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Qual o interesse de Merleau-Ponty (1908-1961) na discussão entre Einstein (1879-1955) e Bergson (1859-1941) sobre a unidade ou multiplicidade do tempo? E o que isso tem a ver com a crise da razão? No primeiro parágrafo o autor nos esclarece sobre um primeiro momento dessa crise quando afirma que o positivismo procurou transformar a ciência numa espécie de religião por meio da qual seria possível compreender todos os domínios da existência com absoluta clareza. Será que foi isso que ocorreu? Será que a ciência nos livrou do drama existencial concernente a nossa condição de ser no mundo? Parece que não, pois cada vez mais nos embrenhamos numa ampla gama de conceitos científicos e filosóficos que por mais que tenham gerado certos avanços nas mais diversas áreas, no que se refere à explicação do mundo objetivamente não alcançaram muito sucesso.

A reflexão sobre um segundo momento dessa crise da razão se dará por meio da investigação da noção de tempo, o qual Einstein considera plural desde sua teoria da relatividade e que Bergson, contrariamente, tenta afirmar como sendo único. O cientista colocou em xeque a física newtoniana que prescrevia o espaço e o tempo como sendo absolutos quando postulou que a velocidade da luz é constante no vácuo independentemente da velocidade da fonte ou do receptor. A consequência disso é que o tempo pode se retrair ou distender-se conforme o sistema de referência.

Mas, Bergson argumenta que talvez essa seja uma maneira exclusivamente física de compreender o tempo e que na sua essência só existe um tempo válido para todos. Porém, o cientista não foi capaz de aceitar a ideia de que o tempo do filósofo é o mesmo que o do físico e preferiu acreditar que sua análise científica é a única verdadeira e confiável, por mais que ele soubesse que o tempo percebido está no início dos postulados científicos.

Esse fato reintroduz uma crise da razão, pois, toda vez que tentarmos definir o mundo a partir de uma linguagem científica em detrimento de uma noção intuitiva vivida estaremos fadados a viver em um lugar que "além dos neuróticos, conta com bom número de ‘racionalistas’ que são um perigo para a razão viva." A intenção do texto parece estar relacionada ao apontamento de uma espécie de superação de um primeiro momento da crise da razão, a qual se caracteriza pelas promessas não cumpridas do iluminismo e do positivismo tardio, pela física especulativa de Einstein.

Porém, na medida em que o físico abre mão da experiência perceptiva do tempo, não considerando as admoestações de Bergson, uma nova crise tende a se instaurar e a ciência retorna ao ambiente de suas pretensões absolutas. De acordo com Merleau-Ponty a crise da razão só poderá ser definitivamente superada quando a expressão científica do mundo for recolocada em sua "ordem, em seu lugar no todo do mundo humano."

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