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Eleitores festejam vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, em 2018: eleição municipal deste ano testa fôlego da onda de renovação que varreu a política nacional há dois anos.
Eleitores festejam vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, em 2018: eleição municipal deste ano testa fôlego da onda de renovação que varreu a política nacional há dois anos.| Foto: André Rodrigues/Arquivo Gazeta do Povo

Políticos tradicionais perdendo espaço na Câmara dos Deputados e no Senado e dando lugar a novos nomes, muitos deles não ligados à política, além de governadores eleitos sem experiência prévia na administração pública. A descrição resume a onda de mudança que se espalhou pelo Brasil na eleição de 2018. Mas esse movimento de renovação política visto há dois anos agora dá sinais de que não terá a mesma força nas disputas municipais do próximo domingo (15) – pelo menos é o que mostram as pesquisas de intenção de voto.

No último pleito, foram eleitos 243 deputados federais em primeiro mandato, fechando um índice de renovação na Câmara de 47%. No Senado, das 54 vagas que estavam em aberto, 46 passaram a ser ocupadas por novatos. Nos estados, sete governadores eleitos não tinham nenhuma passagem pela vida política, como o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro; e o empresário Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais.

Essa renovação veio como consequência de uma polarização na sociedade, de direita contra esquerda, de uma agenda antibrasília e anticorrupção. Naquele ambiente, os outsiders surgiram como uma opção para a população que clamava por mudanças na condução política do país.

“Não há nada mais antigo do que esse argumento da renovação política. Sempre existiu, com mais ou menos intensidade. O que vimos em 2018 foi de fato um movimento que se concretizou em mudanças nos quadros políticos, uma mudança mais clara”, observa o professor da FGV Direito Rio, Michael Mohallem.

Os temas que estavam em discussão em 2018, porém, parecem distantes das campanhas municipais deste ano. Neste pleito, o que se fala em Brasília não é exatamente o foco de atenção da população, mais preocupada com questões que afetam o dia a dia. “Na eleição municipal, a agenda nacional tem menor impacto. O Brasil é um país muito grande e as agendas das disputas, com exceção das grandes cidades, são muito provincianas. Os caciques são construídos na trajetória local e a agenda nacional nem sempre ecoa”, explica Mohallem.

Políticos profissionais devem vencer nas principais capitais, apontam pesquisas

O que se vê nas principais capitais do Brasil é uma predominância de candidatos que já estão envolvidos no cenário político, seja nacional ou local. Mesmo em cidades onde há a possibilidade de se concretizar uma mudança de grupo político no controle, seja evitando a reeleição ou a vitória de apadrinhados, o poder seguirá na mão de políticos profissionais.

Em São Paulo, por exemplo, os quatro melhores colocados na disputa, segundo o Datafolha, são diretamente ligados à política: Bruno Covas (PSDB) é o atual prefeito da cidade; Guilherme Boulos (Psol) é militante político e foi candidato a presidente em 2018; Celso Russomanno (Republicanos) acumula mandatos de deputado federal; e Márcio França (PSB) foi governador do estado.

No Rio de Janeiro, a situação é parecida. Eduardo Paes (DEM) é ex-prefeito; Marcelo Crivella (Republicanos) é o atual mandatário carioca; Delegada Martha Rocha (PDT) está no segundo mandato de deputada estadual; e Benedita da Silva (PT) é deputada federal com vasta carreira na política, tendo sido governadora do estado. Eles são os candidatos com maior expressão entre os eleitores, também segundo levantamento do Datafolha.

Esse cenário contrário à renovação política se espalha por outras capitais, inclusive nas quais a reeleição de políticos tradicionais ou de apadrinhados é uma possibilidade real. Rafael Greca (DEM) e Gean Loureiro (DEM), por exemplo, encaminham a reeleição em Curitiba e Florianópolis, respectivamente, de acordo com levantamentos do Ibope.

Em Salvador, o candidato e vice do atual prefeito ACM Neto (DEM), Bruno Reis (DEM), pode levar a disputa ainda no primeiro turno, também segundo pesquisa Ibope.

Mudança via Bolsonaro ficou limitada

O descolamento de temas e polarizações nacionais é o que reduz os efeitos do engajamento do presidente Jair Bolsonaro nas eleições municipais. Discretamente, ele tem demonstrado apoio a alguns candidatos, como Crivella, no Rio, e Russomanno, em São Paulo. No entanto, a participação dele pouco tem feito diferença – ambos correm o risco de não conseguirem ir ao segundo turno.

Uma das explicações para esse resultado até agora inexpressivo é que o discurso antiesquerda do presidente pouco importa nas cidades. O mais relevante é resolver os problemas locais. “Essa onda bolsonarista, de renovação política via Bolsonaro, provavelmente não se dará na eleição municipal”, projeta Mohallem. “O fato é que é difícil colar pecha de esquerda em qualquer partido. Nas cidades, a disputa se dá de outras formas”, completa o professor da FGV Direito Rio.

Além disso, o fato de o presidente ter deixado o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018, dispersou o bolsonarismo. Por mais que Bolsonaro tenha proximidade com várias lideranças do partido, ele não é mais o porta-voz da legenda. Sem contar que o partido que tentou criar, o Aliança pelo Brasil, não se viabilizou para o pleito municipal.

“O próprio Bolsonaro saiu do PSL, não conseguiu fundar o Aliança pelo Brasil. E o que poderia ser um movimento de renovação municipalista ficou mais difícil. O Republicanos foi o mais próximo que ficou do que era o PSL de Bolsonaro. E isso dificultou esse movimento”, analisa Mohallem.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

  • Sob encomenda da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo, o Datafolha ouviu 1.512 eleitores de São Paulo entre os dias 9 e 10 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação SP-05584/2020.
  • Sob encomenda da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo, o Datafolha ouviu 1.148 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 9 e 10 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-02768/2020.
  • Sob encomenda da NSC Comunicação, o Ibope ouviu 602 eleitores de Florianópolis entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob a identificação SC-07120/2020.
  • A pesquisa do Ibope, encomendada pela RPC TV, ouviu 805 eleitores de Curitiba entre 20 e 22 de outubro. O nível de confiança do levantamento é de 95% e a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o número PR-01535/2020.
  • Sob encomenda da TV Bahia, o Ibope ouviu 602 eleitores de Salvador entre os dias 28 e 30 de outubro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob a identificação BA-06917/2020.
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