1. A Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desenvolveu o projeto "Comunidades Negras de Santa Catarina", que tem como objetivo preservar a memória do povo afrodescendente no sul do País. A ancestralidade negra é abordada em suas diversas dimensões: arqueológica, arquitetônica, paisagística e imaterial. Em regiões como a do Sertão de Valongo, na cidade de Porto Belo, a fixação dos primeiros habitantes ocorreu imediatamente após a abolição da escravidão no Brasil. O Iphan identificou nessa região um total de 19 referências culturais, como os conhecimentos tradicionais de ervas de chá, o plantio agroecológico de bananas e os cultos adventistas de adoração.
Disponível em: . Acesso em: 1 jun. 2009. (com adaptações).
O texto acima permite analisar a relação entre cultura e memória, demonstrando que
(A) as referências culturais da população afrodescendente estiveram ausentes no sul do País, cuja composição étnica se restringe aos brancos.
(B) a preservação dos saberes das comunidades afrodescendentes constitui importante elemento na construção da identidade e da diversidade cultural do País.
(C) a sobrevivência da cultura negra está baseada no isolamento das comunidades tradicionais, com proibição de alterações em seus costumes.
(D) os contatos com a sociedade nacional têm impedido a conservação da memória e dos costumes dos quilombolas em regiões como a do Sertão de Valongo.
(E) a permanência de referenciais culturais que expressam a ancestralidade negra compromete o desenvolvimento econômico da região.
2. O tráfico de escravos em direção à Bahia pode ser dividido em quatro períodos:
1.o O ciclo da Guiné durante a segunda metade do século XVI;
2.o O ciclo de Angola e do Congo no século XVII;
3.o O ciclo da Costa da Mina durante os três primeiros quartos do século XVIII;
4.o O ciclo da Baía de Benin entre 1770 e 1850, estando incluído aí o período do tráfico clandestino.
A chegada dos daomeanos (jejes) ocorreu nos dois últimos períodos. A dos nagô-iorubás corresponde, sobretudo, ao último. A forte predominância dos iorubás na Bahia, de seus usos e costumes, seria explicável pela vinda maciça desse povo no último dos ciclos.
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX. Tradução de Tasso Gadzanis. São Paulo: Corrupio, 1987. p. 9. (com adaptações).
Os diferentes ciclos do tráfico de escravos da costa africana para a Bahia, no Brasil, indicam que
(A) o início da escravidão no Brasil data do século XVI, quando foram trazidos para o Nordeste os chamados "negros da Guiné", especialistas na extração de ouro.
(B) a diversidade das origens e dos costumes de cada nação africana é impossível de ser identificada, uma vez que a escravidão moldou os grupos envolvidos em um processo cultural comum.
(C) os ciclos correspondentes a cada período do tráfico de diferentes nações africanas para a Bahia estão relacionados aos distintos portos de comercialização de escravos.
(D) o tráfico de escravos jejes para a Bahia, durante o ciclo da Baía de Benin, ocorreu de forma mais intensa a partir do final do século XVII até a segunda metade do século XVIII.
(E) a escravidão nessa província se estendeu do século XVI até o início do século XVIII, diferentemente do que ocorreu em outras regiões do País.
3. (Foto 1)O desenho do artista uruguaio Joaquín Torres-García trabalha com uma representação diferente da usual da América Latina. Em artigo publicado em 1941, em que apresenta a imagem e trata do assunto, Joaquín afirma:
"Quem e com que interesse dita o que é o norte e o sul? Defendo a chamada Escola do Sul por que na realidade, nosso norte é o Sul. Não deve haver norte, senão em oposição ao nosso sul. Por isso colocamos o mapa ao revés, desde já, e então teremos a justa ideia de nossa posição, e não como querem no resto do mundo. A ponta da América assinala insistentemente o sul, nosso norte".
TORRES-GARCÍA, J. Universalismo constructivo. Buenos Aires: Poseidón, 1941. (com adaptações).
O referido autor, no texto e imagem acima,
(A) privilegiou a visão dos colonizadores da América.
(B) questionou as noções eurocêntricas sobre o mundo.
(C) resgatou a imagem da América como centro do mundo.
(D) defendeu a Doutrina Monroe expressa no lema "América para os americanos".
(E) propôs que o sul fosse chamado de norte e vice-versa.
4. Figuram no atual quadro econômico mundial países considerados economias emergentes, também chamados de novos países industrializados. Apresentam nível considerável de industrialização e alto grau de investimentos externos, no entanto as populações desses países convivem com estruturas sociais e econômicas arcaicas e com o agravamento das condições de vida nas cidades. As principais economias emergentes que despertam o interesse dos empresários do mundo são: Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC). Tais países apresentam características comuns, como mão-de-obra abundante e significativas reservas de recursos minerais.
Diante do quadro apresentado, é possível inferir que a reunião desses países, sob a sigla BRIC, aponta para
(A) um novo sistema socioeconômico baseado na superação das desigualdades que conferiam sentido à ideia de Terceiro Mundo.
(B) a razoabilidade do pleito de participarem do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
(C) a melhoria natural das condições sociais em decorrência da aceleração econômica e da redução dos níveis de desemprego.
(D) a perspectiva de que se tornem, a médio prazo, economias desenvolvidas com uma série de desafios comuns.
(E) a formação de uma frente diplomática com o objetivo de defender os interesses dos países menos desenvolvidos.
5. (Foto 2)Normalidade II Quino
Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2009.
"Eu não vou mais precisar de muita força, vou usar todas as que tenho agora" ele pensou. E ele se lembrou das moscas que rebentam suas perninhas ao tentarem escapar do mata-moscas.
KAFKA, Franz. O processo. Porto Alegre: L & PM Pocket, 2007. p. 258. (Fragmento).
O Controle Social pode ser tomado como um conjunto de penalidades e aprovações, chamadas também de sanções. Estas são aplicadas aos indivíduos pela sociedade para assegurar a conformidade das condutas aos modelos estabelecidos. A imagem e o texto destacam aspectos relativos
(A) à garantia de liberdade coletiva pelo uso da força.
(B) aos anseios idealistas utópicos perante as convenções sociais.
(C) à natureza imitadora da maioria dos indivíduos diante das instituições sociais.
(D) à possibilidade de reação e reversão de processos condicionantes.
(E) às relações de poder presentes nas sociedades.
6. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de enunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. [...] Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.
VARGAS, Getúlio. Carta Testamento, Rio de Janeiro, 23/08/1954 (fragmento). Disponível em: . Acesso em: 26 jun. 2009.
O contexto político tratado refere-se a um significativo período da história do Brasil, o 2º Governo de Vargas (1951-1954), que foi marcado pelo aumento da infiltração do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) nos sindicatos e pelo distanciamento entre Getúlio e os militares que o haviam apoiado durante o Estado Novo. O conteúdo da carta testamento de Getúlio aponta para a
(A) existência de um conflito ideológico entre as forças nacionais e a pressão do capital internacional.
(B) tendência de instalação de um governo com o apoio do povo e sob a égide das privatizações.
(C) construção de um pacto entre o governo e a oposição visando fortalecer a Petrobrás.
(D) iminência de um golpe protagonizado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).
(E) pressão dos militares contra o monopólio estatal sobre a exploração e a comercialização do petróleo.
7. A crise de 1929 e dos anos subsequentes teve sua origem no grande aumento da produção industrial e agrícola, nos EUA, ocorrido durante a 1ª Guerra Mundial, quando o mercado consumidor, principalmente o externo, conheceu ampliação significativa. O rápido crescimento da produção e das empresas valorizou as ações e estimulou a especulação, responsável pela "pequena crise" de 1920-21. Em outubro de 1929, a venda cresceu nas Bolsas de Valores, criando uma tendência de baixa no preço das ações, o que fez com que muitos investidores ou especuladores vendessem seus papéis. De 24 a 29 de outubro, a Bolsa de Nova York teve um prejuízo de US$ 40 bilhões. A redução da receita tributária que atingiu o Estado fez com que os empréstimos ao exterior fossem suspensos e as dívidas, cobradas; e que se criassem também altas tarifas sobre produtos importados, tornando a crise internacional.
RECCO, C. História: a crise de 29 e a depressão do capitalismo. Disponível em: . Acesso em: 26 out. 2008. (com adaptações).
Os fatos apresentados permitem inferir que
(A) as despesas e prejuízos decorrentes da 1ª Guerra Mundial levaram à crise de 1929, devido à falta de capital para investimentos.
(B) o significativo incremento da produção industrial e agrícola norte-americana durante a 1ª Guerra Mundial consistiu num dos fatores originários da crise de 1929.
(C) a queda dos índices nas Bolsas de Valores pode ser apontada como causa do aumento dos preços de ações nos EUA em outubro de 1929.
(D) a crise de 1929 eclodiu nos EUA a partir da interrupção de empréstimos ao exterior e da criação de altas tarifas sobre produtos de origem importada.
(E) a crise de 1929 gerou uma ampliação do mercado consumidor externo e, consequentemente, um crescimento industrial e agrícola nos EUA.
8. A economia solidária foi criada por operários, no início do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego que resultavam da utilização das máquinas, no início do século XIX.
Com a criação de cooperativas (de produção, de prestação de serviços, de comercialização ou de crédito), os trabalhadores buscavam independência econômica e capacidade de controlar as novas tecnologias, colocando-as a serviço de todos os membros da empresa. Essa ideia persistiu e se espalhou: da reciclagem ao microcrédito, já existem milhares de empreendimentos desse tipo hoje em dia, em várias partes do mundo. Na economia solidária, todos os que trabalham são proprietários da empresa. Trata-se da possibilidade de uma empresa sem divisão entre patrão e empregados, sem busca exclusiva pelo lucro e mais apoiada na qualidade do que na quantidade de trabalho, em convivência com a economia de mercado.
SINGER, Paul. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2009. (com adaptações).
A economia solidária, no âmbito da sociedade capitalista, institui complexas relações sociais, demonstrando que
(A) a fraternidade entre patrões e empregados, comum no cooperativismo, tem gerado soluções criativas para o desemprego desde o início do capitalismo.
(B) a rejeição ao uso de novas tecnologias torna a empresa solidária mais ecologicamente sustentável que os empreendimentos capitalistas tradicionais.
(C) a prosperidade do cooperativismo, assim como a da pirataria e das formas de economia informal, resulta dos benefícios do não pagamento de impostos.
(D) as contradições inerentes ao sistema podem resultar em formas alternativas de produção.
(E) o modelo de cooperativismo dos regimes comunistas e socialistas representa uma alternativa econômica adequada ao capitalismo.
9. O efeito estufa não é fenômeno recente e, muito menos, naturalmente maléfico. Alguns dos gases que o provocam funcionam como uma capa protetora que impede a dispersão total do calor e garante o equilíbrio da temperatura na Terra. Cientistas americanos da Universidade da Virgínia alegam ter descoberto um dos primeiros registros da ação humana sobre o efeito estufa. Há oito mil anos, houve uma súbita elevação da quantidade de CO2 na atmosfera terrestre. Nesse mesmo período, agricultores da Europa e da China já dominavam o fogo e haviam domesticado cães e ovelhas. A atividade humana da época com maior impacto sobre a organização social e sobre o ambiente foi o começo do plantio de trigo, cevada, ervilha e outros vegetais. Esse plantio passou a exigir áreas de terreno livre de sua vegetação original, providenciadas pelos inúmeros grupos humanos nessas regiões com métodos elementares de preparo do solo, ainda hoje, usados e condenados, em razão dos problemas ambientais decorrentes.
Aquecimento global e a nova geografia de produção no Brasil
Disponível em: http://www.embrapa.br/publicacoes/tecnico/aquecimentoglobal.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2009. (com adaptações).
Segundo a hipótese levantada pela pesquisa sobre as primeiras atividades humanas organizadas, o impacto ambiental mencionado foi decorrente
(A) da manipulação de alimentos cujo cozimento e consumo liberavam grandes quantidades de calor e gás carbônico.
(B) da queima ou da deterioração das árvores derrubadas para o plantio, que contribuíram para a liberação de gás carbônico e poluentes em proporções significativas.
(C) do início da domesticação de animais no período mencionado, a qual contribuiu para uma forte elevação das emissões de gás metano.
(D) da derrubada de árvores para a fabricação de casas e móveis, que representou o principal fator de liberação de gás carbônico na atmosfera naquele período.
(E) do incremento na fabricação de cerâmicas que, naquele período, contribuiu para a liberação de material particulado na atmosfera.
10. Em fevereiro de 1999, o Seminário Internacional sobre Direito Ambiental, ocorrido em Bilbao, na Espanha, propôs, na Declaração de Viscaia, a extensão dos direitos humanos ao meio ambiente,
como instrumento de alcance universal. No parágrafo 3.o do artigo 1.o da referida declaração, fica estabelecido: "O direito ao meio ambiente deverá ser exercido de forma compatível com os demais direitos humanos, entre os quais o direito ao desenvolvimento". No Brasil, o cumprimento desse direito configura um grande desafio. Na Região Amazônica, por exemplo, tem havido uma coincidência entre as linhas de desmatamento e as novas fronteiras de desenvolvimento do agronegócio, marcadas por focos de injustiça ambiental, com frequentes casos de escravização de trabalhadores, além de conflitos e crimes pela posse de terras, muitas vezes, impunes.
Disponível em: . Acesso em: 9 maio 2009. (com adaptações).
Promover justiça ambiental, no caso da Região Amazônica brasileira, implica
(A) fortalecer a ação fiscalizadora do Estado e viabilizar políticas de desenvolvimento sustentável.
(B) ampliar o mercado informal de trabalho para a população com baixa qualificação profissional.
(C) incentivar a ocupação das terras pelo Estado brasileiro, em face dos interesses internacionais.
(D) promover alternativas de desenvolvimento sustentável, em razão da precariedade tecnológica local.
(E) ampliar a importância do agronegócio nas áreas de conflito pela posse de terras e combater a violência no campo.
Gabarito
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