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Especial

Da telinha para a vida real

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É bem conhecido o potencial dos seriados de tevê para gerar milhares de fãs completamente viciados, que não perdem nenhum capítulo e são capazes de passar horas falando sobre seus personagens prediletos. Mas algumas vezes, mais do que entreter, elas influenciam na escolha de profissões. Ainda que muitas vezes a rotina dos personagens não reflita exatamente o que acontece na vida real, esses médicos, policiais ou jornalistas da ficção inspiram em muitos jovens o desejo de viver as situações apresentadas. O Vestibular escolheu algumas das séries que dão ênfase a profissões específicas e apresenta um paralelo entre aquilo que os episódios mostram e o verdadeiro dia a dia de quem trabalha na área.

Smallville(por Jônatas Dias Lima)

Uma das profissões mais romantizadas pela cultura moderna não poderia ficar de fora do mundo das séries de tevê. Em Smallville, o jornalismo é apenas pano de fundo para as histórias do jovem Clark Kent, mas elementos da profissão estão presentes desde o primeiro capítulo até a última das dez temporadas que a série teve.

Muito antes da aparição do jornal Planeta Diário, imortalizado pelos quadrinhos e pelo cinema, em Smallville é uma amiga de Clark Kent quem exerce primeiro o papel de jornalista, com todos os estereótipos frequentemente vinculados à área. Chloe Sullivan é responsável pelo jornal da escola em que Kent e seus amigos estudam.

Trata-se de uma garota apaixonada pelo que faz, com um apurado senso de justiça, muitíssimo curiosa e frequentemente acusada de invadir a privacidade alheia. Durante as primeiras temporadas, a personagem é mostrada como a grande influência que levou Kent a escolher a área no futuro.

"Smallville apresenta uma característica das escolas norte-americanas, que é a existência de um jornal estudantil. Essa não é uma prática muito comum por aqui", diz Rodolfo Stancki, repórter da Gazeta do Povo e fã da série. Além de assistir Smallville, Stancki acumula outros materiais relacionados ao jornalista superpoderoso, como quadrinhos, DVDs da série Lois & Clark (dos anos 90), filmes do Superman da década de 80 e até uma antiga série sobre o herói produzida nos anos 50.

Nas temporadas finais, quando Kent enfim chega a Metrópolis, outros aspectos da rotina jornalística passam a ser retratados, como o começo modesto dentro do Planeta Diário, escrevendo obituário e classificados, e, mais adiante, a evolução para um profissional competente, mas workaholic, incapaz de se desligar da rotina de investigações. "Nessa fase de Smallville, o jornalismo é retratado como algo romântico, realmente capaz de transformar a sociedade, quase tão poderoso quanto o próprio Superman", conta Stancki.

Marcia Sttopa, aluna do 5.º período de jornalismo na Uni­Brasil, também assiste a Smallville e comenta situações vividas pelos personagens que refletem uma dificuldade real na área. "Quando descobriam crimes feitos por alguma pessoa influente, os envolvidos sempre tentavam impedir a publicação das matérias", conta Marcia, que, apesar de gostar de Clark Kent, revela a preferência por um outro jornalista famoso dos quadrinhos, o fotógrafo Peter Parker (o Homem-Aranha).

Serviço: O último capítulo de Smallville foi apresentado em 8 de junho, mas a Warner transmite reprises todos os dias, às 7 h; de segunda a sexta às 11 h, e às 21 h nas quartas-feiras.

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House(por Anna Simas)

Ele é irônico, sarcástico e mal-humorado, mas consegue desvendar os mistérios da medicina como nenhum outro profissional. Assim como um detetive, junta quebra-cabeças a partir dos sintomas dos pacientes e consegue curar doenças raras, que requerem diagnósticos sofisticados e brilhantes. O Doutor House, protagonista da famosa série de mesmo nome que acaba de encerrar a sétima temporada, serve de inspiração para muitos vestibulandos que pretendem cursar Medicina. Mas cuidado: decidir a profissão apenas pela série é um equívoco. Nem tudo o que o genial médico e sua equipe fazem é o que realmente acontece no dia a dia da profissão.

"Ele não tem contato com o paciente, e isso é impossível, principalmente para fazer um diagnóstico. O lado humano – que o House não tem – é muito forte na profissão. Se você não gosta de pessoas e não se preocupa com elas, essa não é a sua área", diz o médico cardiologista e chefe da emergência do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Ferreira Lourenço.

As doenças raras que aparecem na série também não são tão frequentes na vida real e, quando elas acontecem, é normal que um bom médico tente todos os esforços para tratar o caso. Não funciona como é em House, em que o protagonista é o único a solucionar um caso.

Mas as semelhanças também existem. Na hora de descobrir a doença, o médico busca pistas na conversa com o paciente, independentemente da especialidade. Além disso, o glamour, aquela sensação de um certo poder em curar uma vida que aparece na série, também é recorrente na realidade.

A estudante de Medicina Priscilla Avellar, que era fã da série antes de entrar na faculdade, consegue sentir na prática algumas características de House. "Quando estava no cursinho eu o via decifrando os casos, ligando um sintoma a outro para descobrir a doença e achava muito legal. Hoje, que estou no quinto ano do curso e já estudei bastante, vejo que muita coisa faz sentido, que os casos que ele e sua equipe pegam fazem parte da realidade médica."

Serviço: House passa no canal pago Universal Channel, toda quinta-feira às 22 h. Reprises todos os dias às 21 h.

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Dexter(por Marcela Campos)

Um assassino, mesmo com várias artimanhas, quase sempre deixa pistas. É aí que entram os peritos criminais, protagonistas de uma nova onda de seriados para a tevê. Depois do sucesso de CSI (Crime Scene Investigation), outra série norte-americana ganhou popularidade ao mostrar o dia a dia desses profissionais: Dexter. O programa estreou em 2006 no canal Showtime e no Brasil passou a ser exibido em 2007 pelo canal FX Brasil, e em 2010, pela Rede TV.

O enredo é centrado em Dexter Morgan, um perito do Departamento de Polícia de Miami e que, pela análise da disposição do sangue no local do crime, consegue interpretar a sequência dos acontecimentos. Além disso, há um "detalhe" que apimenta a história. Nas horas vagas, o personagem principal é um serial killer, um caçador de assassinos que a polícia não consegue prender.

Segundo o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Hélio Buch­müller, o perito criminal é o servidor público que faz a análise científica dos locais onde ocorreram crimes. Fotografa, coleta vestígios e realiza exames em laboratório. Ele pode estar ligado à Polícia Federal ou à Polícia Estadual. O profissional é selecionado por concurso público e precisa ter diploma de curso superior. "Na PF, o concurso abre vagas para profissionais de 14 áreas, como contabilidade, informática e biologia. Quando se fala em local do crime, logo se pensa em homicídio. Mas o perito também pode investigar um crime virtual."

E qual é a formação necessária para ser um perito como Dexter? De acordo com Buchmüller, a análise do sangue no local do crime poderia ser bem realizada por um físico ou engenheiro. Já os exames de DNA exigem formação em Biologia, Farmácia ou Biomedicina. Segundo o biólogo Jerry Cristian Gandin, 26 anos, perito criminal da polícia científica do Paraná, não há uma formação específica para a análise dos locais de crime. Ele explica que todo perito criminal passa por um curso após a nomeação.

Fatos ou exageros?

Os procedimentos científicos das séries, em geral, são verdadeiros. Mas as pericias nem sempre são tão rápidas. Além disso, não há simulação de ações com manequins para conseguir manchas de sangue semelhantes às encontradas na cena do crime, como aparece em Dexter. "O que existem são cálculos. De acordo com o formato e o tamanho da mancha no solo, você pode estimar a altura de onde a gota saiu", afirma.

Serviço: Dexter vai ao ar às quintas, às 22 h, pela FX Brasil. A versão dublada é transmitida pela Rede TV nas segundas-feiras, às 22 h50.

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The Good Wife(por Anna Simas)

"Protesto, senhor juiz". Essa é a frase mais dita pela personagem Alicia Florrick, a advogada da série americana The Good Wife, e que mostra uma rotina tão desejada por aqueles que pretendem prestar vestibular para Direito. A ideia de defender uma pessoa diante de um tribunal parece fascinante e mexe com a imaginação de muitos estudantes.

Porém, antes de optar pelo curso, o vestiba tem de ter em mente que o dia a dia de um profissional de Direito nos Estados Unidos é muito diferente do que acontece no Brasil, principalmente por causa dos sistemas jurídicos, que não funcionam da mesma forma. Além disso, lá, várias questões jurídicas são resolvidas em tribunal do júri, o que não acontece aqui. "No nosso país só chega a esse caso quando é crime contra a vida", explica a coordenadora de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Maristela Denise Marques de Souza.

Outra impressão errada que uma série de justiça e advogados pode passar é que a profissão se resume ao direito penal, o que não é verdade. O leque de possibilidades é muito grande, incluindo contratos, tributos, indenizações, leis trabalhistas, o que nem sempre é mostrado nos seriados.

Rafael Vitola Brodbeck se formou em Direito e é delegado. Fã de séries de advogados e policiais desde a adolescência, descobriu na prática as diferenças, mas ainda acredita que, para quem pretende seguir o caminho da justiça, elas servem de inspiração. "Algumas coisas não temos aqui, como o Ministério Público atuando junto com os policiais. Mas as situações investigadas ou as causas defendidas são comuns, situações que podem acontecer na realidade".

Mesmo com tantas diferenças, o estudante que admira o trabalho de Alícia e outros advogados de seriados não deve desistir da profissão. Até porque, segundo Maristela,a organização de um escritório e o sucesso financeiro que vem de grandes casos mostrados são difíceis de alcançar, mas não estão completamente distante da realidade. "Se o profissional se esforçar e entrar em um bom escritório, em uns dez anos ele consegue chegar lá", diz.

Serviço: The Good Wife passa no canal pago Universal Channel, toda quarta-feira, às 22 h. Reprise no domingo, às 19 h.

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