. "Somos solidários a esses estudantes, mas há muitos que não foram afetados. Para não haver prejuízo geral, defendo que é preciso analisar melhor este caso. Cautela nunca é demais."

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