As eleições municipais desse ano contam com um número recorde de candidatos. Os postulantes a prefeito e vereador são 556.033, cerca de 60 mil a mais (+11%) que em 2016, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) coletados pela Gazeta do Povo em 22 de outubro. Desses, 19.230 disputam as prefeituras e 517.328 são postulantes às Câmaras Municipais. Outros 19.475 estão registrados como candidatos a vice na chapa de concorrentes a prefeito.
Ainda de acordo com os dados do TSE, a maioria dos partidos teve aumento no número de candidaturas. Assim como em 2016, o MDB é o líder no ranking, com 44.998 postulantes – 509 a mais que há quatro anos. O partido é um dos que mais recebeu dinheiro do fundo eleitoral de 2020: a legenda está atrás, apenas, de PT e PSL, e recebeu R$ 148 milhões.
Já o PSL, que recebeu R$ 199 milhões, mais que dobrou o número de candidatos de 2016 para cá, pulando de 10.528 para 22.130 – um aumento de 110%. Em crescimento percentual, a legenda que elegeu Jair Bolsonaro (sem partido) à Presidência só perde para o Podemos (+111%) – que tem 20.653 candidatos – e para o Novo, que registrou um crescimento de 331%. O Novo, porém, continua sendo uma das siglas com o menor número de candidaturas: são 620 em todo o país.
O PT – que é o mais beneficiado pelo dinheiro do fundo eleitoral, com R$ 201 milhões – apresenta 31.691 candidatos, 7.420 a mais que em 2016 (um crescimento de 31%).
Uma das razões para o boom das candidaturas é a nova legislação eleitoral, aprovada em 2017, que está sendo aplicada pela primeira vez nas eleições de 2020. “Ao proibir as coligações nas eleições proporcionais [para vereadores], automaticamente gerou-se a possibilidade de cada partido lançar até 150% das cadeiras. Naturalmente, a fim de fazer frente ao quociente eleitoral – que antes contava com o reforço da coligação–,- os partidos tenderam a lançar muitos candidatos”, explica a advogada e professora Juliana Bertholdi.
Além disso, as legendas foram incentivadas a lançar candidaturas próprias para prefeito, com o objetivo de dar visibilidade aos candidatos a vereador e, assim, tentar eleger o maior número de representantes nas Câmaras Municipais. Outro fator que contribuiu para o aumento no número de candidatos foi o crescimento do fundo eleitoral, que nessa eleição ultrapassa os R$ 2 bilhões. Mais dinheiro pode ter gerado uma maior segurança dos partidos em lançar mais candidatos.
Na outra ponta, os partidos que encolheram
Se a maior parte dos partidos cresceu em número de candidatos há, por outro lado, legendas em que houve diminuição na quantidade de concorrentes. Apesar de estar entre as legendas com mais candidaturas – com 33.114 nomes –, o PSDB encolheu 7% em relação a quatro anos atrás. Os tucanos receberam R$ 130 milhões do fundão.
Na esquerda também há partidos que encolheram. O Psol tem 4.740 concorrentes, uma redução de 14% em relação a 2016 – o que equivale a 768 nomes. A legenda foi beneficiada com R$ 41 milhões do fundo eleitoral.
O PcdoB, também à esquerda, continua com um número expressivo de candidaturas (10.687), embora sejam cerca de 1,5 mil a menos que há quatro anos (-13%). A sigla teve repasses do fundão na ordem de R$ 31 milhões.
“É certo que partidos mais jovens apresentarão maior crescimento, uma vez que ainda estão se estabelecendo no cenário nacional. No entanto, o enxugamento de alguns partidos pode significar uma consequência da cláusula de barreira, que diminuiu o acesso ao fundo partidário, impossibilitando o lançamento de muitas candidaturas viáveis”, analisa Bertholdi.
Os nanicos PSTU, PMB e PCB, por exemplo, despencaram: os partidos encolheram, respectivamente, 37%, 38% e 69% em número de candidaturas. As legendas receberam, cada uma, R$ 1,2 milhão do fundão.
PSL e PT de mãos dadas: as alianças inusitadas de 2020
Além do número de candidaturas, as coligações em algumas cidades do país chamam a atenção por juntarem partidos antagônicos no espectro ideológico e no Congresso. O caso mais emblemático é a aliança entre o PSL, ex- partido de Bolsonaro, e o PT.
Segundo levantamento do site Congresso em Foco, com base nos dados do TSE, os dois partidos estão coligados em 136 municípios, sobretudo pequenos. Mas a aliança ocorre, também, em cidades médias, como Belford Roxo (RJ), de 470 mil habitantes. No município, o candidato Waguinho (MDB) formou uma chapa de 18 partidos, incluindo PT e PSL.
Na maioria dos casos, as legendas que compõem as alianças "diferentonas" apoiam um candidato a prefeito de outro partido, que não o PT ou o PSL – mas nem sempre. Em Urucurituba (AM), por exemplo, um candidato petista é apoiado pelo PSL. O mesmo se repete em Santana do Itararé, no Paraná, e em Vila Boa, em Goiás. Em Rio do Campo, município de 6 mil habitantes em Santa Catarina, ocorre o inverso. O PT apoia o candidato a prefeito do PSL, Alemão Contezini.
Em alguns lugares, a tentativa de unir as duas legendas antagônicas não deu certo. Em Itapirapuã Paulista, no interior de São Paulo, o diretório estadual do PSL mandou desfazer a aliança com o PT. Na pré-campanha, a petista Sirlene Almeida Camargo havia tentado montar uma chapa com o policial Aguinaldo Domingues da Cruz, do PSL.
E não é só o PT: em 66 municípios, o PSL está coligado com o PCdoB, segundo levantamento da Gazeta do Povo. Um exemplo ocorre em Araioses, cidade de 38 mil habitantes no Maranhão, onde a candidata a prefeita Luciana Trinta (PcdoB) é apoiada por PT, PSL e Pros. Em São Domingos do Araguaia, município de 25 mil habitantes no Pará, a situação é inversa. O candidato do PSL, Dika, lidera uma coligação que engloba PcdoB e PDT, entre outros partidos. O mesmo se repete em São Pedro dos Ferros, cidade de 8 mil habitantes em Minas Gerais, onde Newton Avelar, do PSL, é apoiado por PcdoB e PT.
Além disso, o PcdoB é coligado com o PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão, em 34 cidades. Em Nhamundá (AM), o candidato do PRTB, Mantegão, montou uma chapa com o petista Josino Beré. Em Maués, cidade de 60 mil habitantes do Amazonas, o candidato do PL, Alfredo Almeida, montou uma ampla coligação que vai do PRTB ao PCdoB, passando pelo Psol.
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