Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Educação

Enem tem de ser obrigatório para cumprir objetivo

Estudantes chegam para a prova do Enem: criado em 1998, exame não avalia a qualidade do ensino médio | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Estudantes chegam para a prova do Enem: criado em 1998, exame não avalia a qualidade do ensino médio (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Quando foi criado, em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tinha como objetivo primordial avaliar o nível de aprendizado dos estudantes que concluíam o ensino médio, considerado o primo pobre da educação no país. Não se sabia exatamente para que fim ele servia: para garantir acesso ao mercado de trabalho, para entrar na universidade ou para a vida? Naquele ano, com a proposta de criar um novo ensino médio e identificar o que fazia os jovens abandonarem essa fase dos estudos, o Enem saiu do papel. Após 12 anos, o que se pergunta é se o objetivo foi alcançado.Para especialistas, embora o exame tenha conquistado mais espaço na vida de estudantes e na agenda pública, sua principal missão – traçar um raio X do ensino médio – está fracassando. A não obrigatoriedade da prova é apontada como o obstáculo principal. Hoje, só faz o Enem quem quer – geralmente, quem quer ingressar no ensino superior, já que a prova é critério parcial ou integral de admissão em 84 institutos e universidades federais. "Ainda que haja uma maciça participação de estudantes, por não ser universal, o Enem não consegue dimensionar o nível de aprendizagem no ensino médio. Dessa forma, diminui o papel investigativo do exame, que passa a ter um papel meramente seletivo", avalia o coordenador do curso de pós-graduação em Educação da UFPR, Ângelo Souza.

A superintendente do Ins­tituto Unibanco e conselheira do Todos pela Educação, Wanda Engel, elogia a prova e afirma que ela "não serve apenas como termômetro, mas como uma tomografia precisa" do problema, mas que, enquanto não for aplicada a todos os alunos de todas as escolas do país, o diagnóstico será parcial e, pior, não chegará a quem mais precisa. "Muitas vezes, a escola só permite que os bons alunos façam as provas. Os maus alunos são dispensados. Isso mascara o problema e promove o ranqueamento. O Enem vira uma espécie de marketing."

Descompasso

Outro ponto negativo do exame apontado pelos educadores é o descompasso entre o que hoje se ensina na escola e o que é cobrado na prova. A professora do Departa­mento de Educação da Univer­sidade de Londrina (UEL), Samira Kfouri, afirma que, embora ela prime pela multidisciplinaridade e a contextualização, as aulas ainda são focadas na memorização de conteúdo. Samira afirma que ou­­tra deficiência não corrigida ao longo desses 12 anos vem à tona a partir desta análise: a formação de professores. "Como propor uma prova com essas características se o professor não está preparado para ensinar o que é cobrado? O olhar do jovem mudou, mas o professor não conseguiu acompanhar essa mudança. Não adianta avaliar o aluno e se esquecer que os professores dão aulas em condições extremamente precárias, sem estrutura."

Os educadores afirmam que a prova, hoje aplicada somente aos estudantes, não reflete a realidade do ensino, pois avalia apenas o agente que está na ponta do processo educacional – o estudante – sem levar em conta as diversidades regionais, socioeconômicas, a formação de professores e a estrutura física das salas de aula. O período em que o exame é aplicado – ao fim do 3.º ano –, também não permite avaliar a evolução do aluno, assim como dificuldades que persistem ao longo de um mesmo ano. De acordo com o professor Ângelo Souza, o ideal seria que a prova fosse aplicada de forma seriada ao longo dos três anos, assim como no início e ao fim de cada série. Ele afirma que isso ajudaria a conter a evasão escolar, além de detectar a evolução do aluno e o quanto a escola efetivamente contribuiu para a sua formação.

Uma solução apontada pela educadora Wanda Engel é que go­­vernos estaduais e municipais façam suas próprias avaliações seriadas, já que aplicar uma prova para cada ano do ensino médio em nível nacional seria extremamente custoso e inseguro.

Desde 2009, o Inep elabora as questões do exame com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI), uma espécie de banco de itens que permite construir provas diferentes a cada ano avaliando as mesmas competências. Wanda afirma que cada escola do país poderia importar esses bancos do Inep, de acordo com as suas especificidades, e realizar provas com menor periodicidade do que a do Enem, e, posteriormente, enviar os resultados ao MEC.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.