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De “Donald Trump Bolsonaro” a “João Cloroquina”: candidatos apostam em nomes de urna inusitados
| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

O encerramento do prazo de registro de candidaturas, ocorrido no último sábado (26), aponta para um número recorde de candidatos nas eleições de 2020. Até esta terça (29) já eram 547 mil registros computados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contra 497 mil de 2016. Se o número de candidatos aumentou, uma tendência continua a mesma: para chamar a atenção dos eleitores e atrair votos, alguns candidatos se apresentam com nomes de urna que são, no mínimo, inusitados.

Uma olhada rápida na lista de candidaturas divulgada pelo TSE revela uma extensa relação de nomes "criativos". A estratégia de alguns concorrentes, por exemplo, é buscar colar sua imagem à de políticos conhecidos do eleitorado.

Levantamento feito pela Gazeta do Povo com os nomes de urna dos candidatos a prefeito e vereador aponta que 193 candidatos se apresentam com "Lula" em seu nome de urna, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Outros 89, por sua vez, tentam atrelar sua imagem à do atual chefe do Executivo, com "Bolsonaro" na identificação. Entre os que escolheram o sobrenome "Bolsonaro", inclusive, um postulante a vereador pelo PSL na cidade de Laranjal do Jari (AP) chama a atenção por se apresentar como "Jair Bolsonaro" – assim mesmo, com o nome e o sobrenome do presidente.

Candidatos tentam, também, se aproveitar da força de legendas tradicionais, como o Partido dos Trabalhadores. São 380 os que colocam “do PT” no nome. O inusitado é que quatro deles são de outros partidos. Por outro lado, não há registros de candidaturas que tenham optado por usar “do PSL”, ex-partido de Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro não são os únicos políticos citados pelos candidatos: 107 usam o nome Tiririca – em referência ao humorista que se elegeu deputado federal por São Paulo, em 2010, com mais de 1,3 milhão de votos. Outros 17 apostam no sobrenome do ex-prefeito e ex-governador paulista Paulo Maluf.

A oposição entre esquerda e direita extrapola, também, as fronteiras nacionais, e ingressa na política norte-americana. Entre os candidatos a vereador, 19 usam o sobrenome do ex-presidente dos EUA Barack Obama, e três o do atual presidente, Donald Trump. Um deles, candidato a vereança de Brusque (SC) pelo PSL, resolveu fazer a sua própria versão da mistura entre Brasil e EUA, se apresentando como "Donald Trump Bolsonaro".

"Da padaria" e até "da UTI": os nomes ligados a profissões

Sobretudo nos pequenos municípios, os candidatos também costumam atrelar o próprio nome à profissão que exercem. São 972 os que usam a expressão “do posto”; 829 os que escolheram “da farmácia”; e 603 “da padaria”, por exemplo.

Outros 3.466 candidatos a prefeito e vereador usam a palavra “saúde” no nome. Há, ainda, 31 médicos, 2.292 enfermeiros e 1.285 candidatos que se identificam como doutor ou dr. Dois candidatos deixaram ainda mais clara a área de atuação ao incluir "da UTI" no nome.

Usada sem comprovação científica no tratamento precoce da Covid-19, a cloroquina se transformou em arma política na pandemia. No Rio, o Avante lançou a candidatura da vereadora Capitã Cloroquina. Já no município de Varre-Sai (RJ), João Cloroquina tenta a eleição a vereador pelo PRTB, o partido do vice-presidente Hamilton Mourão.

Religião e segurança pública também aparecem nos nomes dos candidatos

Além disso, são muitos os candidatos com nomes ligados às forças policiais e armadas. Generais, marechais, coronéis, sargentos, tenentes, cabos, policiais e delegados somam 3.657 concorrentes. Já cinco vereadores optaram pelo explícito “pistola”.

Candidatos que têm nomes de urna fazendo referência a religiões são ainda mais numerosos. Pastores, padres e missionários somam 4.998 nomes nas eleições de 2020 para prefeito e vereador. Entre eles, 16 candidatos a vereador se apresentam como João de Deus, numa possível referência ao medium condenado por abusos sexuais.

Há, ainda, candidatos como Marcelo Cordeiro de Deus (Cidadania), que disputa o cargo de vereador em Carmo do Cajuru (MG); Pastor Jorge o Servo de Deus Vivo, do PSC, que concorre em Alagoa Grande (PB); e Inês Gouveia Será Meu Deus, do Podemos, em Torrinha (SP).

Esporte e entretenimento não são esquecidos

No país do futebol não surpreende o alto número de candidatos que apelam para nomes de craques da bola. Pelé domina as escolhas com 186 menções, seguido pelo histórico rival argentino, Maradona, com 60. Seis candidatos se apresentam nas urnas com o nome Neymar.

Quem gosta de super-herói também pode encontrar o candidato ideal. Os Batmans derrotam os Wolverines por 12 a 11. Para os fãs de música, no município de Bandeirantes (PR) o PSD lançou o candidato a vereador Jean Lopes Shakira.

O que diz a lei sobre nomes de urna "criativos"

Como explica a advogada Juliana Bertholdi, a legislação limita os nomes de urna a 30 caracteres, podendo ser prenome, nome, sobrenome, cognome, nome abreviado, apelido ou nome pelo qual candidato é conhecido, desde que não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente.

A lei proíbe, ainda, o uso de expressões ou siglas que pertencem a qualquer órgão da administração pública. Por isso, “Fulano da Polícia Federal” ou “Ciclano da Fundação de Ação Social do Município”, por exemplo, não são aceitos pela Justiça Eleitoral. Para burlar a proibição, esses candidatos geralmente optam por nomes mais genéricos como “Fulana da Saúde”ou “Zé do Posto”.

Após o registro, os nomes devem passar pelo crivo dos Tribunais Eleitorais, encarregados de avaliar todas as candidaturas. “A expressão da lei que veda nomes ‘ridículos ou irreverentes’ é bastante lacônica, permitindo interpretações das mais diversas. Nomes como 'Barata Bigode da Van' e 'Zé da Dengue' foram deferidos pela Justiça Eleitoral, entendendo que não obstante sejam incomuns ou curiosos, não são ridículos. A tendência da Justiça Eleitoral é de ser liberal neste aspecto”, explica Bertholdi.

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