O Ministério Público Federal do Ceará (MPF-CE) deve pedir hoje a anulação do Exame Nacional do Ensino Médio 2011, Enem, em todo o Brasil. O procurador Oscar Costa Filho, depois de receber denúncias de estudantes, descobriu que uma escola de ensino médio de Fortaleza, o Colégio Christus, tinha nas suas apostilas 13 questões idênticas às provas do Enem.

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Segundo o procurador, as mesmas questões do material didático do colégio estavam nas provas amarelas de sábado e domingo do Enem, sendo que no primeiro dia eram as 32, 33, 34, 46, 50, 57, 74, 87 e no segundo as 113, 180, 141, 173. "Como as redes sociais já estavam dando fotos desse material, não tivemos dúvidas e decidimos investigar", conta. Na noite de terça-feira (25), já era possível encontrar em páginas de estudantes no Twitter e no Facebook informações e fotos das apostilas.

O diretor do Colégio Christus, David Rocha, em defesa da instituição, divulgou uma nota nesta quarta-feira insistindo que o colégio não teve acesso às questões do Enem antes da prova. De acordo com a nota, a coincidência nas questões é causada por uma série de pré-testes feitos pelo próprio Ministério da Educação (MEC), realizado em diversas escolas de ensino médio do Brasil, para a aplicação da metodologia de correção das provas do Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI). A TRI é um esquema complexo para avaliar as habilidades de cada candidato que não depende apenas do número de acertos e erros do estudante, como nos vestibulares tradicionais, mas do nível de dificuldade de cada item. >>> Veja fotos das apostilas nas redes sociais:

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Segundo o esclarecimento do colégio, com "o pré-teste de questões utilizadas no ENEM, existe a possibilidade de que essas questões caiam no domínio público antes da realização oficial do exame, as quais eventualmente podem compor o banco de dados de professores e de outros profissionais da área de educação".

Em entrevista, David reafirmou que todas as questões passadas aos alunos da escola na sexta-feira, véspera do Enem 2011, saíram de um banco de dados da instituição de ensino no Ceará. Ele disse que esse banco é alimentado por alunos e ex-alunos do Christus. De acordo com Rocha, oito dessas questões são semelhantes a questões que caíram na prova do Enem e seis delas são absolutamente idênticas.

O diretor afirma que não sabe como as perguntas do exame de 2011 foram parar no banco de dados, mas que tudo será rastreado. "São oito questões semelhantes e seis questões idênticas. A escola não sabe como foram parar no aulão de sexta-feira, pois o banco de dados da escola é alimentado por alunos e ex-alunos que não se identificam. Mas vamos fazer o rastreamento de tudo", David. O diretor do colégio também comentou sobre as suspeitas de vazamento do tema da redação, "Viver em rede no século XXI". Uma aluna do Christus escreveu no Twitter que a escola "acertou" também o tema da redação. "O tema foi abordado pela escola mais de quatro vezes durante o ano. Era um tema até previsível e outras escolas também o abordaram", insiste Rocha.

MEC

O MEC disse que a prova do Enem dos 649 alunos do Colégio Christus, de Fortaleza, será cancelada. Apesar de negar o vazamento do exame, o MEC confirmou a antecipação de questões para estudantes da escola e acionou a Polícia Federal para esclarecer como isso ocorreu.

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De acordo com Nunzio Briguglio Filho , assessor especial do ministro Fernando Haddad, os candidatos da instituição de ensino poderão refazer a prova. "Estamos preparados para, no limite, cancelar a prova dos 639 do Christus, oferecer para eles a oportunidade de refazer a prova junto com os presídios e processar o dono da escola. As questões foram antecipadas. Não há como negar isso. A prova não vazou. Mas houve vazamento das questões para os alunos do Colégio Christus, o que é diferente. Como eles chegaram a isso é o mistério".

Questionado sobre a hipótese levantada pelo diretor do Colégio Christus de ter as questões num banco de perguntas, Filho foi categórico. "Isso é tão provável quanto uma vaca voar para a lua", compara.

Para o procurador Costa Filho, esse incidente é mais uma prova da inviabilidade de garantir a lisura do Enem. "É impossível proteger o bem público e evitar inconvenientes como esse em um exame com esse formato e de extensão nacional", considera.

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