Líder na preferência do eleitorado em praticamente toda a campanha para a prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) viu Sebastião Melo (MDB) surpreender na hora mais importante e terminar o primeiro turno à frente dela — 31,01% contra 29% dos votos. Um cenário que torna imprevisível o resultado da eleição no 2º turno em Porto Alegre.
Com uma votação menos expressiva que a apontada na última pesquisa antes da votação — o Ibope a colocava com 40% dos votos válidos contra 25% do candidato do MDB na véspera da eleição —, Manuela terá agora de angariar votos de partidos mais alinhados à esquerda. O problema é que esse arco de aliança é limitado e pode não ser suficiente.
O Psol foi o primeiro a oficializar apoio à campanha dela. No pleito de domingo (15), a representante da legenda, Fernanda Melchionna, alcançou 4,34% dos votos. “O Psol é uma esquerda independente, que nunca se vendeu e nunca se rendeu. Nossa discussão para declarar apoio à Manuela D’Ávila não foi sobre composição de governo ou cargos. Nós fizemos um debate programático sobre o que queremos para o futuro da cidade de Porto Alegre”, garantiu Fernanda em postagem em uma rede social.
Rapidamente também houve um acordo com Montserrat Martins (PV) — ele somou apenas 0,22% —, que já anunciou que vai caminhar junto do PCdoB no segundo turno. Outro possível apoio pode vir da Rede, que esteve na chapa de Juliana Brizola (PDT) junto com o PSB.
E o apoio de Juliana, que teve 6,41% dos votos, pode ser fundamental. Mas, até agora, nem ela nem o PDT demonstraram para qual lado da disputa vão no 2º turno em Porto Alegre. E há ainda a possibilidade também de permanecer neutra.
"Estamos fazendo um esforço muito grande, sabemos que temos elementos em comum no nosso programa com essas candidaturas e estabeleceremos todas as pontes necessárias”, disse Manuela em transmissão ao vivo na manhã desta segunda-feira (16).
Além de uma possível aliança com esses partidos, a candidata do PCdoB já traçou a estratégia de convencer o eleitor que deixou de votar no domingo para ir às urnas no dia 29 de novembro, data do 2º turno em Porto Alegre. A cidade foi a capital com o maior índice de abstenção, atingindo 33,08% — 358.217 pessoas não foram votar.
"Como é que a gente pode compreender que uma mãe que não tem vaga na creche não se levantou animada para votar, entusiasmada para transformar a nossa cidade? Não tem explicação. Nós precisamos falar com essas pessoas”, continuou.
Sebastião Melo aguarda os votos antiesquerda no 2º turno em Porto Alegre
No outro lado da disputa, Sebastião Melo anunciou ainda na noite de domingo que contará com o apoio de Gustavo Paim (PP) e de Valter Nagelstein (PSD) — eles fizeram 1,24% e 3,1% dos votos no primeiro turno, respectivamente. “Desde o começo tenho dito que Manuela ou Marchezan [atual prefeito] seriam as piores opções para Porto Alegre. No 2º turno, portanto, sem titubear, apoio Sebastião Melo e Ricardo Gomes [vice], pelos mesmos ideais que me levaram a ser candidato”, declarou Paim no Twitter.
Mas a principal aposta do candidato do MDB está na transferência dos votos do atual prefeito Nelson Marchezan (PSDB), que ficou na terceira colocação com 21,07%. E isso pode não necessariamente ocorrer por meio de uma aliança, já que no primeiro turno houve uma polarização clara entre Marchezan e Manuela, direita contra esquerda. A candidatura dele espera que a rejeição dos eleitores à candidata do PCdoB se transforme em votos.
Mesmo assim, Sebastião Melo garantiu que vai buscar apoios, mesmo sem citar nominalmente o atual prefeito da capital gaúcha. “Não há tempo para esperar. Vamos rearranjar, vamos conversar com parceiros”, disse após a divulgação dos resultados das urnas.
Da mesma forma, Marchezan preferiu não anunciar qualquer apoio de imediato. Entretanto, já adiantou que os projetos de Sebastião Melo e Manuela não têm “a firmeza necessária no combate à corrupção, no ajuste das contas e em colocar as pessoas em primeiro lugar.”
Metodologia da pesquisa citada
Sob encomenda da RBS TV, o Ibope ouviu 805 eleitores de Porto Alegre entre os dias 12 e 14 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RS-02998/2020.
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