Oito dos 16 candidatos à prefeitura de Curitiba se reuniram em um palco montado na Praça da Espanha em um evento organizado por eles mesmos para suprir a ausência de debates nesta campanha eleitoral. O local foi escolhido pela proximidade à residência do atual prefeito e candidato à reeleição, Rafael Greca (DEM), que segundo seus adversários tem fugido do debate. Veja o que ele respondeu no fim desta reportagem.
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Todos os participantes tiveram cinco minutos para falar e concentraram seus discursos em críticas à atual administração da cidade e à figura do prefeito. Participaram do evento João Arruda (MDB), propositor do encontro; Camila Lanes (PCdoB); Professora Samara (PSTU); Letícia Lanz (Psol); Paulo Opuszka (PT); Professor Mosselin (PV); Eloy Casagrande (Rede); e Fernando Francischini (PSL).
“Nem precisaria fazer uso da palavra e, muito menos, pedir voto hoje”, declarou Arruda, em seu discurso. “O movimento de solidariedade que estamos tendo aqui, com a harmonia entre candidatos de diferentes siglas para buscar espaço para a democracia fala por si só”, prosseguiu, para depois fazer seu ataque ao prefeito. “Fico decepcionado em não termos o prefeito aqui para fazer debate em alto nível e esclarecer algumas perguntas que todos temos, como a prioridade em socorrer as empresas de transporte na pandemia, a terceirização de UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] para empresas envolvidas em corrupção no Rio de Janeiro e até o alto preço da água que ele toma com custo para o erário”.
Professora Samara afirmou que a ausência de debate não é uma marca de Greca apenas durante a eleição, dizendo que ele também agiu desta forma em sua gestão. “É bom lembrar que o prefeito não quis debater o pacotaço. Mandou a sessão da Câmara [Municipal] para a Ópera de Arame, longe do povo, para aprovar seu projeto que foi um ataque ao direito dos professores. É por isso que defendemos a possibilidade de mandatos serem revogados pela população, caso o prefeito eleito aja contra o povo”, disse. A candidata foi a única a criticar também um dos adversários presentes no encontro, lembrando o episódio de 29 de abril de 2015, para atacar Francischini, dizendo que “um candidato que, quando secretário, reprimiu com violência policial uma manifestação de professores não pode ser considerado democrático”.
Falando logo depois de Samara, Francischini disse que o momento não era para debater posição política. “Independentemente de mais à direita ou à esquerda, quem está aqui hoje está para defender a democracia, o debate, para discutirmos o melhor para a cidade. Radicalismo, agora, só vai beneficiar o atual prefeito, símbolo da velha política, das negociações de bastidores, dos acordos para tirar candidaturas”, disse o candidato.
Uma das falas mais contundentes, apesar de curta, foi de Letícia Lanz. A candidata do Psol usou menos de três minutos do tempo que tinha disponível, mas foi dura no recado. “Eu estou com muita raiva. Não tenho cargo público, sou uma trabalhadora, sou obrigada a largar minhas obrigações que geram renda e, sendo de dois grupos de risco para a Covid-19, vir aqui lembrar que o homem público tem responsabilidade com a população. Eu estou com muita raiva, estou indignada por não poder debater com Rafael Greca o que ele está fazendo com a cidade”, declarou.
Eloy Casagrande destacou seus trabalhos na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que, segundo o candidato, podem ser as soluções que a cidade está buscando para urbanismo, meio ambiente e, principalmente, moradia popular. “Quero apresentar essas ideias à cidade, mas não tenho tempo de tevê e não temos debate. Quis apresentar essas ideias para a prefeitura, mas nos fecharam as portas”, criticou.
Camila Lanes, por sua vez, falou que se Rafael Greca quiser continuar sendo prefeito, precisa dar respostas à sociedade, “sobre por que fechou creches e unidades de saúde, por que Curitiba tem a tarifa de transporte mais cara do Brasil, por que o curitibano está vivendo 36 horas com água e 36 horas sem água. A ausência do prefeito neste debate é reflexo do que foi sua gestão. Onde esteve Rafael Greca nos últimos quatro anos?”, questionou.
Paulo Opuszka destacou o momento histórico de se utilizar a praça pública para o debate político. “Não quero falar sobre as propostas do PT. Quero aproveitar este momento para falar do que estamos vivendo hoje. Curitiba foi uma das cidades mais importantes para a retomada da democracia. E a democracia brasileira volta a estar ameaçada. Então, Curitiba e os partidos democráticos que aqui estão, precisam voltar a dar a resposta da rua, da praça pública, em defesa da democracia, do debate plural”.
Professor Mocellin fez o discurso mais inusitado, pedindo voto para todos os candidatos. “Se não quiser votar em mim, por não me conhecer direito, vote em Camila Lanes, Professora Samara, Paulo Opuszka, Eloy Casagrande, Letícia Lanz, Fernando Francischini, mas não vote nele”, finalizou, se referindo ao atual prefeito.
Os candidatos ainda combinaram de fazer um novo debate na próxima semana em frente à Prefeitura da cidade e um terceiro encontro na Praça Santos Andrade.
Rafael Greca diz ser vítima de ataques orquestrados dos adversários
Questionado sobre as acusações e críticas recebidas em coro pelos adversários no pleito de novembro, o prefeito Rafael Greca se manifestou por meio de nota. Disse ser vítima de ataques orquestrados e que, em vez disso, os candidatos deveriam apresentar suas propostas. "Para mim, o desaforo é a ausência do argumento". Confira na íntegra:
A legitimidade de todo debate pressupõe o conhecimento de causa. Ficou claro que meus adversários não o tem, pois a estratégia dos mesmos é de fazer ataques orquestrados à minha gestão e à minha pessoa. Preferia que eles tivessem apresentado suas propostas para a cidade. Para mim, o desaforo é a ausência do argumento.
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