| Foto: Vladimir PlatonowAgência Brasil

Tiroteios, crianças sem aula, muros marcados por bala perdida. Esta é a rotina de muitas escolas localizadas em áreas de risco, na cidade do Rio de Janeiro. Com o objetivo de garantir a segurança e a educação dos alunos, mais de 200 unidades de ensino municipais já elaboraram planos para minimizar os impactos da violência urbana.

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O preparo é semelhante ao de zonas de guerra: este ano, 42 profissionais da educação participaram de um curso do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) de Acesso mais Seguro (AMS) para Serviços Públicos Essenciais. O objetivo foi ensinar os funcionários das escolas como agir em episódios de conflito. Eles aprenderam, dentre outras coisas, onde se abrigar em caso de tiroteios.

De acordo com Aura Liane Pessanha de Souza, responsável pelos protocolos de segurança que estão sendo implantados das unidades escolares, os profissionais treinados pela Cruz Vermelha repassaram os conhecimentos adquiridos aos funcionários das escolas de suas respectivas regiões. 

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“As comunidades vivem realidades diferentes umas das outras. Por isso, cada colégio elaborou um plano com procedimentos específicos a serem adotados para cada tipo de risco. A ideia é que todos os funcionários da escola saibam como agir em situações de conflito, e não apenas o gestor”, disse ela, em entrevista à Gazeta do Povo

Ao todo, cerca de 400 escolas estão localizadas em regiões consideradas perigosas. O programa já foi implementado em algumas unidades e a previsão é que, até o final de dezembro, 259 colégios já estejam protegidos. “Passado esse período, reiniciaremos os trabalhos em março do ano que vem com o restante das unidades. A ideia é que até maio tudo esteja finalizado”, afirmou a Aura. 

Menos escolas fechadas 

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De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), 467 escolas tiveram as aulas suspensas na cidade do Rio de Janeiro por consequência da violência em 2017. Para Aura Liane, apesar de alarmante, esse índice vem diminuindo a cada dia. 

“Em setembro, nós começamos a elaborar os planos efetivamente. De lá para cá, aconteceram diversas situações conflitantes. No entanto, percebemos nitidamente que os fechamentos estão sendo reduzidos. Hoje, eles só acontecem quando a situação encontra-se muito crítica”, afirmou. 

De acordo com ela, os protocolos de segurança são sigilosos. No entanto, o intuito é garantir a segurança de todos dentro da escola, além de se prevenir às situações suspeitas. 

“Não podemos mudar a realidade violenta, mas somos capazes de se precaver. Quando você sabe o que fazer, onde se abrigar e como lidar com o estresse frente aos episódios de conflito, o impacto que aquele local vai sofrer acaba sendo reduzido”. 

Ela explica que os protocolos adotados variam de região para região. Mas, no geral, os profissionais aprendem a identificar situações suspeitas (excesso de fogos de artifício ou helicópteros rondando o bairro, por exemplo) a fim de minimizar as consequências de possíveis conflitos. 

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“Vamos supor que começou um tiroteio em uma região próxima à escola. Se este colégio tiver a quadra poliesportiva descoberta, por exemplo, naquele dia as aulas de educação física ocorrerão dentro da sala de aula”, disse. 

Perigo constante 

Atualmente, Aura Liane trabalha na Secretaria Municipal de Educação. No entanto, por 14 anos ela foi a diretora de uma escola localizada no entorno do Complexo do Alemão — considerado por muitos anos uma das áreas mais violentas da cidade do Rio. 

Durante todo esse tempo, a ex-diretora presenciou diversas situações de violência. “Já tivemos funcionários que foram atingidos por bala perdida no pé e na cabeça. Existem unidades escolares, que ficam na Maré e Cidade de Deus, por exemplo, que têm marcas de tiro nos muros”, contou. 

Este ano, um caso de violência nas escolas da capital carioca causou comoção nacional. Em março, uma adolescente de 13 anos morreu dentro de uma Escola Municipal, em Fazenda Botafogo, na Zona Oeste. A jovem era aluna do 7º ano e foi atingida por uma bala perdida enquanto fazia Educação Física. 

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Resolução

Na última quarta-feira (06), foi publicada no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro, uma resolução que trata da frequência dos alunos de escolas localizadas em regiões perigosas. A partir de agora, os professores podem abonar às faltas dos estudantes que não comparecerem às aulas por questões de segurança. 

“O direito da educação tem que advir do direito à segurança. O aluno de uma região perigosa era reprovado se tivesse mais do que 25% de faltas. No entanto, esse estudante não pode ser cobrado de comparecer à escola se não houver proteção”, afirmou Aura Liane. 

Para afastar os alunos da criminalidade, a Secretaria Municipal de Educação criou, em abril, o programa Aqui é um Lugar de Paz. Por meio da promoção de campanhas e realização de atividades recreativas, os alunos aprendem a combater a violência, o bullying, o racismo, entre outros.