Veja todas as obras exigidas pelo vestibular 2009/2010 da UFPR
- Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector;
- Dom Casmurro, de Machado de Assis;
- Leão-de-chacará, de João Antônio;
- Inocência, de Visconde de Taunay;
- Anjo Negro, de Nelson Rodrigues;
- O pagador de promessas, de Dias Gomes;
- São Bernardo, de Graciliano Ramos;
- Muitas Vozes, de Ferreira Gullar;
Reunião de 25 relatos curtos publicados semanalmente no Jornal do Brasil, em 1967, Felicidade Clandestina é considerado o livro mais autobiográfico de Clarice Lispector, reforçado pelo foco narrativo na primeira pessoa do singular. São crônicas independentes, mas há uma espécie de costura invisível entre elas que garante unidade e a ideia de um narrador constante.
O aluno que apenas lê o texto sem interpretá-lo subjetivamente pode ter problemas, já que o texto de Clarice não é objetivo e sua busca está no significado existencial do ser humano. A UFPR costuma testar os conhecimentos do vestibulando quanto ao contexto histórico da obra. Neste caso, o aluno deve estudar os traços do Modernismo e saber dimensionar Clarice Lispector na terceira geração, marcada pela reflexão, inovação estilística e o uso de metalinguagem.
GêneroContos
NarradorNarrativa em primeira pessoa do singular, recurso que por vezes mescla a noção de personagem e autor. Em alguns contos é possível identificar personagens como alter-egos de Clarice, como a menina do conto-título de Felicidade Clandestina.
Personagens principaisAinda que distintos em cada crônica, trazem características semelhantes. São tipos comuns, irrelevantes aos olhos da sociedade, em cenas corriqueiras do cotidiano. Entretanto, a autora valoriza seu momento interior e cristaliza seu processo de epifania revelação, descoberta diante de um acontecimento mínimo, mas capaz de transformar a perspectiva dos personagens. Apesar de minuciosamente descritos, sua descrição não é objetiva. Em Clarice, a descrição física é apenas um atalho para a descrição psicológica. Os personagens do livro não têm nome, o que gera maior identificação e provoca a catarse do leitor, que é capaz de sentir emoções de vivências que não são suas.
TempoAssim como o conteúdo analítico dos contos, o tempo também não é objetivo. O fluxo de consciência em Clarice Lispector torna embaçada a noção de tempo. No conto-título, sabe-se que o tempo é a infância, embora ao final a autora evidencie o processo de amadurecimento da protagonista. De forma geral, há uma percepção temporal alterada, já que a ação do conto pode ter se passado em poucos dias, mas tem-se a impressão de que o suplício da menina durou uma eternidade.
EspaçoA construção espacial é simples, retratando o cotidiano infantil de uma menina comum em Recife. Mas Stella Bello lembra: "Felicidade clandestina é uma obra metafísica, que rompe com os limites de espaço-tempo por meio do fluxo da consciência, característica que a autora explorou de várias formas, sempre mantendo uma estética própria."
Fonte: Stella Bello, Especialista em Literatura Brasileira e professora da disciplina no curso Dynâmico.
Veja um exemplo de questão:
(UFPR/2007) "As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias."(Os desastres de Sofia)
"(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: "Ah, esse leva uma vida de poeta". Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância, uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade."(Os obedientes)
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
1. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações freqüentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
2. O aspecto metalingüístico do primeiro fragmento não está presente em todos os contos, mas é fundamental para algumas narrativas, dentre as quais Os desastres de Sofia, que trata da complexa relação entre uma menina e o professor que a ajudou a perceber a força da palavra escrita.
3. Como em Os obedientes, também nas outras narrativas de Felicidade clandestina homens e mulheres passam por idênticas angústias. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.
4. O desfecho surpreendente do conto Os obedientes, com o suicídio da esposa, reforça a visão crítica dos narradores de Clarice Lispector sobre a rotina da vida doméstica, nunca observada como uma "vida de sonho".
5. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crianças e os adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.b) Somente as afirmativas 1, 2 e 5 são verdadeiras.c) Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são verdadeiras.d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.e) Somente as afirmativas 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.
Resposta: a)
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