Num movimento esperado desde o primeiro turno – quando ficou claro que as chances de vitória do candidato petista Jilmar Tatto eram escassas –, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o apoio do PT a Guilherme Boulos (Psol), que enfrenta o prefeito Bruno Covas (PSDB) no segundo turno da eleição municipal em São Paulo.
“Essa nossa campanha do segundo turno não é mais só do Psol, do PCB e da UP, hoje ela tem uma representação e uma força muito maior na cidade”, disse Boulos, na última quarta-feira (18). Além dos petistas, ele recebeu o endosso também de Orlando Silva (PcdoB), que teve 0,23% dos votos válidos no primeiro turno; de Marina Helou (Rede), que teve 0,41% dos votos válidos; e do PDT. O Psol também recebeu o apoio do PSB, que tinha Márcio França como candidato. França, porém, não participa da iniciativa.
O apoio do PT foi recebido com entusiasmo pela militância dos dois partidos. Na terça, Boulos participou de um evento na zona sul de São Paulo ao lado de militantes petistas, que contou com mais pessoas do que costumava ocorrer no primeiro turno. "É importante que a gente consiga transferir a votação do Jilmar [Tatto] para ele. Por isso, a gente está se engajando aqui na campanha", afirmou o vereador paulistano Antonio Donato (PT) ao UOL.
Apesar da alta rejeição de Lula entre os eleitores paulistanos – 54% deles não votariam "de jeito nenhum" em um nome indicado pelo petista, de acordo com pesquisa Datafolha realizada no início de outubro (veja a metodologia abaixo) –, na política prevalece a máxima de que “apoio não se nega”.
“Todos os eleitores e eleitoras que votam no PT, todos os eleitores que são de esquerda, todos os eleitores progressistas, todos que querem restabelecer a democracia no Brasil, têm agora o compromisso histórico de votar no companheiro Guilherme Boulos para prefeito de São Paulo”, escreveu o ex-presidente no Twitter, na terça-feira (17).
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o candidato petista à Presidência em 2018, Fernando Haddad, também se juntaram ao coro e se colocaram à disposição para ajudar na campanha do candidato do Psol.
Apoio do PT é "fundamental", diz Boulos
Apesar da rejeição do ex-presidente, Boulos só tem a ganhar com o apoio do PT, segundo Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. “Com Lula, a rejeição de Boulos aumenta. Mas, mesmo sem Lula, a rejeição dele já seria grande porque a centro-direita e a direita bolsonarista tendem a anular o voto ou a votar no Bruno Covas, que é visto como um mal menor”, avalia o especialista.
Em coletiva na terça-feira (17), o candidato do Psol definiu como “fundamental” o apoio do Partido dos Trabalhadores, e frisou a relação amigável com a legenda. “Fizemos no primeiro turno uma campanha com respeito mútuo, não caímos em armadilha, casca de banana, tendo lado e sabendo quem são os nossos adversários”, disse.
Ele acrescentou que Lula e Tatto devem participar de seu horário eleitoral, que começou nesta sexta-feira (20). “Vamos sim levar nossos apoiadores na televisão. Nós aqui não escondemos apoio”, completou o candidato.
O presidente do Psol, Juliano Medeiros, afirmou, em sabatina do UOL, na segunda-feira (16), que prescindir do apoio do PT seria um suicídio. "O PT tem muita rejeição, mas tem muitos apoiadores. Esses eleitores que votaram no PT são muito importantes, assim como quem votou no Orlando Silva, na Marina [Helou], ou quem não votou. No segundo turno, há que se receber apoio”, disse.
Medeiros afirmou, ainda, que Lula não participará da campanha de rua de Boulos por ser do grupo de risco para Covid-19. No primeiro turno, o ex-presidente fez campanha apenas na TV e na internet. Questionado sobre a possibilidade de o Psol disponibilizar para Lula o "papamóvel" usado por Luiza Erundina, Medeiros negou: "O protagonismo é de Boulos e Erundina, nenhum apoio pode obscurecer essa liderança", disse.
Presença de Lula deve nacionalizar o segundo turno em São Paulo
Com a entrada de Lula na arena paulistana, o tom da disputa vai abrir espaço para uma briga nacional, segundo o professor da Universidade Mackenzie. “Acaba sendo uma discussão mais nacionalizada porque, se o Bolsonaro teve enorme rejeição e isso acabou impactando Celso Russomanno, a rejeição de Lula também vai impactar Boulos”, avalia Prando. Por isso, segundo ele, o candidato do Psol deve usar de maneira muito parcimoniosa a figura de Lula e o próprio apoio do PT.
Se o antipetismo vai servir de munição para Covas atacar o adversário, Boulos deve responder no mesmo tom, colando ao prefeito a imagem do governador João Doria – que, em 2018, se elegeu com o slogan “BolsoDoria”. “Nosso adversário em São Paulo é o BolsoDoria, derrotar o autoritarismo, o projeto de atraso representado pelo [Jair] Bolsonaro, que derrotamos no primeiro turno, e agora o projeto elitista do PSDB e do Doria”, disse o candidato do Psol, na terça-feira (17).
Após a derrota de Russomanno, representante do bolsonarismo em São Paulo, o segundo turno é mais um teste para Lula e Doria, potenciais rivais nas eleições presidenciais de 2022, medirem a força nas urnas.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
- O Datafolha ouviu 1.092 pessoas em São Paulo, sob encomenda da TV Globo e da Folha de S. Paulo, entre os dias 5 e 7 de outubro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação SP-08428/2020.
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast
Auxílio Brasil: PT quer pagar benefícios sociais somente para quem se vacinar
Gestão da pandemia e retomada econômica: os desafios de Bruno Covas em São Paulo
DEM e PSDB esboçam 3ª via contra Bolsonaro e a esquerda em 2022
Eduardo Paes vai assumir o Rio com menos dinheiro e mais problemas. Veja os desafios