O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) tem pela frente uma missão das mais difíceis se pretende ser reeleito no Rio de Janeiro. Para vencer Eduardo Paes (DEM) no 2º turno no Rio, vai precisar reduzir em duas semanas a maior rejeição entre os eleitores cariocas e convencer outros partidos de que é a melhor opção para a capital fluminense.
Crivella recebeu 576.825 votos (21,9%) no primeiro turno no domingo (15), enquanto Paes somou 974.804 (37,01%). O prefeito foi o mais votado em apenas cinco das 51 zonas eleitorais da cidade – quatro na Zona Oeste e uma na Zona Norte. Em alguns bairros, chegou a ficar atrás de Delegada Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT).
Esse cenário dá certa tranquilidade no 2º turno no Rio ao ex-prefeito Eduardo Paes, que liderou a corrida desde o início da campanha. Ele também aparece em vantagem nas simulações de segundo turno realizadas na semana da primeira etapa do pleito.
No embate entre Crivella e Paes, tanto Datafolha como Ibope apontam vitória folgada para o candidato do DEM, com 57% contra 22% e 56% contra 21%, respectivamente. Uma vantagem a Paes que se explica especialmente pela rejeição a Crivella, algo que limitou a campanha dele ao longo do primeiro turno.
Segundo o Datafolha, 62% dos entrevistados disseram que não votariam no atual prefeito. No levantamento do Ibope, esse índice é de 59%. Não por acaso, a estratégia de Paes na primeira parte da eleição foi mirar em Martha Rocha, a única que poderia concorrer contra ele com alguma competitividade no segundo turno. Por isso, a disputa direta contra Crivella acabou sendo o melhor cenário para ele.
Mesmo assim, o atual prefeito não se dá por vencido e justifica a alta rejeição ao desconhecimento da população do que ele teria realizado de positivo para a cidade. “A minha rejeição é exatamente por questão de gestão. Quando souberem tudo o que fizemos, isso pode ser revertido. É diferente quando a rejeição é pessoal”, comentou após a divulgação do resultado ainda na noite de domingo. Ele acredita que pode virar esse cenário na votação em 2º turno no Rio.
Crivella aposta no embate direto para vencer
O prefeito do Rio também se apega a um debate entre apenas dois candidatos, que ocorre a partir de agora. Para ele, isso é uma vantagem, uma oportunidade para o eleitor fazer a comparação entre os quatro anos de mandato dele e os oito de Paes entre 2009 e 2016.
“Nesse segundo turno é preciso que as pessoas tenham essa informação de quem governou com muito dinheiro e quem governou com pouco dinheiro, e o que cada um fez. Nós vamos poder comparar isso. Segundo turno é meramente comparação, o que fizemos na educação, na saúde, na conservação da cidade. Tenho a impressão de que os números que nós temos com certeza vão reverter os votos”, disse.
Crivella também aposta nos votos que foram para outros candidatos e que podem ser transferidos para ele no segundo turno, mas por enquanto não apontou nenhum adversário que pode se tornar aliado nas próximas semanas.
Luiz Lima (PSL), que teria uma proximidade natural com o candidato do Republicanos, até mesmo pela boa relação com o presidente Jair Bolsonaro – que pediu voto para Crivella –, já demonstrou que ficará neutro a partir de agora.
“Meus valores, meus princípios e as minhas verdades não estão à venda. O seu voto não será um motivo para negociação. Quero, de fato, contribuir para uma política limpa, verdadeira e eficiente no nosso país. Não vou apoiar nenhum dos candidatos que chegaram ao segundo turno”, informou o candidato, em vídeo nas redes sociais. Lima recebeu 180.336 votos (6,85%).
Paes acena à esquerda para fortalecer campanha no 2º turno no Rio
Enquanto Crivella encontra problemas para alavancar de vez a campanha, o adversário dele tem a preferência dos candidatos que ficaram pelo caminho, inclusive do PT de Benedita Silva, que ficou com 11,27% dos votos válidos.
O PT ainda não formalizou o apoio a Paes, o que deve ser definido até terça-feira (17). Em entrevista ao jornal O Globo, um dos líderes do partido no Rio de Janeiro, Washington Quaquá, adiantou que esse deve ser o movimento. “Vamos discutir dentro do partido, mas há enorme probabilidade de apoiarmos Eduardo Paes. Eu diria que essa probabilidade é de 99%”, disse.
O aceno para a esquerda foi dado ainda na noite de domingo, quando Paes afirmou que vai buscar “o apoio de todos os cariocas, conversar com todos os cariocas, sejam eles do campo ideológico da direita ou da esquerda”. Pelo espectro da esquerda ele busca, além do PT, o Psol – a candidata do partido, Renata Souza, somou 3,24% dos votos válidos.
O ex-prefeito, porém, dificilmente terá o apoio do PDT de Martha Rocha. Ambos trocaram farpas durante toda a campanha, o que se intensificou na última semana com representações, dos dois lados, na Justiça Eleitoral.
Em mensagem de agradecimento aos 297.751 votos recebidos, a deputada estadual criticou não só a gestão de Crivella, como a de Paes, indicando que deve permanecer neutra no segundo turno. “Espero que o futuro prefeito cumpra as promessas que fez para termos uma gestão melhor do que foram as últimas”, escreveu.
Mas é na própria gestão à frente da prefeitura do Rio que Paes se fia para receber os votos que precisa para sacramentar a vitória. Segundo ele, a administração da cidade sob seu comando “funcionou” e “deu resultado”, ao contrário do período do adversário. “Uma administração que todos nós vimos, percebemos, sentimos no nosso dia a dia, que deixou de prestar os serviços à população, que abandonou a população da nossa cidade. Com uma gestão de um prefeito despreparado, de uma pessoa que tem feito a população sofrer”, criticou.
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
- Sob encomenda da TV Globo, o Ibope ouviu 1.204 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 12 e 14 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, e margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-02939/2020.
- Sob encomenda do jornal Folha de S. Paulo e da TV Globo, o Datafolha ouviu 1.875 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 13 e 14 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-08430/2020.
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