Se o Vestibular da Gazeta do Povo fosse um estudante de Engenharia ou Direito, ele estaria se formando neste mês, quando completa 5 anos dentro do "mundo universitário". O caderno semanal da Gazeta do Povo surgiu em julho de 2006 e de lá para cá muita água já rolou.
A Filosofia entrou no vestibular da UFPR, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) virou prova de seleção unificada e o Paraná ganhou uma nova universidade federal, a Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Depois de todo esse tempo, o Vestibular também vai passar por transformações.
Assim como centenas de alunos que apareceram nas nossas matérias, o suplemento (hoje também em site, blog e Twitter) está amadurecendo e passando para uma nova fase da sua vida. A partir da semana que vem, em 1.º de agosto, passa a se chamar "Vida Universitária", com reportagens que mostrarão o que ocorre também depois da aprovação.
Antes de apresentarmos o que virá pela frente, entretanto, é preciso mostrar como essa história começou. Em 2006, a Gazeta do Povo decidiu falar de forma mais direta com o público jovem e adolescente. Foi quando surgiu o caderno Vestibular. "Havia uma lacuna editorial no tocante a um material voltado especificamente para o jovem que estava em vias de entrar no ensino superior. Dessa forma, com o apoio de estabelecimentos de ensino, em particular dos cursinhos, foi possível viabilizar um produto único na imprensa paranaense, com conteúdo educativo e informativo com o propósito de ser uma ferramenta a mais de preparação para o vestibular", afirma Nelson Souza Filho, idealizador do caderno e atualmente coordenador do Conselho Editorial da Gazeta do Povo.
Logo nas primeiras edições, uma mudança importante na seleção da Universidade Federal do Paraná surpreendeu os estudantes e marcou presença nas páginas do suplemento. Faltando menos de seis meses para as provas, a UFPR anunciou que incluiria questões discursivas de Filosofia, na segunda fase do concurso, para os candidatos de Direito e Medicina. Até então os vestibulandos de Medicina faziam prova de Química e Biologia, disciplina substituída pela Filosofia. Na época, a reportagem conversou com dois candidatos ao curso mais concorrido da instituição: Mayara Santarem e Marcelo Keiji Saito. Como o mundo dá voltas e mais voltas, no ano passado a Biologia voltou e a Filosofia saiu do rol de conteúdos obrigatórios para os vestibas de Medicina.
A grande mudança na vida dos estudantes, porém, veio com a reformulação do Enem, em 2009. A prova, que até aquele momento tinha como principal finalidade avaliar a qualidade do ensino médio no país, substituiu o vestibular de várias instituições públicas de ensino superior. O Ministério da Educação criou uma ferramenta on-line, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para selecionar os candidatos. A partir dele, alunos de todas as partes do país tiveram a chance de disputar as vagas sem precisar sair da sua cidade, apenas com a nota do Enem.O formato do exame também mudou: até 2009 ele tinha 63 questões e uma redação. No novo modelo, o número de perguntas subiu para 180 e o Enem foi dividido em quatro provas: Linguagens (incluindo Português e Língua Estrangeira), Matemática, Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Ciências da Natureza (Biologia, Química e Física).
Mas não foram só as mudanças que marcaram presença nas páginas do Vestibular. O vazamento da prova em 2009 e a falha de impressão em 2010 foram acompanhados pelos vestibas, que puderam ver o desenrolar da história e deixar suas opiniões sobre as confusões. Confira a trajetória de alguns estudantes que ajudaram a fazer a nossa história:
Carreira promissora
Ele queria uma vaga no Insituto Rio Branco para se tornar um diplomata. No dia 7 de abril de 2008, Bráulio Augusto Breidenbach Pupim, 29 anos, apareceu nas páginas do caderno Vestibular contando como estava se preparando para um dos concursos mais difíceis do país. Depois de estudar por própria conta e de fracassar em dois concursos, Bráulio se mudou para Brasília, com o apoio da família. "Fui morar em um quarto alugado, com despesas as menores quanto possíveis para uma das cidades mais caras do país, e com o objetivo de estudar como nunca em minha vida.
A orientação recebida do cursinho e a companhia de pessoas que tinham o mesmo objetivo acabaram fazendo a diferença, e consegui passar no concurso em 2009. Como funcionário do Ministério das Relações Exteriores a perspectiva mudou, e espero cumprir bem meu papel ao mesmo tempo em que busco minha realização pessoal", diz. Bráulio mora na Guatemala desde março deste ano, trabalhando na Embaixada brasileira. "Tenho aprendido muito, tanto profissionalmente, como a respeito de mim mesmo", conta.
Um primeiro lugar
Ele era apenas mais um vestiba que queria entrar na UFPR quando foi clicado para a matéria "Um simulado sem surpresas", de 10 de agosto de 2009. Dois anos depois, Vinícius Boese, 20 anos, que havia acabado de fazer o primeiro simulado divulgado pelo Inep para o novo Enem, tem histórias boas pra contar. Aprovado em primeiro lugar em Engenharia Cartográfica da Federal, ele agora está às voltas com o mundo da universidade.
"Estou no primeiro período e tive que mudar bastante minha rotina, principalmente a de estudos. Na Universidade não tem ninguém para dizer o que tem que estudar, é o aluno que corre atrás da matéria", diz. A maturidade também o acompanha. Apesar de não recusar as baladas, ele conta que a universidade oferece muito mais que diversão. "São muitos cursos e experiências que ajudam na formação e que com certeza ajudarão futuramente na profissão", diz.
Da Medicina para a MatemáticaMarcelo Keiji Saito, 25 anos, foi entrevistado em 2007. Naquela época ele queria prestar vestibular para Medicina, mas não pretendia clinicar e, sim, tornar-se um pesquisador. Depois de conversar com professores, descobriu que havia outras formas de desenvolver pesquisas na área médica, por isso optou pela Matemática. Atualmente está no último ano do curso de licenciatura em Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e pretende começar um mestrado.
"Quero utilizar a matemática para desenvolver pesquisas na área de Neurologia", afirma. Para quem está se perguntando "o que uma coisa tem a ver com a outra?", o estudante explica: "A matemática pode ser aplicada a todas as áreas. Como um médico, por exemplo, sabe que quantia de medicação dar ao paciente? Normalmente é preciso fazer cálculos com base na massa do indivíduo. Existem diversas ferramentas matemáticas para prever com certa precisão um determinado acontecimento", diz. Além de estudar, Marcelo trabalha com estatísticas no Centro Marista de Defesa da Infância e da Adolescência.
Futura cirurgiã pediátricaEm maio de 2007, Mayara Santarem de Oliveira, então com 18 anos, preparava-se para o vestibular de Medicina da UFPR e foi entrevistada sobre a inclusão da Filosofia no concurso. No fim daquele mesmo ano, depois de três pré-vestibulares, foi aprovada. "Eu fazia pré-vestibular de manhã e ficava no cursinho a tarde inteira. Estudava umas cinco ou seis horas, de segunda a sexta-feira. Descobri que tinha de ficar completamente concentrada e, quando estava fora dali, me desligar completamente", lembra Mayara, que hoje está no 4º ano da graduação.
Nos primeiros meses de universidade, o alívio por deixar o cursinho era tão grande que ela "relaxou". O alerta veio no fim do semestre. "A faculdade exige demais. Para conseguir uma nota 7 você tem de estudar muito. Mas deu tudo certo, não reprovei em nada", diz. Quando concluir o curso, pretende fazer residência em cirurgia pediátrica. Serão mais cinco anos de estudo: dois de cirurgia geral (pré-requisito para a formação) e três de cirurgia pediátrica.
Com você
Ao longo dos cinco anos, o Vestibular ganhou um site e um blog, o Língua Solta, além de entrar para o Twitter. A equipe também passou a acompanhar ao vivo o Papo Universitário, que promove debates sobre temas em evidência na atualidade, e promoveu a competição Caça ao Conhecimento, que envolveu cerca de 400 estudantes em 2009.