A candidata do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) à prefeitura de Curitiba, Letícia Lanz, é psicanalista, economista e mestre em sociologia. Mineira, mora em Curitiba há 25 anos e é a primeira mulher trans a disputar o cargo máximo do executivo municipal na capital paranaense. Logo abaixo, ela responde a três perguntas feitas pela Gazeta do Povo. Confira:
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Por que a senhora se considera a melhor opção para a prefeitura de Curitiba e qual diria que é o diferencial do seu projeto em relação aos dos demais candidatos?
Eu sou a única pessoa que traz um projeto fundado em princípios gerais que devem orientar a administração de um município em pleno século 21 e em plena pandemia: defendo a ideia de “economia do cuidado”, como oposição à “economia do mercado”. A economia do cuidado é uma economia essencialmente feminina, sem a qual ninguém sobrevive. Eu e você, por exemplo, não estaríamos aqui agora se não tivesse havido alguém para cuidar de nós, dando alimento, trocando a roupa, limpando a casa – e todo esse trabalho não gera sequer um centavo de recompensa para as mulheres. O lucro buscado, na economia de cuidado, é o bem-estar das pessoas.
Já a economia do mercado, ao contrário, é uma economia masculina, dominada pela concorrência, pela competição e pela mercantilização de tudo, produzindo apenas o lucro para os espíritos mais empreendedores, deixando largas parcelas da população completamente a descoberto. Para essas pessoas que operam na economia de mercado, pouco importa se o meio ambiente está preservado, ou se os empregos das pessoas serão mantidos, desde que eles mantenham o seu lucro. Então, eu trago a ideia da economia do cuidado contra a economia do mercado. Um administrador, quando assume uma cidade, tem que tomar essa decisão. O governo deve existir em função das pessoas.
No debate na televisão entre os candidatos à prefeitura, a senhora foi a que mais alfinetou os concorrentes, questionando-os, inclusive, em relação a votos dissidentes da opinião dos partidos aos quais pertencem. Por sua vez, desde que se lançou pré-candidata, a senhora tem descartado adotar o "programa radical de enfrentamento à burguesia local", defendido por militantes do Psol, e tem defendido um discurso mais brando. A escolha por adotar esse discurso menos radical foi sua ou do partido, e como isso é encarado internamente no Psol?
Eu não sei, você teria que perguntar a cada membro do partido. Eu acho que aqueles pensamentos mais atrasados ainda defendem discursos de DCE, de 30, 40, 50 anos atrás. Assim como na direita existem pessoas que ainda estão vivendo 500 anos atrás, também na esquerda tem isso. Então a única coisa que eu sei é que nós precisamos estar sintonizados com a realidade, temos que ter coragem para olhar os fatos que estão nos envolvendo no momento, e ter uma postura firme em combater o que está errado, combater a hipocrisia de certos candidatos prometendo mundos e fundos e se mostrando como salvadores da pátria. Eu defendo uma pós-esquerda. Na esquerda, o que existe hoje são discursos velhos, rançosos, que são facilmente demonizados por essa direita radical que se encontra no poder hoje. Então temos que ter um discurso baseado na realidade, nas necessidades da população, para nós criarmos uma sociedade baseada em solidariedade, sustentabilidade e justiça social. A minha posição é essa, agrade ou não a quem quiser, é ela que eu vou defender até o final dessa campanha.
O seu plano de governo fala em reestatização do transporte público, com tarifa zero para usuários a médio prazo, além de novos concursos públicos, diminuição de jornadas de trabalho do funcionalismo, todas medidas que podem significar gastos maiores para a cidade. Como, na prática, vai ser possível equacionar esse tipo de gasto em um momento de crise econômica pós-pandemia?
Parando de dar subsídios para grandes capitais, como o prefeito que passou cerca de R$ 200 milhões para as empresas de transporte urbano. Se ele tivesse aplicado metade desse dinheiro para prestigiar os pequenos empresários que existem em nossas periferias, ele teria segurado o emprego de muitas pessoas. Mas ele preferiu ajudar as empresas de transporte que já nadam em cima da maior tarifa que é paga nesse país. O orçamento que eu proponho é o orçamento participativo, que foi implantado pela primeira vez no governo do Olívio Dutra, em Porto Alegre, e que hoje é uma realidade em grandes cidade do mundo, como Barcelona, Lisboa, Paris. No orçamento participativo é a população que decide o que vai ser feito, não é o prefeito magnânimo, super-herói que entende de tudo, que vai decidir, e sim a população, com a participação dos especialistas.
O orçamento define a vida cidade, mas hoje ele está sendo decidido unilateralmente, pelo prefeito e seus assessores. Em nome de quem? Da economia do cuidado? Não, da economia do mercado. Eu te digo que tem dinheiro sobrando para creches, para saúde - que está sendo privatizada para gerar lucro para terceiros. Dinheiro aparece, da noite pro dia, ele sai de debaixo do colchão. A questão é que ele tem que ser aplicado naquilo que o povo precisa. Leia mais sobre os candidatos e as eleições em Curitiba.
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