Pelo menos cinco candidatos à prefeitura de São Paulo vão disputar o eleitorado conservador nessas eleições. E outros três, apesar de serem de centro ou centro-esquerda, podem adotar um tom mais à direita dependendo do desenrolar da campanha. O xadrez é fluido e a eleição paulistana tem os ingredientes para ser uma das mais incertas do país.
O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), vice-líder do governo na Câmara e do mesmo partido de Carlos e Flávio Bolsonaro, tenta colar a própria imagem à do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Bolsonaro começou agindo nos bastidores, costurando o acordo entre o Republicanos e o PTB de Roberto Jefferson para a indicação do vice, Marcos da Costa.
Nos últimos dias, o presidente compartilhou um vídeo produzido por Russomanno, com críticas ao deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) – o que foi considerado como uma primeira sinalização de que Bolsonaro deve se envolver mais ativamente na campanha em São Paulo. Em live na última quinta-feira (24), declarou que pode sim declarar seu voto na capital paulista.
"Se chegar um ponto tal e eu achar que posso influenciar (as eleições) nessas três cidades, vou me manifestar", declarou. Neste sábado, ele recebeu a visita de Russomanno no Hospital Albert Einstein, onde fez um procedimento para retirar um cálculo renal da Bexiga.
“Ele [Bolsonaro] vai se envolver no segundo turno se houver possibilidade de vitória. O presidente tem se mostrado muito mais esperto do que pragmático. Ele não faz questão de se associar [a candidatos] a não ser em situações específicas e em cidades menores”, avalia Kleber Carrilho, professor da marketing político da Universidade de São Paulo (USP).
Pesquisa Datafolha (veja a metodologia e o número do registro abaixo), divulgada na última quinta (24), aponta que Russomanno lidera a corrida pela prefeitura de São Paulo, com 29% das intenções de voto. O prefeito Bruno Covas (PSDB) é o segundo colocado, com 20% no cenário estimulado.
À direita, Joice e Arthur do Val também disputam conservadores em São Paulo
O apoio de Bolsonaro, entretanto, não é garantia de atração de votos – ao menos em São Paulo. Pesquisa do Ibope (veja metodologia e registro abaixo) revelou que, entre os paulistanos, 47% consideram o governo do presidente como ruim ou péssimo, e 24% classificam a administração como regular. Os que consideram o governo ótimo ou bom somam 27%.
É nesse espaço que buscam se firmar os candidatos conservadores que não têm o apoio de Bolsonaro (ou que buscam se contrapor a ele). Uma das integrantes desse grupo é a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), ex-aliada e hoje crítica do presidente. Na convenção do partido que oficializou a candidatura, ela se apresentou como a “direita racional, a direita que pensa”, que se opõe à “direita mais radical, que tem problemas em discordar”. Na agenda da candidata consta, também, a defesa da Lava Jato.
Arthur do Val (Patriota), conhecido também como Mamãe Falei, é outro candidato que disputa o eleitorado conservador. Integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), ele promete não usar um “único centavo de dinheiro público” na campanha, e diz ter arrecadado R$ 100 mil por meio do financiamento coletivo.
Ele defende a privatização do autódromo de Interlagos; o fim do rodízio e do que chama de "indústria da multa"; a liberdade para todos os aplicativos de mobilidade urbana; e um novo plano diretor, que aumente a densidade da cidade.
Além da esquerda e do prefeito, um dos alvos preferidos de Arthur é o padre Julio Lancellotti, conhecido pelo trabalho social na capital paulista. O candidato do Patriota já afirmou que Lancellotti faz “um mal danado para a cidade”. O padre, por sua vez, denunciou ser vítima de ataques na rua. O candidato promete, ainda, acabar com a cracolândia, um dos problemas históricos do centro da capital.
Candidato do Novo mira eleitores liberais
Quem tenta interceptar o voto liberal é Filipe Sabará (Novo), com uma agenda que prevê o “enxugamento da máquina, privatizações, combate à corrupção e fim dos privilégios”. Empresário, Sabará vende a imagem de gestor eficiente. Entre as propostas estão a regularização fundiária; o aumento da rede de esgoto e água tratada; e a melhoria das ciclovias.
Na quarta-feira (23), contudo, o Novo suspendeu temporariamente a candidatura de Sabará, sem explicar oficialmente o motivo. Sabará já se envolveu em pelo menos três polêmicas desde que anunciou a candidatura.
Primeiro, o candidato definiu Paulo Maluf o "melhor prefeito da história de São Paulo" – declaração pela qual, depois, se desculpou. Sabará também enviou uma retificação de sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com a Folha de S. Paulo, no dia 19 de setembro, Sabará declarou possuir patrimônio de R$ 15.686. No dia 21, ele informou ao TSE que seus bens somam R$ 5,1 milhões.
No final dessa semana, por fim, o candidato teve parte do currículo desmentido por uma faculdade em São Paulo.
Russomanno pode ganhar com a fragmentação da direita em São Paulo, diz especialista
“A fragmentação da direita beneficia Russomanno, porque é provável que o eleitor mais pragmático migre para quem tiver mais oportunidade. Essa fragmentação é muito mais justificada pela dissidência do bolsonarismo do que, por exemplo, divergências de interpretação do mundo ou de visão da sociedade”, avalia Marco Antonio Texeira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O quadro da direita contempla também Levy Fidelix (PRTB), que desde 1996 tenta se eleger prefeito de São Paulo. Conhecido pelas propostas folclóricas, o candidato promete mais uma vez a construção do aerotrem e a criação de dois boulevards sobre os rios Tietê e Pinheiros.
De acordo com Carrilho, da USP, dependendo do desenrolar da campanha e do desempenho da esquerda – o nome mais bem avaliado é o de Guilherme Boulos (Psol) –, Covas, Márcio França (PSB) e Andrea Matarazzo (PSD), candidatos que vêm de uma trajetória de centro ou centro-esquerda, podem ajustar o discurso para atrair o eleitorado mais conservador num cenário de contraposição.
Metodologia das pesquisas citadas
- O Instituto Datafolha ouviu 1.092 eleitores de São Paulo, presencialmente, entre os dias 21 e 22 de setembro. A pesquisa foi encomendada pelo jornal Folha de S. Paulo. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. O número de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é SP-06594/2020.
- Já a pesquisa do Ibope ouviu 1.001 eleitores da capital paulista entre os dias 15 e 17 de setembro. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa está o sob o registro no TRE-SP nº SP-04089/2020.
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