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Literatura UFPR

Veja a análise do livro Leão de Chácara

Confira a análise de Wanda Camargo, Presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), para a obra de João Antônio, Leão de Chácara, que é uma das dez leituras obrigatórias para a prova de Literatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

João Antônio Ferreira Filho, o João Antônio, é o grande repórter do submundo das cidades brasileiras dos anos 1950 e 1960. Seus personagens são duros, sofridos, vivem em um mundo implacável onde qualquer desatenção pode resultar em fome, prisão ou coisa pior. Destaca-se o malandro, figura que vive de golpes, exploração de mulheres e de sua habilidade no jogo. Em nossos tristes tempos de crime organizado, chacinas e corrupção, esse malandro tornou-se ingênuo e anacrônico, mas foi o terror de uma época.

Uma condição essencial para exercer o ofício de malandro é conhecer a motivação do otário. É preciso saber o que leva um trabalhador a torrar o salário em uma mesa de carteado ou sinuca, como envolver uma "mina" para que lhe entregue a féria do dia, o que quer o burguês endinheirado que frequenta os cabarés no fim de semana. Para isso o malandro precisa saber como o otário pensa, pensar como ele, saber seus sonhos; mas toda empatia tem duas vias, o grande perigo para o malandro é começar a sonhar os sonhos do otário.

Pirraça, o cínico Leão de Chácara do conto que dá nome ao livro, não tem ilusões sobre a vida noturna e seus frequentadores, respeita mesmo só os seus iguais, os outros leões. Todos os demais são trouxas, coiós, papagaios enfeitados, a quem se deve tratar bem e aturar para morder uma grana. No final da noite volta para a mulher e dois filhos, e na casa do subúrbio chama-se Jaime, se distrai cuidando da horta e tomando sol.

O protagonista de Três Cunhadas – Natal 1960 trabalha como contínuo e faz bico de apontador de jogo no hipódromo para "botar comida dentro de casa". Mora em Niterói e vai ao Rio a pedido da mulher visitar as três cunhadas e levar-lhes presentes de Natal; passa o dia com elas. Na volta a Niterói, na barca cheia de pessoas desesperançadas, algumas bêbadas, algumas loucas, até um papai-noel de propaganda, pensa em sua vida, nas cunhadas, na mulher, nos filhos. Pensa que gostaria de ser mais moço para se atirar de cabeça à vida...

Joãozinho da Babilônia, malandro vivido, gerente de inferninho, "enorme, quase dois metros, com vinte anos de janela, os cabelos pintando de branco", trai o código da malandragem e apaixona-se perdidamente por Guiomar, "bandidete de rua, malhada da vida, traquejada na muamba, como sempre meio corrida da polícia". Acontece que Guiomar é amante de Batistão, milionário gastador e ciumento. Batistão mata Guiomar. O lamento de Joãozinho é uma peça lírica: "Tinha mais segredo e provocação lá no canto da sua boca do que no quebrar das ondas. Tinha mais perfume ali, na risca do seu cabelo; tinha mais cheiro, chamado e violência ali, quando ela beliscava no canto da boca o dedo mínimo, do que quando o mar tenta gritar, de encontro às pedras, no preto-escuro das madrugadas que curto, eu e só". E conclui: "bastava uma casa no subúrbio, quarto e cozinha".

Paulinho, menino de rua, largado na vida, sobrevive como pode; engraxa sapatos, lava carros, faz pequenos furtos, leva recados. Cai nas graças de Laércio Arrudão, mulato muito falado. Arrudão emprega Paulinho em seu boteco e lhe dá as primeiras aulas de malandragem: "...quem gosta da gente é a gente. Só. E apenas o dinheiro interessa. Só ele é positivo. O resto são frescuras do coração". Já conhecido como Paulinho da Perna Torta, apelido que ganhou por causa de uma briga de bar, começa seu caminho no mundo. Cafetão, assassino, traficante, rei do crime; faz trinta anos e pensa umas coisas da sua vida. Pensa que talvez devesse ter "tirado da vida" a sua primeira amante; talvez devesse ter feito ou não ter feito outras coisas. Mas só pode continuar.

Os três primeiros contos deste livro foram premiados em 1974 no VI Concurso Nacional de Contos, uma das melhores iniciativas culturais do governo do Paraná. O Concurso atraía contistas consagrados e iniciantes de talento, e muitas carreiras brilhantes começaram com esta premiação.

João Antonio escreve de forma ágil e nos envolve totalmente, uma delícia de ler.

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