Poucas propostas, muitos ataques e dezenas de ações na Justiça Eleitoral. Esse foi o resumo das duas semanas de campanha no segundo turno para a Prefeitura do Rio de Janeiro, disputada por Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos). O desfecho da eleição ocorre neste domingo (29).
Paes, que comandou a cidade entre 2009 e 2016, passou para o segundo turno na frente do atual mandatário da capital fluminense: 37,01% contra 21,9% dos votos válidos. A relativa proximidade de votos se esvaiu nos últimos dias, segundo pesquisas de intenção de voto.
Levantamento do Datafolha, divulgado na última quinta-feira (26), aponta um cenário praticamente decidido. Paes tem 70% das intenções de votos válidos, enquanto Crivella soma 30% (veja a metodologia da pesquisa abaixo).
Essa disparidade gerada desde o começo do segundo turno fez com que o atual prefeito partisse para o ataque, acusando inicialmente o adversário de ser corrupto. “Agora eu te pergunto, como foi a administração do meu adversário? Ele teve R$ 15 bilhões a mais, porém o governo dele foi cheio de corrupções. O governo mais corrupto da história do Rio de Janeiro”, disse em propaganda eleitoral.
Crivella se refere ao caso em que Paes se tornou réu em 8 de setembro, acusado de ter recebido cerca de R$ 10,8 milhões em propinas de executivos da Odebrecht entre junho e setembro de 2012. Na denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE) do Rio, o valor seria usado para custear a campanha de reeleição do ex-prefeito em 2012.
No entanto, o momento que mais repercutiu na campanha ocorreu em 19 de novembro, quando Crivella afirmou, em um vídeo gravado ao lado do deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que, se Paes vencesse a eleição, o Psol comandaria a pasta da Educação e levaria pedofilia às escolas.
“Tem um inimigo que, se pudesse, daria outra facada no Bolsonaro, que é o Psol. O Psol está com Eduardo Paes. O Psol, dizem, vai tomar conta da Secretaria de Educação. Agora você imagina, pedofilia nas escolas”, declarou o prefeito.
Além do vídeo, a campanha do prefeito distribuiu panfletos dizendo que Paes é defensor da legalização do aborto, das drogas e do “kit gay” nas escolas municipais.
Como resultado, a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) do Rio apresentou uma denúncia contra Crivella e Andréa Firmo (Republicanos), candidata à vice. Na peça protocolada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), a PRE aponta difamação eleitoral e propaganda falsa em campanha.
Paes reage e rotula Crivella de “Pai da Mentira”
Esse episódio fez com que Paes reagisse com mais força na propaganda eleitoral e nas redes sociais. O candidato do DEM adotou o apelido “Pai da Mentira” para se referir ao adversário. Em vídeos e postagens na internet, o termo é bastante repetido.
“Agora, pasmem, o 'Pai da Mentira' tá falando que eu promoveria a pedofilia nas escolas. É muito desespero. Todo mundo sabe o quanto eu cuidei das crianças e da educação. Eu ando de cabeça erguida, rebatendo essa mentirada e apresentando as minhas propostas”, disse Paes em um vídeo de campanha.
“Depois de dias anunciando que apresentaria uma delação e um dossiê bombástico contra mim, o Crivella não apresentou nada. Era só mais uma Fake News do 'Pai da Mentira' para aumentar a audiência da TV do 'Tio'”, escreveu o ex-prefeito, em referência à TV Record e ao proprietário Edir Macedo, tio de Crivella e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, onde o prefeito é pastor licenciado.
A atuação de Crivella na Igreja Universal tem sido alvo de críticas por parte de Paes. Para o ex-prefeito, política e religião não podem ser misturadas. Isso porque o candidato do DEM sabe que Crivella tem uma boa aceitação por parte dos eleitores evangélicos.
“Chega de demagogos que misturam política com religião. Sabe o que quero contar pros meus filhos no futuro? É que o meu voto libertou a cidade do pior prefeito da história do Rio. Faça parte da história. Não deixe de votar. Crivella nunca mais”, diz uma atriz na propaganda eleitoral de Paes.
As acusações dos dois lados têm sobrecarregado o TRE-RJ. Até o fechamento desta reportagem, Paes já tinha movido 53 ações contra Crivella. Já o prefeito foi ao TRE-RJ 38 vezes contra o adversário.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
- Sob encomenda da Folha de S. Paulo e da TV Globo, o Datafolha ouviu 1.148 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 24 e 25 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-03404/2020.
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