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Nunca é tarde

Um exemplo de vestiba na primeira fase da UFPR

Quem circulou neste domingo, 14, pelo campus da Universidade Positivo – onde os candidatos a uma vaga em Medicina realizaram a prova da primeira fase da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – se deparou com uma cena muito comum: pais ansiosos montaram 'guarda' em frente aos portões de cada um dos cinclo blocos à espera dos filhos.

No caso da professora de Educação Física Karyn Lopes Moreira, 23, aluna de licenciatura no mesmo curso na UFPR, a situação era inversa: ela é que esperava pela mãe, a auxiliar de enfermagem Fátima do Rocio Lopes Moreira, que aos 43 anos de idade prestou pela primeira vez o vestibular, "justo para um dos cursos mais difíceis", como faz questão de frisar a filha orgulhosa.

Após sair da sala, um pouco antes das 17h, Fátima se sentia realizada. O vestibular era mais uma etapa cumprida, depois de abandonar a escola aos 14 anos, na sétima série. Para ajudar no sustento da casa, deixou o sonho de ser médica e entrar para a Cruz Vermelha para trás. O sacrifício não foi em vão, já que com o que ganhava conseguiu formar a filha e a irmã mais nova, as únicas a ter diploma de ensino superior na família. Mas ainda faltava realizar o próprio sonho.

Aos 30, terminou o Ensino Fundamental, e com mais de 35, formou-se auxiliar de enfermagem, com o dinheiro ganho como auxiliar de limpeza de um hospital na Região Metropolitana.

No estágio no Hospital Evangélico, apaixonou-se pela Neurologia e colocou na cabeça que iria terminar o Ensino Médio e tentar uma vaga na Federal, apesar das piadas dos colegas do EJA. "Eles falavam: 'onde se já viu uma velha prestar vestibular?'. Eu não me importava, pois enquanto muitos estavam ali só para tirar o diploma, eu estava ali porque tinha um sonho", conta. Em julho, recebeu o diploma no ensino médio e tentou matricular-se em um cursinho solidário. Não conseguiu, pois no dia em que foi fazer a matrícula era preciso depositar o dinheiro do material didático, que ela não tinha. Resolveu estudar em casa, com a ajuda da filha e da Internet.

Para prestar o vestibular, Fátima deixou de seguir até conselho médico. Há cerca 40 dias, fez uma cirurgia de redução de estômago e foi aconselhada a não andar de ônibus e não subir escadas. Há um mês, no entanto, realizou um concurso para auxiliar de enfermagem e chegou a subir três lances de escadas. No Enem, também precisou sair da linha. "Vale a pena. O resultado compensa", diz Fátima, que saiu confiante da sala, ao contrário de quando entrou, quando estava insegura ao ver "o pessoal mais novo, com camiseta de cursinho", como observou a filha. "Passo pelo menos para a segunda fase. E se não passar, tento o ano que vem de novo! Tenho isenção de taxa no vestibular, então, não custa nada. Tenho muito tempo pela frente".

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