Escolher uma profissão porque dá status e paga bem pode ser atraente, mas também arriscado. Cada tempo tem uma moda e uma carreira que hoje oferece salários altos não será necessariamente uma boa opção no futuro. Mesmo assim, dinheiro e prestígio social costumam pesar na decisão dos estudantes. "Muitos atores interferem na escolha do adolescente. Mas o prestígio social sem dúvida é o mais importante. O jovem vê as pessoas bem sucedidas e se motiva. Ninguém vai querer trabalhar muito e ganhar pouco", afirma o psicólogo e conselheiro vocacional Flávio Pereira.
Uma pesquisa com 1.417 alunos da 7ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, feita no ano passado pela Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática, mostrou que 27,93% dos estudantes escolhem a profissão em função do salário. Para 31,70%, a decisão é tomada pensando em obter prazer e felicidade e 30,39% escolhem uma carreira em que possam usar habilidades e interesses que possibilitem gostar do trabalho. "Os adolescentes são extremamente consumistas. É a geração do ter, do prazer imediato. E isso se reflete no momento da escolha. Eles não encaram a escolha profissional como uma missão de vida", explica a psicóloga Selena Garcia Greca, especialista em orientação profissional e coordenadora da pesquisa.
Ela afirma que quando há paixão pela carreira e comprometimento com o curso as chances de conseguir um bom salário se tornam maiores. "Você não precisa priorizar o bom salário agora, ele pode ser uma consequência. Um aluno que não está motivado não vai desenvolver as competências que o mercado exige", alerta. Selena lembra ainda que é possível complementar um curso que em tese não ofereça uma boa remuneração com uma outra faculdade, expandindo as possibilidades de atuação profissional. "Os jovens não podem parar de estudar. Tenho alunos fazendo Jornalismo e Relações Internacionais. Essa pode ser uma tendência."
Reflexão
O ponto de partida de uma escolha responsável é descobrir quais são os seus interesses e as suas habilidades. Segundo o psicólogo Flávio Pereira, muitas vezes o jovem não apresenta nem ao menos os padrões físicos exigidos pela carreira. Ele cita o caso de um paciente que sonhava em ser piloto da Aeronáutica, mas durante o aconselhamento vocacional descobriu que não poderia seguir a carreira por apresentar problemas de visão, altura e sobrepeso. "Na minha faculdade, via colegas assumindo postura de psicanalistas, usando barba e fumando cachimbo, mas sem as mínimas condições de exercer a profissão. Alguns tinham até esquizofrenia", exemplifica.
Depois de conhecer a si mesmo, há pelo menos mais dois elementos que devem ser levados em conta: a vida universitária e a rotina profissional. Para ser bancário, por exemplo, muitas vezes é preciso estar disposto a enfrentar mudanças sucessivas de cidade no início da carreira. Da mesma forma, a vida de jornalista não é sempre uma aventura. Daniel Khim Cho, 18 anos, seguiu todos os passos recomendados pelos especialistas antes de fazer a sua decisão. No segundo ano do ensino médio ele começou um processo de orientação profissional oferecido pelo Curso Dom Bosco. O programa ajudou o estudante a descobrir suas habilidades e as áreas do conhecimento com que tinha mais afinidade.
Além disso, Daniel conversou com profissionais e visitou locais onde poderia trabalhar no futuro. "Eu escolhi profissões em que achei que tinha chances de me dar bem; não me preocupei com o mercado de trabalho", diz ele, que neste ano vai começar dois cursos: Administração, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Publicidade e Propaganda, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Por vontade dos pais, o estudante também prestou vestibular para Direito. Mas essa é outra história, que fica para a próxima semana, quando o Vestibular mostrará como a família e amigos podem influenciar a escolha do vestiba.
Escolha profissional
A dúvida sobre o que ser quando "crescer" também persegue quem já cresceu. O próprio Flávio Pereira, conselheiro profissional que dá dicas nessa reportagem, "errou" duas vezes antes de encontrar uma carreira que combinasse com ele.
"A dúvida vocacional segue a pessoa do início da adolescência até o fim da vida", afirma. Conheça histórias de pessoas que não tiveram medo de recomeçar:
História por Direito
Os baixos salários fizeram com que Bernardo Bechtlufft, 24 anos, trocasse a carreira de professor de História por um emprego público, no Tribunal de Justiça do Paraná, e começasse uma nova graduação. Ele está no 6º período do curso de Direito do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba). "Tive de pensar no que seria mais vantajoso em termos profissionais: investir em um mestrado numa carreira pela qual sou apaixonado ou iniciar outro curso. Fica um pouco do sentimento de frustração por não ser professor, mas ainda penso em algum dia conciliar as duas áreas, dando aulas de História do Direito em uma universidade", afirma.
Ele diz que se empenhou durante todo o curso de História, envolvendo-se com projetos acadêmicos e participando de um intercâmbio para uma universidade do Chile. Mas o salário foi sempre insuficiente. Apesar das dificuldades, Bernardo não se arrepende da decisão que tomou quando fez o primeiro vestibular. "Foi algo certo naquele momento. Aos 17 anos, eu nunca tentaria Direito. O curso de História me auxilia muito e o fato de eu ser formado me deu maturidade para começar a nova faculdade", diz.
Informática por Medicina
Mesmo com um emprego bem remunerado em um banco importante, Raul Mendes Martins, 28 anos, preferiu pedir as contas e abandonar o curso de Tecnologia em Informática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). "Entrei no banco como estagiário e fui contratado quando estava no 5º período do curso de Informática. O salário na época era atrativo, deu para comprar o meu carro e juntar dinheiro", conta.
Ele havia acabado de receber uma promoção quando começou um cursinho para disputar uma vaga no concorrido curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Como não passou, resolveu sair do trabalho se dedicar exclusivamente ao vestibular. Deu certo. Hoje Raul está no 5º ano de Medicina. "Eu não sabia bem o que queria, mas sabia que não queria continuar onde eu estava", afirma.
Educação Física e Direito
Aos 24 anos, Emerson Handa, hoje com 27, estava formado, pós-graduado e com todos os horários tomados pela atuação como personal trainer e instrutor de academia. No currículo, exibia também trabalhos em Portugal. Foi quando sentiu que deveria buscar um novo desafio profissional. "A educação física valoriza o profissional que é jovem. Percebi que a longo prazo a carreira não seria viável Quando eu tiver mais de 50 anos, por exemplo, é provável que eu não tenha pique para dar um treino de corrida", explica. A preocupação com o futuro fez com que Hemerson começasse o curso de Direito. No momento, ele continua trabalhando como personal trainer, mas a intenção é terminar o curso e migrar para a nova carreira.
Fique ligadoNas próximas edições, o Vestibular continuará tratando deste tema. No dia 14 o foco é a influência de pais e amigos na decisão do vestiba. Na outra semana, dia 21, será a vez de falar sobre onde os estudantes podem buscar informações. Se você tem dicas e sugestões escreva para o vestibular@gazetadopovo.com.br. Participe!
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