Prefeito eleito do Rio de Janeiro no domingo (29) com 64,07% dos votos válidos, Eduardo Paes (DEM) garantiu que está mais maduro e experiente em relação a quando assumiu o comando da cidade pela primeira vez, em 2009. Passados dois mandatos e uma eleição perdida para o governo do estado em 2018, a experiência adquirida ao longo desse período – ele está agora com 51 anos – será necessária para conseguir resolver os inúmeros problemas pelos quais a capital fluminense atravessa.
Nos dois primeiros mandatos, entre 2009 e 2017, a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 turbinaram os investimentos na cidade, notadamente em infraestrutura e mobilidade. O poder público conseguiu até mesmo colocar em prática o projeto de revitalização do porto, uma das áreas mais degradadas do Rio.
O bom relacionamento com os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff também facilitou a administração de Eduardo Paes. Até mesmo o ex-presidente Michel Temer direcionou recursos para o estado do Rio e que foram usados para sanar demandas da capital.
Hoje o cenário é outro. Não há recursos abundantes. Pelo contrário. O prefeito eleito terá de lidar com um rombo financeiro. Aliás, ele ainda nem sabe o tamanho do buraco no caixa da prefeitura. O déficit do ano passado de R$ 4 bilhões dá uma pista, e isso foi antes de todos os gastos extras forçados pela pandemia da Covid-19.
Não por acaso o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), derrotado nas urnas no domingo, avisou que não vai conseguir pagar em dia a primeira parcela do 13º salário dos servidores municipais.
Além disso, Eduardo Paes vai precisar se aproximar do presidente Jair Bolsonaro, que foi cabo eleitoral de Crivella. Em entrevista à GloboNews, o emedebista já acenou para o governo federal. Resta saber como será a resposta.
“Não tive apoio do presidente Bolsonaro. Ele apoiou a candidatura do Crivella, mas a eleição acabou ontem [domingo] às cinco horas da tarde. Mas foi o que eu disse a campanha inteira: vamos trabalhar em parceria institucional com o governo federal. O presidente Bolsonaro é do Rio. Você tem um monte de pessoas importantes em Brasília que são do Rio. O Rio precisa de ajuda neste momento. Nós vamos trabalhar integrados o tempo todo, buscando as soluções para os problemas”, disse Eduardo Paes nesta segunda-feira (30).
Saúde: prioridade de Eduardo Paes é a Covid-19
Eduardo Paes vai precisar contar com o governo federal para enfrentar o que ele mesmo considera o grande desafio do Rio, ou pelo menos o mais urgente: a Covid-19. Durante o discurso da vitória, o prefeito eleito adiantou que o assunto é prioridade para ele, tanto que já confirmou quem será o secretário da Saúde de seu futuro governo: o médico sanitarista Daniel Soranz, pesquisador da Fiocruz. Soranz já exerceu o cargo entre 2014 e 2016 na segunda gestão de Paes na capital.
“A primeira medida está na saúde pública, está na pandemia, que assolou a nossa cidade, o nosso estado, o Brasil e o mundo", disse Paes. “Nós precisamos recuperar as Clínicas da Família, prepará-las para o processo de vacinação, recuperar o abastecimento e a regularização de medicamentos”, completou.
Com o governo federal, o prefeito eleito espera negociar a liberação de testes para a detecção da doença e o recebimento da futura vacina. “Vamos começar a trabalhar primeiro para trazer muita testagem para a cidade do Rio de Janeiro. O governo federal tem uma quantidade muito grande de testes neste momento e a gente quer trazer, pelo menos, 400 ou 450 mil testes”, declarou em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
Em novembro, a cidade viu o número de casos e mortes devido ao novo coronavírus aumentar. Há, inclusive, fila de espera para leitos de UTI. Segundo informações da Secretaria de Saúde do estado, a ocupação das UTIs do SUS para o tratamento da Covid-19 chegou a 93% no sábado (28).
Com um mês pela frente antes de tomar posse, Paes não sabe como está a situação. Mesmo assim, garante que não vai fechar a cidade com lockdown, já que isso seria “extremo e desnecessário”. Para ele, o mais importante é enfatizar as medidas de distanciamento social e o uso de máscaras.
Educação: dois anos letivos em um
A educação será outro desafio para o prefeito eleito do Rio de Janeiro. Com a pandemia, o tema se torna ainda mais urgente. A grande questão para Eduardo Paes será recuperar o ano praticamente perdido na rede municipal de ensino e colocar em prática um plano para o retorno presencial dos alunos.
São mais de 640 mil estudantes que foram afetados pela pandemia. Em 2021, o calendário precisará acomodar dois anos letivos em apenas um. Isso se for possível retornar às aulas presenciais.
Paralelamente, o governo municipal vai precisar agilizar a distribuição de tablets com internet para que de fato o ensino virtual chegue a todos os alunos. No plano de governo, Paes prometeu que isso será feito.
Além das questões diretamente ligadas à pandemia, o prefeito eleito vai precisar aumentar as vagas em creches e pré-escolas, pois hoje não há espaço suficiente para atender toda a demanda da cidade.
Transporte: terminar o BRT que o próprio Eduardo Paes começou
Um dos marcos das gestões passadas de Eduardo Paes foi o BRT, o sistema de transporte coletivo que opera em corredores exclusivos para os ônibus. O BRT está em funcionamento desde 2012, mas nem todos os corredores previstos foram implantados, inclusive durante o último mandato de Paes.
Em relação aos trajetos, o desafio prioritário é concluir o BRT Transbrasil, que liga Deodoro ao centro do Rio. A obra, com investimento de mais de R$ 1,5 bilhão, deveria ter sido inaugurada em 2017. Mas isso não ocorreu.
Outro aspecto do BRT que precisa ser equalizado é o tamanho e o uso da frota de ônibus. Hoje é uma reclamação recorrente dos usuários a superlotação nos veículos, atrasando as viagens e as tornando menos seguras.
No plano de governo, Paes se comprometeu a entregar o corredor Transbrasil do BRT até o final de 2022, além de aumentar o número de veículos no sistema. Também se comprometeu a garantir ar-condicionado em pelo menos 80% dos ônibus do sistema de transporte público – algo considerado essencial para o conforto do usuário em uma cidade quente como o Rio.
Em 2017, após deixar a prefeitura, Paes chegou a ser multado em R$ 200 mil após ação do Ministério Público que o denunciou por não ter cumprido a meta de climatizar 100% da frota.
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