Uma das revelações das eleições 2018, quando elegeu o governador mineiro Romeu Zema e a primeira bancada no Congresso, o partido Novo teve suas expectativas frustradas nas eleições municipais desse ano. Dos 30 candidatos a prefeito – todos em chapas puro-sangue –, apenas um está no segundo turno: Adriano Silva, em Joinville (SC).
Ao todo, o partido lançou 620 candidaturas para os cargos de prefeito, vice e vereador. Dos 560 concorrentes a vereador, 29 foram eleitos em 19 cidades, todas no Sul e Sudeste do país. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha eleitoral do Novo custou R$ 23 milhões, todos oriundos de doações privadas.
Em Minas, onde Zema se elegeu com quase 72% dos votos dois anos atrás, o partido conquistou três vereadores em Belo Horizonte e um em Poços de Caldas. A expectativa era obter cadeiras também em Juiz de Fora e Contagem. Em São Paulo, o Novo passou de um vereador para dois. No Rio, a legenda conquistou apenas uma cadeira na Câmara Municipal.
O sentimento geral é de decepção, apesar do avanço em relação a 2016, quando o partido participou pela primeira vez das eleições. Há quatro anos, o Novo se apresentou em cinco municípios e elegeu quatro vereadores. Dois deles foram reeleitos nesse ano: Janaína Lima, em São Paulo; e Felipe Camozzato, em Porto Alegre.
O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, vê o copo meio cheio, graças à eleição da vereadora Indiara Barbosa, a mais votada em Curitiba, e de representantes em todos os municípios de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul onde o partido apresentou candidatos. No total, são 16 eleitos em quatro cidades gaúchas e seis catarinenses.
“Em São Paulo e no Rio de Janeiro ficou a sensação de que nós poderíamos ter ido um pouco melhor. Mas, para aquilo que nos propusemos a fazer, foi dentro do esperado, que era eleger entre 25 e 40 vereadores. A sociedade tinha uma expectativa maior pela exposição que o Novo teve em 2018, mas as eleições municipais são diferentes”, avalia Ribeiro.
São Paulo foi palco de um dos piores desfechos para o Novo. O candidato a prefeito da legenda, Filipe Sabará, se envolveu em várias polêmicas e acabou expulso do partido sob acusações de ter fraudado o currículo escolar apresentado no processo seletivo. Em Natal, Fernando Pinto desistiu da disputa para tratar uma pneumonia decorrente da Covid-19.
Um dia após o primeiro turno, o fundador e ex-presidente do Novo, João Amoêdo, não escondeu o desapontamento com o resultado do pleito. “O nosso desempenho em 2020, diferente das duas eleições anteriores, ficou aquém daquilo que se esperava do Novo. Isso não tira o mérito e os parabéns aos eleitos e aos candidatos alinhados com os valores da instituição, mas deve servir como alerta e reflexão”, escreveu no Twitter.
Após crescimento, Novo enfrenta divisão interna
Em entrevista ao portal O Antagonista, Amoêdo apontou qual seria a causa do mau desempenho. “Eu não estou mais no comando do Novo. O partido decidiu adotar uma postura de independência em relação a Bolsonaro. Eu tenho adotado uma linha de clara oposição, porque acho que a gestão dele é muito ruim para o país”, disse o fundador da legenda.
Segundo o cientista político Christian Lohbauer, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Amoêdo em 2018, a postura do fundador é mais um sinal de que o partido carece de unidade. Hoje, de acordo com Lohbauer, há pelo menos três focos de opinião no Novo: Amoêdo, que é crítico de Jair Bolsonaro; a bancada de deputados, que vota de acordo com os princípios partidários; e Zema, que é alinhado ao governo federal.
"O maior problema que temos hoje é de governança interna. Nosso diretório nacional está muito distante das bases. Temos dificuldade em estabelecer essa comunicação. Não há um sentimento de unidade, de fazer parte de um grupo de iguais: é um 'receba ordens e faça'. Não é um partido que acolhe”, afirma Lohbauer.
Segundo ele, a falta de debate interno começou depois das eleições de 2018, quando a organização cresceu. As decisões hoje são tomadas pelo diretório nacional, no qual Amoêdo tem um peso muito grande. A solução, de acordo com Lohbauer, seria criar um conselho político que trace a linha do partido e dialogue com a base.
A visão não é compartilhada pelo presidente da legenda. “Vejo pessoas em situações diferentes que compartilham dos mesmos princípios e valores, mas que têm algumas visões e intensidade de críticas diferentes”, afirma Ribeiro.
Articulações para 2022: partido pode ter candidatura própria
Ainda é cedo para dizer o que será do Novo nas eleições de 2022. O que é certo é que as articulações já começaram. Amoêdo já conversou com os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta (DEM). Moro, por sua vez, já se reuniu com Luciano Huck. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sugeriu a criação de uma frente ampla que englobe a centro-esquerda para derrotar Bolsonaro.
“No Brasil, a gente sempre cai naquela armadilha de ‘vamos procurar alguém conhecido, alguém que seja viável eleitoralmente'. Aí, quando consegue eleger, tem uma gestão ruim. O país não avança, não faz reformas, não consegue crescer”, disse Amoêdo na entrevista concedida para O Antagonista. Segundo ele, o risco de uma frente ampla é criar “uma junção vazia”.
O presidente do partido, Eduardo Ribeiro, que também se diz receoso sobre essa possibilidade, pende para que o Novo dispute sozinho a presidência. “[Geraldo] Alckmin (PSDB) foi uma frente ampla e foi um fracasso [em 2018]. A prioridade do Novo é lançar uma candidatura própria a presidente. Falta definir o rito para escolher o candidato”, afirma.
A posição é compartilhada por Lobahuer. Segundo ele, a escolha do nome deve passar por um debate interno. A opção por uma candidatura de Zema é sem dúvida a mais forte, mas o governador ainda não deu sinais de que deseja concorrer. Além disso, uma eventual reeleição de Zema ao governo mineiro seria útil para eleger mais deputados federais.
Outro opção sugestiva é a do deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Marcel van Hattem, o mais votado do partido. Mas há dúvidas se não seria cedo lançar um candidato que, apesar de ser considerado uma promessa do partido, tem apenas 35 anos. Outras opções não se vislumbram no horizonte. "Se não tiver um rearranjo rápido, não vamos nos preparar para 2022", arremata Lohbauer.
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