Na quinta-feira, o clima era tenso no Colégio Christus de Fortaleza, epicentro do escândalo do Enem deste ano. Mas o momento de alívio, de júbilo e até de fotos e flashes ocorreu na hora em que um funcionário ergueu o banner que felicitava mais uma conquista dos alunos da instituição na guerra dos vestibulares.

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"Conhece esse cara aí?", perguntava, orgulhosa, uma mãe ao filho no meio de alunas ainda chorosas pelo cancelamento de suas provas no Enem. Já o filho posava, ao lado de sua própria foto, impressa na faixa que parabenizava os aprovados para a segunda fase do disputado Instituto Militar de Engenharia (IME), do Rio de Janeiro. Ao lado, outros três cartazes anunciando sucessos em vestibulares que ainda não usam o Enem.

Na luta dos estudantes pelas vagas nas universidades públicas, esconde-se uma disputa entre escolas que querem os melhores índices, os primeiros lugares, a foto do próximo anúncio. E o episódio das 13 questões do Enem que foram entregues dez dias antes a estudantes do Christus, num simulado, expõe a que ponto chegou essa luta na capital cearense. "O foco sai do aluno e fica no marketing. E quem mais se prejudica são os alunos", afirma a estudante de Engenharia Erika Braga Aquino, de 23 anos, ela mesmo ex-aluna do Christus.

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Em Fortaleza, cinco escolas particulares disputam ponto a ponto a liderança do novo ranking-fetiche das escolas, o do desempenho no Enem: além do Christus, os colégios Ari de Sá, Farias Brito, Antares e Sete de Setembro.

Nas escolas, visitadas pelo Estado, paredes repletas de faixas informam os campeões no vestibular. Em alguns casos, frases como "você passa porque sabe", do Ari, soam provocativas. "Essa competição é cultural daqui de Fortaleza. Problema maior é ter muito marketing em cima", diz o estudante do 1.º ano de Direito Rodrigo Nóbrega, de 18 anos, ex-aluno do Ari de Sá.