Abraham Weintraub sabe ser odiado por muitos. E não apenas por suas mensagens agressivas nas redes sociais. Desde o início da sua gestão, o ministro da Educação de Jair Bolsonaro não deixou de jogar luz sobre uma série de fatos constrangedores, o que lhe trouxe problemas e inimizades: as universidades públicas, ainda que tenham ilhas de excelência, gastam bilhões de reais por má gestão e militância política – escondidas em prestações de gastos pouco transparentes; as faculdades de pedagogia preparam mal os futuros professores; muitos educadores brasileiros não se importam com a ciência e continuam presos a dogmas de esquerda; boa parte das crianças e jovens brasileiros são reféns de docentes mal preparados e doutrinadores.
Ou seja, Weintraub mexeu nos vespeiros de instituições superiores e sindicatos de professores.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o ministro fala dessa batalha, na qual trouxe soluções, e diz que se sente ameaçado, não só pelos mais de 60 processos que correm contra ele, mas também fisicamente. “Não tenho nada a ganhar com isso e é lógico que eu tenho medo. Não sou louco, eu tenho medo físico de morrer, tenho medo que façam mal físico a alguém da minha família”, disse.
O que o move então? O ideal de “livrar o país da ‘tigrada’”, das ações totalitárias que tentam dominar o Brasil. “Podemos até perder o país, mas pelo menos vou sair de cabeça erguida”. Leia a seguir a íntegra da entrevista:
O senhor tem repetido que as universidades públicas têm falhas de gestão, comprovadas pelo Tribunal de Contas da União, e também que não são transparentes na prestação de contas. Como o MEC pretende resolver esse problema?
É a primeira vez que tem um governo, que é o governo do presidente Bolsonaro, e um ministro dispostos a comprar essa briga. Só o fato de a gente falar: olha o quanto eles gastam, olha o quanto eles custam, olha quanto cada um desses professores recebe, quanto eles dão de aula e quantos alunos se formam nas universidades; olha o nível da pesquisa acadêmica.
E a gente vai chegar à conclusão mais óbvia que tem: é uma destruição de dinheiro gigantesca. São bilhões e bilhões e bilhões de reais que, todos os anos, são jogados na privada. Mais que jogados na privada, eles servem para alimentar uma militância espúria que se volta contra a própria sociedade, contra nós, pagadores de imposto.
Foi criada uma máquina, um mecanismo, a serviço de movimentos políticos. Não é que todas as universidades sejam assim, o que torna mais dramática a situação. Há o joio e o trigo, você tem um Coppe [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia] na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem áreas maravilhosas. Odontologia no Brasil é top, é referência.
A parte da pesquisa de agricultura está caindo muito, já foi muito boa, mas está caindo muito rapidamente. Mas Medicina está bem, Física. Tem áreas de excelência, e elas são usadas como reféns desse processo, mais ou menos como foi o do Museu [Nacional], lembra? “Olha, ou você me dá mais dinheiro ou eu mato o museu”. O museu está parado, em pandarecos, e não se faz nada, não se fala do assunto, não se permite que ele saia das garras da UFRJ, e o povo possa ter de volta o patrimônio dele.
A resistência ao Future-se
O Programa Future-se é uma forma de conseguir mais transparência, eficiência?
O Future-se permite libertar. A primeira coisa importante: a gente não diminuiu nenhum centavo para essa turma. São bilhões que vão para lá, são valores gigantescos. A gente poderia reduzir do orçamento do ano que vem, mas não estamos reduzindo, está mantido.
A gente quer criar um estímulo para que o trigo germine mais. Com o Future-se, podendo buscar parceria com a iniciativa privada, achamos que os bons elementos dentro das universidades, que são muitos, vão estar mais fortes, vão poder se organizar, poder buscar recursos da iniciativa privada e, com isso, vão trazer mais pessoas para a carreira acadêmica que queiram produzir conhecimento ou formar alunos. E não ficar na militância.
O Future-se nada mais é do que um estímulo para que o trigo do campo germine e domine atualmente o que está sendo dominado pelo joio. Porque arrancar o joio não dá, eu não tenho como arrancar. A Constituição, as leis não me permitem. Eu consigo estancar o crescimento do joio, e o Future-se é para que eu possa direcionar mais recursos para a parte boa das universidades.
A gente não pode permitir que a UFRJ faça a mesma coisa que foi feita com o museu, com o Coppe. Para quem não sabe, o Coppe é responsável por toda essa parte de pesquisa. Por exemplo, a pesquisa de extração de petróleo em profundidade. Toda essa riqueza que foi gerada no Brasil advém, sim, de uma parte pequena da UFRJ. Com base nessa coisa extremamente virtuosa que é o Coppe. Tem um monte de pessoas que se escondem e utilizam o Coppe como refém. Como foi no caso do museu.
Muitas das universidades não vão aderir ao Future-se, essas que são mais problemáticas. E, aí, o MEC estará de mãos amarradas?
Não é que está de mãos amarradas. Eu diria o seguinte: são 70 universidades federais no Brasil, que atendem mais ou menos 17% da população que faz curso superior. Nós, provavelmente, teremos metade aderindo, na primeira onda. No primeiro momento, acho que uns 20 reitores vão aderir.
Vão ter resistências, resistências enormes estão acontecendo dentro das universidades, nos conselhos, sindicatos. Porque foi um aparelhamento muito grande, processos, eles utilizam muito a judicialização na pessoa física. O movimento totalitário é quando um coletivo, um sindicato por exemplo, um grupo ataca um indivíduo. Você, na pessoa física, o seu CPF, a sua família, o seu esposo, seus filhos. Isso é um movimento totalitarista.
O que a gente busca é resgatar as universidades. Acreditamos que o Future-se é tão positivo que, ao final de um ano, mais da metade vai ter aderido.
E quando o senhor vai apresentar ao Congresso o projeto de lei do Future-se?
Espero nesse ano ainda. Está nos últimos detalhes, em ajustes no Ministério da Economia, porque tudo tem que ser compatível com as leis.
Após a consulta pública, haverá alterações significativas no Future-se?
Eu não acredito que vai mudar muito não. Acredito que ficará muito próximo do que foi apresentado. A essência principal é libertar as universidades para poder fazer o que é feito lá fora. A universidade não é uma torre de marfim, ela deve conversar com as empresas, com as pessoas, microempreendedores, com a sociedade. Não é uma madrasta de centro de doutrinação. Tem doutrinação lá fora? Tem. Mas não é tão prevalente como aqui.
Em outros países, com essas parcerias, as pessoas não são tão reféns da doutrinação?
Exato. Eu gostaria de dar instrumentos para as pessoas poderem lutar pela sua liberdade, fazer suas escolhas, buscar sua felicidade. E o Future-se é isso, mais liberdade, não menos.
"Não vamos impor o Plano Nacional de Alfabetização"
Saindo das universidades e indo para a outra ponta do ensino, a alfabetização. A Conabe foi uma iniciativa pioneira no MEC, ao trazer especialistas na ciência cognitiva da leitura para discutir abordagens adotadas no mundo para alfabetizar e sua eficácia. Após o evento, alguns especialistas se perguntaram por que o MEC mantém voluntária a adesão ao Plano Nacional de Alfabetização (PNA). Se já existe tanta resistência ao que diz a ciência nas universidades, por que não tornar a prática desse conhecimento obrigatória? O PNA não corre o risco de ficar no papel?
Porque nós não somos como a esquerda. Nós acreditamos no livre arbítrio, liberdade de fazer escolhas. Temos que lutar com a verdade, a ciência é o escudo. A verdade é minha espada. Eu tenho que lutar com a verdade. Se eu utilizar os mesmos recursos que a esquerda utiliza, eu me torno uma coisa parecida com eles. E nós não viemos fazer isso aqui.
Eu não estou aqui para me dar bem, estou aqui para me dar mal. Eu estou aqui carregando esse piano todo, fazendo essa cota de sacrifícios, assim como muitos outros, para fazer o certo, não para fazer o errado.
Ao mesmo tempo, estamos cobrando para que, se recebem dinheiro do governo federal, estados e municípios têm que apresentar bom desempenho em alfabetização. Se eles querem continuar usando o vodu que é Paulo Freire, porque é um vodu, não tem comprovação científica nenhuma. Aliás, tem: não funciona. Podem continuar, só que o resultado vai ser ruim e eles vão receber menos recursos no futuro, porque o resultado é ruim.
Se eu estiver errado, e o Paulo Freire, depois de 25 anos que ele é louvado aqui no Brasil, começar a funcionar, mérito dele, vai receber dinheiro. Meu objetivo não é utilizar ou não Paulo Freire. O objetivo é que as crianças do Brasil, ao terceiro ano do ensino fundamental, saibam ler.
Hoje, 50% das crianças, no terceiro ano, não conseguem ler "eu gosto de jogar bola", não conseguem escrever "eu vou para a escola todo dia". Então é um fracasso retumbante, que nos coloca na última posição na América do Sul.
Inclusive, hoje, os veículos de comunicação têm um engajamento – não o seu, não você –, mas tem alguns veículos grandes que têm um engajamento abjeto. Em um evento do MEC, eu disse que, provavelmente, quando sair o resultado do Pisa, talvez o Brasil estará em último lugar [na América Latina].
A manchete que sai na imprensa será “ministro Abraham colocará o Brasil em último lugar na América do Sul”. Mentira. O exame foi feito em 2018, o último ano da quadrilogia petista. Dezesseis anos de PT, 2018 é fruto de quem votou no PT. Foi lá na urna e colocou "Dilma e Temer".
O resultado do exame de 2018 é colocar o Brasil em último lugar. Aí, Folha de S. Paulo, “Extado” [referindo-se ao jornal Estado de S. Paulo], outros veículos, colocam uma barbaridade dessa. Aí aparece o senador Randolfe Rodrigues falando “o ministro Abraham já desistiu, antes de começar o jogo o Brasil vai ser o último lugar”. É uma mentira atrás da outra. É muita mentira o tempo inteiro.
Eles lutam com as armas deles, nós não lutamos com a mesma arma. Seria uma analogia, o exército daquele lado não tem escrúpulos de usar terrorismo. Esse ano, o que a gente viu? Vários políticos e veículos de comunicação engajados falando que não ia ter Enem.
Imagine que você tem um filho que vai fazer, ou que você vai fazer Enem e ficam repetindo: “Não vai ter Enem, não vai ter Enem”. Isso é terrorismo, você fica aterrorizado, gera pânico na população, para ela se revoltar contra o governo e derrubar o governo. Isso se chama terrorismo.
Nós não fazemos isso, nós não mentimos. Se eu tivesse contado uma mentira esse ano, eu já teria caído. Não faltou processo, me meteram 60 processos. Teve uma deputada que falou “eu vou te processar”, e não processou até agora, porque tudo o que eu falei lá na Câmara era verdade. Ela foi convidada para conversar. Tudo aquilo é só mentira, o tempo todo mentira.
Professor mais importante é o que ensina o "beabá"
Nas faculdades de Pedagogia, não é só Paulo Freire que é cultuado. Há muita teoria fundamentada em autores como Piaget, Wallon, Vygotsky, que foram importantes no seu tempo, mas que já estão ultrapassados em muitos aspectos. Os jovens, as crianças, são reféns dos professores que se formam nessas faculdades. O senhor tem algum projeto para tentar influenciar as faculdades de Pedagogia, para que elas sejam melhores?
Sim, estamos trabalhando nisso. Inclusive, não só no método, mas trazendo mais aulas práticas para os cursos de Pedagogia. Não basta ensinar só teoria e história do ensino. Tem que ter também aula prática. Vemos que há resultados palpáveis em outros países que adotaram esse modelo.
Não adianta só mexer na técnica. Um dos problemas é que houve uma valorização muito grande do professor universitário. Na Itália, um professor universitário ganha quase a mesma coisa que o professor do ensino fundamental. Nem sei se não deveria ganhar mais o do fundamental.
O que é mais importante? O professor que segura no lápis para a criança aprender o “bá-be-bi-bó-bu”, ou o cara que fica fazendo pesquisa avançada? Não sei, tenho dúvidas.
Aqui no Brasil, um professor hora/aula, do ensino fundamental, dá cerca de 20 horas de aula por semana. Na média do país, tem lugar que é menos e em outros mais, 2 mil reais por mês, por 20 horas de aula por semana, quatro horas de aula por dia. Tem que pesquisar, preparar aula, corrigir prova.
Um professor do ensino universitário federal ganha quase 10 vezes mais que isso. Em universidade privada não é assim. Ele ganha de 15 a 20 mil reais se tiver dedicação exclusiva. E ele, com a mesma quantidade de férias, tudo parecido, tem que dar só 8 horas de aula por semana. Se for uma vez por semana, ele dá quatro horas pela manhã e quatro horas à tarde e recebe de 15 a 20 mil reais por mês.
A gente gastou muito no topo, por razões de militância, não foi para formar um grande contingente de pessoas, porque a relação nas universidades federais aluno/professor é de 10 alunos para um professor. Na Europa, é 35. Nas privadas do Brasil, é em torno de 40. Aqui no Brasil tem 10.
Então foi feita uma máquina de militância. O professor do ensino fundamental foi abandonado. Você não atrai as pessoas mais brilhantes para serem professores.
E como atrair os melhores para a carreira de professor?
Como faz para atrair? Uma coisa é dinheiro, tem que pagar melhor, mas não é para todo mundo, é para quem for bom, tem que ter performance.
Se quer ganhar mais, vai fazer outra coisa. O objetivo das estruturas de ensino – e eu estou aqui usando a palavra ensino propositalmente, não educação – não é pagar bem para o professor. É que as nossas crianças aprendam, para a próxima geração ser melhor e mais forte.
Evidentemente, para atrair pessoas melhores, os mais inteligentes, argutos, tem que pagar mais. Têm muitos bons professores no Brasil todo, esses têm que ser mais recompensados. E tem professores ruins, o resultado está aí. Não falta vídeo, não falta depoimento na internet. É gente que não tinha nem que estar na sala de aula, talvez nem andando solto.
O senhor pensa em tirar a estabilidade desses professores?
Não. Esse não é um governo de esquerda, esse é um governo que respeita as leis. Passado quase um ano de governo Bolsonaro, era só “mentira, mentira”, “Paulo Guedes não vai ficar dois meses”. Continua aqui, uma maravilha.
“O Bolsonaro vai rasgar a Constituição, vai dar gópi [sic]”. Dos três poderes, qual respeita mais a Constituição? O Executivo. Nós não temos o perfil, os valores deles. Aliás, nós temos valores, eles têm outros valores. Não utilizamos as mesmas armas que a oposição.
As leis têm que ser cumpridas, os contratos têm que ser mantidos. Se a pessoa prestou um concurso e entrou, ela vai receber até o final e acabou. A sociedade elegeu o Lula. Elegeu a Dilma. Agora, arque com as consequências disso.
Você pode estimular, pode ir atrás, pode aumentar punição, mandar embora quem fala coisas abjetas para crianças pequenas. Isso tudo a gente faz, mas está dentro da lei. O que não dá para fazer é na canetada.
Deixa eu falar números para você ter dimensão do que foi feito. No governo federal, hoje, há 600 mil servidores civis na ativa. Desses, 300 mil estão no MEC. O MEC é do tamanho das Forças Armadas, sendo que 100 mil foi no último mandato da Dilma, a toque de caixa. São professores, técnicos, funcionários.
Nas universidades e institutos foi criada uma malha pelo Brasil com auditórios onde, por exemplo, o [Guilherme] Boulos faz palestra, o [Fernando] Haddad, o Lindberg [Farias] fazem palestras. Onde o Lula vai fazer palestra.
Foram criadas estruturas de funcionários, sindicatos, são 300 mil no MEC. Eu estou sentado aqui em cima de uma estrutura do tamanho das Forças Armadas. Só que eu diria que metade é contra mim.
Rebatendo críticas e quebrando resistências
Como o senhor se sente lutando contra a corrente?
Eu tenho os dois pilares, a ciência e a razão, e a minha fé. Até já fiz uma analogia que eu não sou Davi lutando contra Golias, sou a pedra que o Davi pegou do chão e colocou na funda e jogou para derrubar Golias. A pedra simplesmente voa, ela não fica pensando “será que eu vou?”. Eu vou derrubar Golias, eu tenho muita convicção que o Golias vai cair no chão.
O senhor não sente que a resistência interna pode conseguir tirá-lo, puxar o tapete?
Você me viu no plenário? É isso. Eu vou para cima. É a pedra, eu voo, eu não fico com muita frescura, eu vou batendo na cabeça e vai cair no chão. E eles estão assustados com isso, ficam pesquisando minha vida, não tenho nenhuma mácula.
“Ah, encontramos um escândalo, o boletim dele na USP está cheio de zero”. Eu tinha 17 anos, se eu tivesse matado alguém eu estava zerado, arrebentei meu braço, tenho várias testemunhas, se quiser eu estralo meu braço, eu quebrei duas vezes, coloquei pinos, e os professores não me deixaram fazer a prova oral, fui reprovado.
Outra grande mentira que eles falam a meu respeito é que eu estou processando minha mãe, para ela não receber herança do meu pai. Não existe herança entre vivos. Meu pai está vivo, eu não tenho como receber herança dele. Eu estaria processando a minha mãe para ela não receber herança do meu pai?
Minha mãe morreu há 20 anos. Eu não estou processando a minha mãe. Tem jornal que escreveu isso. O presidente da UNE soltou essa barbaridade, usando palavrão. Então é isso que eles têm contra mim, cercam minha família. É lógico que eu tenho medo, não sou louco, eu tenho medo físico, de morrer, tenho medo que façam um mal físico a alguém da minha família. Isso é evidente que eu tenho.
O senhor tem filhos pequenos...
Sim, uma filha de 9. Na época, quando ela foi cercada, que ela estava no meu colo, ela tinha 8. Tenho um garoto de 13 e a minha mais velha tem 14. É evidente que eu tenho medo. Se esse país, por acaso, cair na mão do PT de novo, eu tenho que sair do país, não tenho a menor dúvida do que eles vão fazer. Eles não vão cometer o mesmo “erro” que eles cometeram.
Por tudo que disse, o senhor parece não ter nada a ganhar na posição que está. Só inimizade...
Nada, nada há ganhar. Absolutamente. E nem quero ganhar. Falta você me perguntar “e por que você está ai?”.
Por que o senhor está aí?
Por causa da minha fé. Eu acredito na minha trilha, acredito numa trilha.
Como assim?
São várias coisas juntas. Eu sou uma imensa mistura de povos. A minha mãe, Bragança de Vasconcellos é o sobrenome dela, está no Brasil desde sempre. Ela era católica. E o meu pai é descendente de judeus do norte da Europa, que foram para campos de concentração. Eles me contaram a história de como é perder o país.
O caso da Venezuela não é tão dramático, porque não estão queimando as pessoas. Mas o processo da dominação totalitária é muito parecido. As palavras são parecidas, o jeito de se expressar, as mentiras. Essa mentira da Amazônia que foi contada, essas mentiras todas lembram muito da propaganda nazista.
Quando eu e meu irmão, nós estamos sempre juntos, nos deparamos com a situação, olhamos e falamos “olha, a gente pode até perder o país, mas se formos perder o país, vamos sair de cabeça erguida, lutando, não vamos com o rabo entre as pernas”. Vale a pena lutar pelo Brasil, é um país muito bom, mas ficou na mão da tigrada, completamente da tigrada.
"Esquerda odeia quem tem um ofício e sabe ler e escrever bem"
O que o senhor sonha para os próximos anos no MEC?
Não tem próximos anos. É agora. Você vai olhar para todos os indicadores de educação, todos eles, e vai ver que eles estavam piorando até 2018. E vai ver que em 2019 foi um ponto de inflexão e começou tudo a melhorar. É isso que vai acontecer, isso já está acontecendo.
Veja, hoje em dia, a discussão: é ponto pacífico que é uma vergonha o que acontece em vários locais nas universidades federais, ninguém mais discute. A discussão que Paulo Freire não funciona é ponto pacífico, isso aconteceu em menos de um ano. Em seis meses a gente quebrou o diálogo. Não funciona Paulo Freire, não funciona Piaget, não funciona essa porcariada toda que venderam como a quinta essência da maravilha do suprassumo.
Mas como mudar isso?
Apresentando alternativas. Então tem o Future-se, tem o método científico para alfabetização, escola cívico-militar, ensino técnico. Eu escutei de um parlamentar de esquerda: “filho de pobre não tem que fazer curso técnico, tem que ser doutor”.
Veja, um técnico em contabilidade tem muito mais chance de virar contador do que quem não tem. Um técnico em eletricidade tem muito mais chance de virar engenheiro do que quem não tem. Isso [que o deputado afirma] é estupidez, preconceito. O que, na verdade, faz parte da doutrinação.
Aristóteles já falava que se você não tem classe média, você tem uma massa de pessoas cooptáveis por um tirano e um grupo de oligarcas. Cidade onde há democracia é onde tem classe média. Para ser classe média, você precisa saber ler e escrever bem, fazer conta e ter um ofício. E isso a esquerda odeia. Alguém que sabe ler e escrever bem e tem um ofício.
Posso fazer uma pergunta difícil?
Pode.
O senhor tem boas ideias, parece disposto a dar a vida pelo MEC...
Eu não queria morrer. Essa discussão da vida acontece. Já está combinado o que fazer se me matarem, isso não é piada. Se me matarem, acabou a brincadeira, os Weintraub estão fora. Está combinado, meu irmão, minha esposa, estarão fora. Não é uma sugestão que eu estou dando para a esquerda não, viu.
A pergunta difícil é a seguinte: o senhor não acha que com uma postura agressiva afasta aqueles que também estão do seu lado?
Não. Acredito que você esteja fazendo essa pergunta para me entender. Para você me entender, ou para entender um país, um povo, um indivíduo, você tem que conhecer o passado dele. Por isso que eles querem apagar a história do Brasil. “Nunca antes na história do Brasil”, para ele antes nunca teve nada. Então se sempre foi isso aqui, “lambe os beiços, agradece que está bom demais”.
No meu caso, eu cresci escutando histórias das pessoas que conviveram com os regimes totalitários nazista e comunista na Europa.
Mas o senhor, após ser chamado de “bobo da corte”, chamou a mãe da agressora de “égua desdentada”...
Ela me chamou de bobo da corte, eu falei que prefiro trabalhar nas estrebarias, onde a mãe dela está. Juridicamente, eu estou respondendo uma agressão com outra. Mas eu não sou tucano, eu não sou o João Amoêdo [do Partido Novo], eu até uso abotoaduras, mas não têm renda.
O senhor não se arrepende, vai continuar nessa linha?
Pergunta para quem trabalha comigo quantas vezes por dia eu peço desculpas, por favor, obrigado, se eu falo um pouco mais alto. O tempo inteiro eu tenho essa preocupação. No plenário [da Câmara dos Deputados ou do Senado], quem me trata com educação, eu trato bem a pessoa.
Eu sempre dou o beneficio da dúvida. Eu não parto do pressuposto de que a pessoa está me agredindo. Agora, quando a pessoa me chama de bobo da corte, eu não tenho dúvida. Como o cara que me falou “estava andando e encontrei o seu juízo”, respondi, “que bom, agora procura pelo seu pai”. Com essas pessoas, não tem como. Para dialogar, a outra parte tem que ter honestidade intelectual. Como você vai dialogar com quem não tem honestidade intelectual?
Eu nunca atiro a primeira pedra. E ofereço a outra face, só uma vez. Estapeou dos dois lados? Eu só tenho uma cara.
Aí o senhor revida...
Na altura. Eu uso o linguajar adequado ao ambiente que eu estou. Se você entrar no McDonalds e pedir um quarteirão com queijo e refrigerante, e falar “por favor, os talheres de prata”, você é ridículo, não é uma pessoa educada.
Educação é não incomodar os outros. Se você entrar em um restaurante japonês e souber comer com o hashi, é mais educado do que quem come com garfo e faca. Se você entrar em um restaurante bom e comer de garfo e faca, adequadamente, de boca fechada, você é educado.
Eu me comporto adequadamente de acordo com o local que eu estou. Se eu chegar lá "frufruzado", eu não sou educado. Educado é me comportar de acordo com a natureza do lugar em que estou.
Fundeb, "Lava Jato da Educação" e BNCC
Sobre o Fundeb, o senhor já falou que não é a favor de aumentar os recursos para o fundo...
Eu sempre ouço: “tem que jogar mais dinheiro na educação”. Por que não falam que a gente já põe mais dinheiro que todo mundo? Tem país que gasta mais que Emirados Árabes e tem o mesmo resultado. Tem país que gasta bem menos e tem resultado muito maior. Em dólar. Não é em termos percentuais. Então é técnica, não é quantidade de dinheiro.
A segunda coisa é que a tigrada quer pegar mais dinheiro, eles não contam que vai aumentar imposto e eu me recuso a aumentar imposto, tem que explicar muito bem o motivo.
Veio uma governadora aqui para discutir “mais recursos para o Fundeb! Eu quero dinheiro!”, falou assim mesmo, exigindo, batendo a mão na mesa, “eu quero dinheiro”. Eu falei “minha senhora, vamos ver os números, analisar desempenho”. Ela falou “não, não, não, eu quero dinheiro”. Não vai ter, da minha parte, não existe o que dizer, o que conversar, o que negociar.
Um exemplo: se alguém chegar e falar “você tem três filhos e a gente vai matar um”. É claro que você não vai deixar matar nenhum! Eu vou morrer de pé, lutando para que nenhum dos meus filhos seja morto. Não tem negociação com coisas absurdas ou abjetas.
Hoje em dia, para aumentar imposto, eu sou contra. A não ser que se explique muito bem explicado por que precisa. Mas eu sou contra.
Mas parece que vai ser aprovado o Fundeb, não é?
Vamos ver...
Outra pergunta é sobre a "Lava Jato da Educação", e eu sei que o senhor não gosta desse nome...
Eu não gosto, acho feio. Não gosto nem da BNCC [Base Nacional Comum Curricular], nem da Lava Jato da Educação.
Mas existe uma investigação, ou não existe?
A gente já pegou um monte de coisa errada. Cada enxadada que a gente dá aqui no MEC é uma minhoca que a gente encontra. Mas quando você fala “Lava Jato da Educação”, você está remetendo à imagem de heróis que enfrentaram a Hidra, misturada com a Medusa, e saíram vivos do processo, salvaram o Brasil. Eu sou contra capitalizar o trabalho dos outros. Por isso que eu não gosto de usar o termo “Lava Jato da educação”.
A segunda coisa, esse deveria ser o ministério do ensino, mas é o da educação. Quem educa é o pai, a mãe, o tio, o avô. É alguém. A gente ensina a ler e escrever. Quando eu pego uma coisa errada, eu tenho que documentar bem e encaminhar às autoridades competentes.
Eu não sou polícia, Ministério Público, juiz. Apesar de eu ter esse jeito, meu jeitinho pessoal já chama bastante a atenção, eu não preciso criar efeito de pirotecnia para causar mais, concorda?
Eu falando o meu português coloquial já solto um balbúrdia e vira isso... “balbúrdia, falou balbúrdia”. É balbúrdia mesmo.
E o BNCC, por que o senhor não gosta do nome?
Não é que eu não gosto do nome. É que se centralizou o ensino demais, eu sou contra isso.
O senhor acha que tem que ser descentralizado?
Eu acho. O totalitário quer isso, o poder centralizado. Eu penso muito com a preocupação no futuro, em algum momento, alguém de esquerda vai voltar. Eu não quero ficar aqui para sempre, eu tenho uma casa em São Paulo, minha jabuticabeira está crescendo lá. Estou morando em apartamento, eu tinha uma casa lá. Não sei se eu consigo voltar, ainda sou uma pessoa odiada por um percentual da população.
Homeschooling e Escola sem Partido: qual é a sua opinião?
Eu não colocaria meus filhos em homeschooling. Mas quais são meus valores? Liberdade. Quem pôs no mundo? Foi o papai, a mamãe, foi alguém que é uma família.
Claro que é preciso regulamentar, acompanhar. Mas, se tem uma criança que está bem cuidada, bem nutrida, não está maltratada, está se desenvolvendo bem, sabe ler, escrever, fazer conta, qual é o problema? Eu não faria homeschooling com meus filhos, mas se há como acompanhar, ver se está tudo certo, tudo bem. Isso é liberdade.
Sobre o “Escola sem Partido”, não precisa mais. O programa “Escola para Todos”, um canal para os pais encaminharem questões que não funcionam na escola, resolve isso.
Ao invés de a gente falar que o professor não pode, é o aluno que tem o direito ao ensino plural, sem preconceitos, onde os valores, a identidade dele, seja ela qual for, sejam respeitados.
Inverteu a lógica. Já foi assinado, já está encaminhado, já está valendo, e agora não é só criar lei, agora estamos criando mecanismos para que isso seja implementado. Pronto. E sabe por que eu consegui fazer isso? Porque eu não sou político. Agora eu sou, porque ministro é um cargo político. Mas eu venho da iniciativa privada. Para mim, interessa resultado, é bola na rede, não quero saber de tocar corneta, eu quero bola na rede, gol.
Assim como outras coisas, o Enem também foi brilhante, foi o melhor Enem de todos os tempos. Foi tão bom que o pessoal falou “é, mas não vai ficar assim no ano que vem”. Em um editorial de jornal, você acredita? A gente administrou uma crise horrorosa e deu tudo certo.
O que tem a dizer sobre suas mensagens nas redes sociais no 15 de novembro, sobre a monarquia?
Foi engraçado. Imagina, depois de soltar um tuítezinho, descobri que eu fui a primeira pessoa em 130 anos de república que falou que fizeram uma infâmia contra D. Pedro II. Imagina! Até hoje, ninguém levantou e falou que D. Pedro II era honesto, que se recusou a ganhar pensão do Estado, que não saiu com navios cheios de ouro no baú. No baú, ele tinha apenas terra do Brasil, que ele falou que queria dormir sobre ela toda noite. Morreu dois anos depois. É incrível.