"ENEMganados"
Candidatos preparam protestos
A notícia de que estudantes do Ceará tiveram acesso a questões do Exame Nacional do Ensino Médio antes da aplicação da prova fez com que candidatos de várias cidades programassem protestos por meio de redes sociais. Há manifestações marcadas em Fortaleza, Rio, Niterói, Porto Alegre, Cuiabá e São Paulo.
Em Fortaleza, a passeata dos "ENEMganados" está prevista para hoje. No Facebook, cerca de 1.900 pessoas confirmaram presença. Nas outras cidades, o "Protesto contra o Vexame Nacional do Ensino Médio" está marcado para o final de semana de 13 de novembro. No Rio, pelo menos 4.000 pessoas confirmaram pela rede social que estarão no evento.
Entre as reivindicações dos estudantes estão a exigência de mais segurança no processo, o fim do Enem e a volta dos vestibulares tradicionais. Na internet, também corre um abaixo-assinado de candidatos que querem ter o direito de refazer as provas de 2011, já que os alunos do Colégio Christus, no Ceará, farão novamente o exame. A lista tinha, no início da tarde de ontem, cerca de 260 assinaturas.
Desde 2009, o Enem deixou de ser apenas um exame de avaliação da qualidade do ensino médio e passou a ser usado para selecionar calouros de instituições públicas de ensino superior. As provas também são pré-requisito para quem deseja concorrer a uma bolsa do ProUni.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, acusou ontem o colégio Christus de dar acesso antecipado a questões do Enem a seus alunos. Um simulado realizado pela escola de Fortaleza há duas semanas trazia testes idênticos aos aplicados pelo exame nacional no final de semana passado em todo o país. O ministro disse que um integrante da escola chegou a pedir a alunos que não comentassem com concorrentes que o simulado continha questões do Enem.
Haddad afirmou que alguém do Christus copiou irregularmente dois dos 32 cadernos com questões pré-testadas ano passado no colégio. O pré-teste serve para avaliar o grau de dificuldade dos exercícios, que depois são incluídos em um banco do exame nacional.
O ministro ressaltou, no entanto, que ainda não é possível saber se a direção participou da ação ou se foram professores ou funcionários.
O problema veio a público após alunos escreverem em redes sociais, no final de semana, que o colégio havia conseguido antecipar questões.
Inicialmente, o MEC identificou oito questões iguais. Ontem, concluiu que o simulado continha 14 questões do Enem nas áreas de Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagens. Elas haviam sido aplicadas no pré-teste realizado por duas turmas da escola em outubro de 2010os colégios que realizam o pré-teste são escolhidos por sorteio.
Segundo o MEC, todos os cadernos da pré-testagem foram devolvidos, mas o conteúdo pode ter sido copiado eletronicamente. "O material [o simulado] é o conteúdo de dois cadernos, na íntegra. Está absolutamente comprovado", disse Haddad.
As provas dos 639 alunos do Christus que fizeram o Enem foram anuladas pelo MEC. Elas serão reaplicadas em 28 e 29 de novembro. Ao todo, 4 milhões de estudantes participaram do exame nacional no final de semana passado.
A escola não se pronunciou ontem. Na quarta-feira, disse que o simulado foi feito com questões de seu próprio banco de dados, que poderia ter sido abastecido com itens enviados por estudantes. Haddad disse que a hipótese "é uma impossibilidade lógica", devido ao número de questões coincidentes.
Pais e alunos do Christus afirmaram que a apostila também vazou para estudantes dos colégios Antares, Ari de Sá Cavalcante, Sete de Setembro e Farias Brito. As escolas negam acesso privilegiado, mas dizem que alunos do Christus podem ter repassado informalmente o material a seus estudantes.
Ação
O Ministério Público Federal no Ceará ingressou, ontem, com ação civil pública pedindo que a Justiça Federal determine a anulação total das provas do Enem 2011 ou, como medida alternativa, o cancelamento apenas das questões que foram aplicadas no simulado do colégio Christus.
Na ação, o procurador da República Oscar Costa Filho pede também que seja derrubada a determinação do MEC para a realização de novas provas do Enem para os alunos da escola que tiveram acesso antecipado a questões do exame. Para o procurador, a decisão do ministério "não corrige" o problema e trata de forma desigual participantes de um concurso nacional.
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