Perfil
Formação rápida e voltada para o mercado
Os técnicos são cursos de nível médio indicados para quem não deseja continuar os estudos em uma graduação ou pretende ingressar rapidamente no mercado de trabalho. "Existem estudantes que primeiro fazem um curso técnico e garantem a colocação no mercado de trabalho, para depois iniciarem uma graduação, quando já conseguem se sustentar. Temos hoje no país uma necessidade maior de técnicos do que de engenheiros", afirma o diretor de educação profissional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Ricardo Karvat. A instituição oferece 15 cursos técnicos, cinco deles em Curitiba. Segundo Karvat, a concorrência no processo seletivo para os cursos da capital paranaense fica em torno de 20 candidatos por vaga.
Os cursos técnicos podem ser feitos posteriormente ou de forma integrada ao ensino médio. No Paraná, 286 escolas públicas e 83 particulares oferecem esse tipo de formação. Os estabelecimentos privados respondem por 20.816 matrículas nos cursos técnicos, 36,37% do total no estado. As mensalidades variam conforme a instituição e o tipo de curso técnico ofertado. Os técnicos subsequentes ao ensino médio, com duração de aproximadamente um ano e meio, variam de R$ 250 a R$ 400. As mensalidades dos técnicos concomitantes ao ensino médio, por sua vez, podem passar de R$ 700. (MC)
Opções
Atualmente existem três modalidades de cursos técnicos. Veja quais são:
Curso Técnico Integrado
Voltado aos estudantes que concluíram o ensino fundamental (8ª série). Nessa modalidade, o aluno cursa simultaneamente as disciplinas do ensino médio e as disciplinas da formação técnica profissional. Normalmente dura três anos.
Curso Técnico Subsequente
Também chamado de pós-médio, é direcionado a estudantes que concluíram o ensino médio e buscam a formação profissional. A duração média é de dois anos.
Curso Técnico Concomitante
Segue o mesmo princípio dos cursos técnicos integrados. A única diferença é que o estudante cursa as disciplinas do curso técnico e as do ensino médio de forma independente.
Fonte: Luiz Gonzaga Alves de Araújo, reitor do Instituto Federal do Paraná.
Anunciado há alguns dias pela presidente Dilma Rousseff, o Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec) nem bem nasceu e já encontra inúmeros desafios pela frente. Entre eles, o de evitar a reprodução de problemas do Programa Universidade para Todos (ProUni), no qual se espelha, é provavelmente o maior, alertam especialistas. Com lançamento previsto para março, o programa tem como principal objetivo ampliar o acesso de jovens do ensino médio e de trabalhadores à educação profissional. Para isso, contará tanto com a concessão de bolsas quanto com o financiamento estudantil, em que os estudantes devem restituir o valor custeado pelo governo após o término do curso.Os detalhes sobre as regras e a operacionalização do Pronatec serão conhecidos apenas no mês que vem, segundo a assessoria do Ministério da Educação. Não se sabe, por exemplo, quantas bolsas serão concedidas, qual será a porcentagem de descontos ofertados, como será a seleção dos candidatos e quais modelos de curso serão oferecidos. Mesmo assim é possível prever os obstáculos.
Para Juca Gil, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador na área de financiamento da educação, o sucesso do Pronatec pode esbarrar na dificuldade de controle da qualidade dos cursos, assim como ocorreu com o ProUni. "No ProUni não há uma avaliação prévia para saber se o curso que entra no programa é de boa qualidade. Depois é que analisam a graduação. Mas, se ela for mal avaliada, não é possível cortar a bolsa do aluno de uma hora para outra", afirma. A legislação do ProUni prevê que o curso com duas notas baixas consecutivas no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) seja descredenciado. Como a avaliação ocorre de três em três anos, o processo é demorado e os estudantes podem se formar em cursos de baixa qualidade.
"O ProUni expandiu quantitativamente o número de vagas para a população de baixa renda, o que é positivo. Por outro lado, acho exagero dizer que foi um sucesso", avalia Gil, referindo-se claramente às palavras da presidente Dilma Rousseff, que, em pronunciamento feito em cadeia nacional de rádio e televisão, anunciou que levaria ao ensino técnico a "bem-sucedida experiência" do ProUni. Ele considera ainda que as vagas do Pronatec devem ser criadas em áreas consideradas estratégicas pelo governo e que atendam às demandas do mercado de trabalho.
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, diz que a entidade apoia o ProUni, mas ainda não tem uma posição formal quanto ao Pronatec. Por outro lado, ele avalia que o governo federal deveria investir prioritariamente no fortalecimento da educação pública. Se for estruturado nos moldes do Programa Universidade para Todos, o Pronatec oferecerá bolsas em troca de isenções fiscais concedidas às instituições de ensino particulares. "Achamos que qualquer discussão nesse sentido precisa ser precedida sobre o que fazer com o ensino público. Medidas como o Pronatec e o ProUni devem ser paralelas e não estruturantes [em um programa de expansão do ensino]", afirma.
Além da mensalidade
Para Cristina Helena Almeida de Carvalho, doutora em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o ProUni mostrou que não basta bancar as mensalidades escolares para garantir a permanência do estudante até o fim do curso. Ela ressalta que muitos alunos dependem também de serviços de assistência estudantil, como auxílio-moradia e alimentação, normalmente concedidos apenas pelas universidades públicas. Desde 2005, o ProUni oferece uma ajuda de R$ 300 para estudantes que recebem bolsa integral e estão em cursos com pelo menos seis horas diárias de aula. Na avaliação de Cristina, porém, o benefício é muito restritivo, pois não contempla os estudantes de cursos noturnos.
Embora tenha sido beneficiada pelo ProUni e ressalte a sua importância, a estudante Eriane Pacheco, 22 anos, concorda que faltam medidas de assistência estudantil. "Faço Psicologia na Universidade Luterana do Brasil e ganho bolsa integral. Mas não tenho direito à bolsa permanência, só os alunos dos cursos com carga horária maior, como Medicina e Engenharia. Esse é um ponto que precisa ser revisto, porque qualquer curso demanda muito tempo do estudante", afirma. "Não sei como o Pronatec vai ser regulamentado. Mas, se for como o Prouni, precisará ser aperfeiçoado", diz.
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