A candidatura de Clarissa Garotinho (Pros) à prefeitura do Rio de Janeiro é a primeira investida dela para um cargo no Executivo. E é também um teste de influência do clã Garotinho, liderado pelo pai dela, o ex-governador Anthony Garotinho, sobre os rumos políticos da capital fluminense e do estado como um todo.
Clarissa é deputada federal desde 2015 – em 2014 foi a segunda mais votada do estado, perdendo apenas para o agora presidente Jair Bolsonaro. Antes, havia sido deputada estadual, entre 2011 e 2014, e vereadora na capital, de 2009 a 2010. O projeto prefeitura do Rio é, até agora, o mais ambicioso na carreira política da candidata, que tem 38 anos.
Anthony Garotinho e a esposa, também ex-governadora do Rio, Rosinha Matheus, têm tentado alavancar a campanha da filha, especialmente nas redes sociais. A mãe tem compartilhado várias postagens da página oficial da candidata. O pai tem ido mais além, publicando vídeos pedindo votos para a filha.
“Então, eu quero dizer a cada um de vocês, que eu conto com o carinho e compreensão de cada um de vocês para que no próximo dia 15 de novembro deem um voto de amor ao Rio de Janeiro, [um voto] de confiança em um Rio de Janeiro para todos, votando na Clarissa Garotinho”, pediu Garotinho em um vídeo publicado no Facebook em 15 de outubro.
Ao mesmo tempo, a candidata tem usado o legado político dos pais para conseguir votos. Em materiais de campanha, estampa fotos com eles e, em alguns vídeos, faz questão de lembrar de quem é filha.
No primeiro vídeo da candidatura, com pouco mais de dois minutos, por exemplo, ela tenta se lançar como alguém independente dos pais, mas sem se distanciar completamente deles. “Eu acho que não sou nem mais Garotinho nem mais Rosinha, eu sou Clarissa”, disse. “Meu pai foi governador, minha mãe foi governadora e sei exatamente o que é uma pessoa estar sentada numa cadeira de prefeito e ter uma caneta de governador na mão”, completou.
Em entrevista ao jornal O Globo, Clarissa afirma que seu objetivo é fazer com que o eleitorado conheça seu trabalho. "Todo mundo me conhece e sabe que sou filha do Garotinho, mas acho que toda eleição majoritária é uma oportunidade de contarmos nossa própria história e mostrar o que a gente defende para cidade. Meu objetivo é mostrar para a população do Rio quem é Clarissa. Sou Clarissa Garotinho, vírgula e não um ponto final", disse.
Influência no interior, resistência na capital do Rio de Janeiro
Por enquanto, porém, o apoio dos pais não tem dado resultado. Na pesquisa Ibope divulgada em 15 de outubro, Clarissa aparece com 1% das intenções de voto. Uma demonstração de que a influência do clã Garotinho na capital não é a mesma do interior, especialmente o Norte Fluminense, o reduto da família – Garotinho e Rosinha foram prefeitos de Campos dos Goytacazes e o outro do filho do casal, Wladimir Garotinho (PSD), é candidato na cidade neste ano.
“Hoje ele é uma liderança regional com estrutura própria, mas sem a dimensão para se eleger governador, não tem mais essa densidade política”, analisa o cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Tadeu.
“Ele tem um filho candidato a prefeito em Campos e tem dominância em várias prefeituras no entorno. E no Rio colocou a Clarissa, que é uma representante do clã. Ela entra para ter visibilidade e, num eventual segundo turno, vai exigir que os candidatos negociem com Garotinho dependendo da quantidade de votos que ela tiver”, prossegue.
A figura de Garotinho está atrelada a casos de corrupção que, inclusive, o levaram à prisão em cinco oportunidades – ocasiões em que houve "perseguição, injustiça e humilhação", de acordo com Clarissa. Na mais recente, em outubro de 2019, a esposa Rosinha Matheus também foi presa.
Devido a um desses casos, ele foi impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de concorrer ao governo do Rio de Janeiro em 2018. Condenado por improbidade administrativa por supostas fraudes na saúde durante o mandato da esposa entre 2003 e 2006, o nome dele apareceu na urna, mas os votos para ele não foram contabilizados.
Segundo Tadeu, a imagem de Garotinho atrelada à corrupção também dificulta o impulsionamento da candidatura da filha na capital. “Não está necessariamente havendo um declínio disso, mas em algumas famílias pode estar ocorrendo um desgaste. É um desgaste natural do exercício do poder. Quem mais tempo exerce esse poder, mais desgaste sofre. É uma covariância”, avalia.
Além disso, a candidatura de Clarissa Garotinho sofreu um revés no último dia 14 de outubro, quando ela foi diagnosticada com Covid-19, impossibilitando o tradicional corpo a corpo de campanha por alguns dias. Os pais dela também foram infectados pelo novo coronavírus.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
Sob encomenda da TV Globo, o Ibope ouviu 1.001 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 13 e 15 de outubro. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob a identificação RJ-09221/2020.
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