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Máscara deixada no Parque Barigui, em Curitiba
Coronavírus aumenta importância da internet na campanha, mas corpo a corpo não está descartado.| Foto: Lineu Filho/Tribuna do Pararana

A pandemia da Covid-19 não apenas adiou o processo eleitoral deste ano como, também, forçou os candidatos a fazerem campanha de um jeito diferente do usual. Com o novo coronavírus ainda em circulação por todo o Brasil, o tradicional corpo a corpo vai ser reduzido na comparação a pleitos anteriores. A internet, que já vinha ganhando a atenção de candidatos e partidos políticos, será ainda mais importante para angariar votos.

Grandes comícios, apertos de mão, abraços, selfies, distribuição de panfletos, tudo isso está praticamente descartado – ao menos de acordo com as recomendações dos órgãos de saúde e do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plano de segurança sanitária do TSE sugere que sejam evitados eventos com grande número de pessoas, que a máscara seja usada em atos de campanha e que estes sejam realizados em locais amplos e abertos, de preferência sem a distribuição de materiais impressos.

A preocupação com o contágio nesses momentos fez o Ministério Público Eleitoral orientar procuradores regionais eleitorais e procuradores-gerais de Justiça para que as normas sanitárias sejam cumpridas. “O Ministério Público estará atento ao cumprimento das normas sanitárias e, quando houver abuso, acionará a Justiça Eleitoral para que coíba a ação irregular e aplique multa”, diz o vice-procurador-geral eleitoral, Renato Brill Góes.

A consequência das restrições é a migração das campanhas para o mundo digital, em que as redes sociais se tornam centrais. “O corpo a corpo será bem reduzido não só pela pandemia, mas também pelo período curto de campanha. Por isso, os candidatos vão precisar abusar das redes sociais para chegar aos eleitores”, analisa o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Hilton Cesário Fernandes.

Essa será uma vantagem para os candidatos que já usam as redes sociais e que contam com profissionais especializados. Fernandes alerta, também, que os políticos que buscam a reeleição saem na frente. “Os candidatos que já ocupam cargos e tentam a reeleição acabam tendo vantagem na situação em que a exposição vai ser menor, com menos corpo a corpo. Os candidatos novos terão mais dificuldades para se apresentarem”, diz.

Por causa do coronavírus, eventos presenciais de campanha ganham novos formatos

O uso dos canais digitais, porém, não significa que a eleição se dará somente nesse ambiente. O corpo a corpo ainda vai existir, mesmo que de uma maneira diferente. Além de todos os cuidados, como o uso de máscaras e álcool em gel, os eventos mudaram de formato. Na esteira do cinema e dos shows drive-in, os comícios vão no mesmo caminho. No período de convenções esse artifício já foi usado e deve ser intensificado para aproximar os candidatos dos eleitores, mesmo que em menor número.

“Nesse momento é muito difícil atuar em atacado, como se fazia antes com grandes comícios e caminhadas. Mas o varejo precisa acontecer, nem que seja com menos pessoas”, comenta o especialista em marketing eleitoral e professor da PUC Goiás, Marcos Marinho. Ele reforça que os coordenadores das campanhas devem tomar todas as medidas para protegerem não só os eleitores, mas também a equipe e o próprio candidato. Um possível contágio pode custar a eleição.

Além disso, em cidades onde a pandemia segue em estágio avançado, o corpo a corpo pode ser visto negativamente pelo eleitorado, especialmente aquele mais sensível às consequências da Covid-19. “Pode acontecer rejeição ao corpo a corpo e a qualquer tipo de evento que acumule pessoas. Isso pode ser mal visto e custar votos”, diz Fernandes.

E, apesar da facilidade e da crescente importância da internet nas eleições, ela pode não garantir os votos necessários. “Os candidatos que se mantiverem a distância dos eleitores, fazendo uma campanha simplesmente virtualizada, sem criar um vínculo com o público, vão se surpreender. Ele pode ter uma rede social com muito engajamento e na urna ter bem menos votos do que o concorrente”, reforça Marinho.

No interior, uso da internet ainda fica em desvantagem

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 68,2% dos municípios do país tem menos de 20 mil habitantes — são 3.670 cidades. Nesses lugares, a realidade não segue a mesma lógica. A aposta na internet pode fazer sentido nas capitais e nos grandes centros urbanos, mas pode ser uma estratégia equivocada nessas cidades menores. Com acesso restrito ou mesmo sem acesso a tecnologias digitais, é o contato físico que vai fazer a diferença.

“Os eleitores de municípios menores estão acostumados com a campanha corpo a corpo e valorizam muito isso. Eles querem apertar a mão do candidato. Por isso é uma relação diferente na comparação com os grandes municípios”, esclarece Fernandes, da FESPSP.

Nesses municípios, é muito comum que os candidatos já sejam conhecidos pela população local. Estar presente nas ruas, mesmo que com algum distanciamento social e cuidados sanitários, é fundamental. Sem contar que em locais onde a Covid-19 está controlada, o tradicional aperto de mão terá peso na hora da votação.

“Acreditar que vai ser suficiente só disseminar conteúdos na web para interagir e conquistar o eleitorado é muita inocência”, opina Marinho. “Esse generalismo de que a web vai ser a grande estrela da campanha eleitoral é não perceber o que é uma eleição municipal no Brasil”, complementa.

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