Nervosismo
Estudantes dizem que confusão atrapalhou
O estudante Gabriel dos Santos, 20 anos, não está entre os candidatos que responderam às questões da prova amarela, no sábado, e não teria direito a refazer o exame. Gabriel, no entanto, se sentiu prejudicado, já que a tensão tomou conta da sala onde respondia à prova. Ele conta que um rapaz discutiu com um fiscal, que o mandou "procurar seus direitos".
"Isso desanima, desestimula. Você se prepara o ano todo e depois fica se perguntando se vale a pena fazer o Enem", diz Gabriel, que quer cursar Medicina. "Tento não pensar nisso e me focar no vestibular."
Na sala onde a estudante Carla Cristina da Silva, 30 anos, fez o Enem, o desconforto foi maior. Ela recebeu a prova amarela e conta que, ao ser alertada do problema, uma pessoa que não era o fiscal responsável pela sala ordenou a todos que parassem de resolver as questões. "Ficamos parados por 15 minutos. Depois, nos disseram para continuar. Naquele momento, todo mundo estava nervoso e ninguém conseguia se concentrar", conta. "Tem de ter outra prova porque a maioria acabou sendo prejudicada."
Já Monique Konrad, 17 anos, avalia que o Enem deveria deixar de existir como processo seletivo para universidades federais. "Tudo o que está acontecendo é uma vergonha", diz a estudante, que vai tentar uma vaga para Ciências Contábeis na UFPR e outra para Sistemas de Informação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). "Antes, quando o Enem servia só para avaliar o ensino médio, não era essa bagunça toda. Isso tem que acabar". (TD e VP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, se for preciso, o governo fará uma nova prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Aplicado no último fim de semana para 3,3 milhões de estudantes, o exame apresentou erros de impressão nas folhas de resposta e nas provas aplicadas no sábado. Vinte e um mil cadernos de prova amarelos não continham todas as 90 questões aplicadas. Uma estimativa preliminar do Ministério da Educação (MEC) é que cerca de 2 mil alunos fizeram a prova incompleta.
"Nenhum jovem vai ficar sem cursar a universidade. Se for necessário fazer uma prova, faremos. Se for necessário fazer duas, faremos. Se for necessário fazer três, faremos, mas o Enem continuará a ser fortalecido", disse Lula antes de embarcar em Moçambique, na África, para a Coreia do Sul. Na segunda-feira, Lula descartou a aplicação de nova prova e disse que o Enem tinha sido "um sucesso".
Na terça-feira, o ministro da Educação, Fernando Haddad, descartou a necessidade de anular o Enem. Mas a juíza Karla de Almeida Miranda Maia, da 7.ª Vara Federal, no Ceará, determinou a suspensão do exame em todo o país. Ontem, o procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, que havia pedido a suspensão, pediu o cancelamento do Enem. Haddad será ouvido no dia 17 pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
Efeito dominó
Professores ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que os estudantes prejudicados devem ter nova chance. Segundo o professor de Biologia do Curso Pré-Vestibular Acesso Augusto Borba o assunto é comentado pelos alunos. "Eles afirmam que o barulho e a tensão deixou todo mundo nervoso. Isso põe em risco a preparação de um ano inteiro", diz.
Para Marlus Geronasso, do curso preparatório para o Enem do Grupo Uninter, a falta de preparo dos fiscais aumentou o problema. "As reclamações em relação à prova também desviavam a atenção, causavam um efeito dominó que perturbava a sala". Geronasso, no entanto, não concorda com o cancelamento geral. "Geraria uma série de questionamentos, como, por exemplo, em relação a estudantes que perderam a prova, e atrasaria a correção da redação".
O coordenador do curso de Direito da Universidade Tuiuti, Philip Gil França, diz que a anulação se impõe pelo princípio da igualdade. "Não importa se houve falha de segurança ou de impressão. O Estado impõe uma obrigação ao cidadão, fazer uma prova para ir à universidade. Deveria se começar o exame de novo".
A psicopedagoga Sabrina Gelhorn explica que episódios como esse podem causar insegurança e até "brancos". "Só de saber que algo está errado com a prova do colega, você já se desestrutura. O lado emocional conta muito", afirma. Ela também defende uma nova prova para todos os alunos. "Cada um conhece suas dificuldades. Se o aluno sente que foi prejudicado pelo erro de terceiros, deve ter o direito de fazê-la novamente".
Estudantes estão se mobilizando por meio de redes sociais para pedir mais seriedade no Enem. A linha telefônica para queixas criada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) já recebeu mais de 800 ligações. Em Curitiba, haverá uma manifestação amanhã pela manhã, na Praça Osório. Pelo menos 83 instituições públicas de ensino superior, entre universidades federais, estaduais e institutos federais, utilizarão o exame em seus processos seletivos para o primeiro semestre de 2011.
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