A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Malvina Tuttman, disse na tarde desta terça-feira (12) durante palestra na 63ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia, que o governo cogita a possibilidade de encaminhar a redação corrigida a todos os candidatos que fizerem as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a partir do segundo semestre de 2012.
"O ministro [da Educação, Fernando Haddad] ainda tem que aprovar, e o Inep depende de maquinário pesado para isso", afirmou.
Malvina disse que o aluno tem o direito de rever a prova. "Estamos nos organizando para isso. Não sei se ainda este ano, mas certamente para 2012, porque precisamos de máquinas mais potentes. O participante receberá a redação em casa, e essa não é uma ideia que surgiu de repente, é um processo legítimo de aprendizado", explicou.
Avaliação
A presidente do Inep afirmou, ainda, que o Enem precisa ser revisto. "Esse é um processo válido e importante, mas não é um exame de acesso à universidade, mas de avaliação do ensino médio."
Se a prova vai continuar existindo daqui a 20 anos? "Não sei. Precisamos de formas mais democráticas, para que o acesso seja cada vez mais aberto a todos aqueles que desejam voltar ou dar continuidade ao sistema formal de ensino", respondeu Malvina.
Para prevenir novos problemas, o Inep contratou a empresa de gestão de riscos Módulo e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A primeira vai cuidar de todo o processo (desde a elaboração do edital até a logística) e o segundo ficará responsável por certificar a gráfica que vai imprimir as provas.
"A logística de aplicação tem se fortalecido. Este ano, 1.599 municípios receberão o exame em mais de 140 mil salas de aula", disse a presidente do Inep.
Falhas
Na opinião do reitor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Hélgio Trindade, é uma questão de estatística ocorrerem eventuais problemas de gráfica ou aplicação quando se trata de uma prova dessa dimensão.
"A logística é extremamente complexa e, por um ato involuntário ou acidental, uma coisa prejudica tudo. Acho que o Enem poderia ser pensado, no futuro, de forma mais regionalizada, para que o risco da grande concentração se diluísse de maneira mais racional. Temos que ser realistas, o custo disso hoje é enorme", afirmou.
Segundo Trindade, o ministro da Educação já sofreu muito desgaste em função de problemas com o Enem. "De hoje até o dia da realização, todos os santos terão que ser invocados para que não aconteça nada", ironizou.
O reitor da Unila também criticou a concentração da aplicação do exame nas mãos do consórcio Cespe/Cesgranrio. "A Cesgranrio é uma fundação privada que tem praticamente o monopólio da prova. Se ela fosse feita regionalmente, mais organizações estariam envolvidas, não apenas uma", defendeu.
As universidades federais já ajudam na elaboração das questões do Enem, mas querem uma participação mais ativa: os reitores presentes na palestra propuseram uma maior atuação na logística. O Inep acredita que concentrar tudo em uma única universidade não seja possível, mas uma rede de instituições pode ser uma saída.
Por outro lado, Trindade destacou que, do ponto de vista conceitual, o Enem foi um avanço extraordinário para avaliar a maturidade e a capacidade dos estudantes de cursar o ensino superior. "Ele tem um papel na inclusão social e leva em consideração a capacidade de pensar de forma mais complexa do que fazem vestibulares e cursinhos, pois neles o conhecimento se perde e o aluno esquece tudo no fim do ano", disse. O exame, portanto, não mede memorização, mas aquilo que cada um carrega dentro de si, concluiu o reitor da Unila.
Datas
As provas do Enem serão aplicadas em 22 e 23 de outubro em 12 mil locais e 140 mil salas de aula. Cerca de 5,4 milhões de estudantes estão inscritos para esta edição.
O Inep já marcou outro Enem para o primeiro semestre do ano que vem, nos dias 28 e 29 de abril.
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