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Educação

Três alunos do Paraná pedem revisão do Enem

Veja como são corrigidas as provas de redação do Enem |
Veja como são corrigidas as provas de redação do Enem (Foto: )

Três estudantes no Paraná recorreram ao Ministério Público Federal (MPF-PR) para conseguir a revisão de notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dois deles reclamam da correção da redação e o último da pontuação alcançada em outras provas. Até agora, 71 alunos no país obtiveram, por meio da Justiça Federal, o acesso à correção da prova de redação, dos quais 30 passaram por um processo de revisão. Desde o início das reclamações, dois estudantes conseguiram a alteração da nota.

A procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Antonia Lélia Sanchez, do MPF-PR, vai unir as representações paranaenses em um mesmo procedimento administrativo e enviar um ofício até o fim de janeiro para o Minis­­tério da Educação (MEC). A expectativa do MPF-PR, no entanto, é que essas petições sejam contempladas no requerimento feito à Justiça Federal pelo MPF-CE, no qual se pede que todos os candidatos da avaliação possam ver a correção da prova de redação.

O primeiro aluno que conseguiu a revisão da nota da redação é de São Paulo e teve a sua pontuação alterada de zero para 880. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio­­nais (Inep), o primeiro corretor argumentou "fuga do tema" e deu a nota zero. O segundo e o terceiro corretores deram a nota 880, mas a primeira pontuação acabou valendo. Após a avaliação de uma banca, o Inep admitiu o erro e reconsiderou a nota.

No segundo caso, um aluno de Minas Gerais teve a sua nota alterada de zero para 440 sem recorrer à Justiça. Ele telefonou para o 0800-616161, o canal de dúvidas do Inep, e fez a reclamação. O órgão reconheceu a falha e a sua causa. O aluno mineiro, no dia da prova, avisou ao fiscal da sala que o número do seu documento de identidade estava errado na folha de prova. O incidente foi registrado, mas acabou não sendo retificado no sistema.

Os problemas identificados com a correção das provas de redação não foram os únicos inconvenientes desta edição do Enem. Poucos dias após a aplicação da prova, o MPF-CE pediu a anulação do exame após descobrir que alunos do Colégio Christus, em Fortaleza, tiveram acesso a 13 questões da prova antecipadamente. A Justiça Fe­­deral determinou que 9 perguntas fossem anuladas para os 622 estudantes da instituição.

Comparação

Na opinião de especialistas, os inconvenientes verificados na correção das provas de redação do Enem se deram, principalmente, pela grandiosidade do exame, do qual participaram quatro milhões de estudantes brasileiros. Como acontece em vestibulares de outras universidades, espera-se que os corretores passem por um treinamento intensivo e o acompanhamento do seu trabalho.

Na Unicamp, por exemplo, um dos maiores vestibulares do Brasil, na primeira fase do vestibular desse ano 120 professores trabalharam mais de oito horas por dia durante duas semanas para corrigir cerca de 60 mil redações. "É um trabalho intenso, cansativo, com controle estatístico diário", explica Maurício Kleinke, coordenador executivo da Comvest, responsável pelo concurso.

Já se espera que a correção de uma prova de redação seja subjetiva, mas as drásticas mudanças nas notas dos alunos do Enem mostram, de acordo com Renato Casagrande, consultor educacional, que faltou um melhor acompanhamento de todo o processo. "Isso é um alerta para que o Inep reavalie a qualidade os seus procedimentos e a preparação dos seus corretores", conclui.

Exame é prematuro e precisa ser repensado

O Enem ainda não tem a estrutura necessária para cumprir o papel esperado pelo Ministério da Educação, o de provocar as mudanças necessárias para melhorar a qualidade do En­si­no Médio no Brasil. De acordo com especialistas, a adoção do sistema foi prematura e agora é preciso buscar soluções para os problemas logísticos e conceituais que envolvem o exame.

O primeiro inconveniente da prova é a sua extensão e conteúdo. "O Enem começou errado. Sendo uma prova classificatória, os candidatos deveriam saber qual é o seu programa. Como os currículos de Ensino Médio são prerrogativa dos estados, não do governo nacional, é impossível delinear um programa. Sendo assim, como fazer um concurso sem programa e comparar alunos com propostas de ensino diferentes?", pergunta Renato Ribas Vaz, diretor-geral do Curso Positivo.

Nesse cenário, segundo Ribas Vaz, o método de Teoria de Resposta ao Item (TRI), adotado pelo Inep para a correção das provas de múltipla escolha perde o sentido e abre espaço para encobrir erros. Pelo TRI, o peso das questões varia de acordo com o grau de dificuldade de cada uma delas e, portanto, pode ter melhor pontuação um aluno que tenha acertado me­­nos questões, desde que sejam classificadas como "mais difíceis". "Não dá para classificar questões como mais fáceis ou difíceis, não só porque os currículos são diferentes, mas também pela diversidade dos alunos", acrescenta.

Regionalização

Uma solução, tanto para as provas de múltipla escolha co­­mo para a de Redação, de acordo com Mozart Neves Ramos, Conselheiro do Todos da Edu­­cação, ex-pró-reitor acadêmico da Universidade Federal de Pernambuco e especialista em processos seletivos, seria regionalizar a prova. Com o exame descentralizado, os organizadores do Enem poderiam reduzir bastante a possibilidade de problemas logísticos e acompanhar melhor os processos, minimizando os inconvenientes.

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