Em 2018, as redes sociais tiveram um papel fundamental nas eleições nacionais; no pleito municipal deste ano isso não deve mudar. Com uma campanha eleitoral diretamente afetada pelo coronavírus, a internet deve se tornar, novamente, o principal canal de informação dos eleitores e também a principal vitrine dos candidatos às prefeituras e câmaras de vereadores em todo o país. Tanto que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem promovido uma série de ações para minimizar os impactos da desinformação nesses canais, como a criação do Programa de Enfrentamento à Desinformação com Foco nas Eleições 2020. A iniciativa conta com a parceria de 49 instituições – entre partidos políticos, entidades públicas e privadas, associações de imprensa, plataformas de mídias sociais, serviços de mensagens e agências de checagem – que se comprometeram a trabalhar com a Justiça Eleitoral para minimizar os efeitos negativos provocados pela desinformação no processo eleitoral brasileiro e estimular no eleitor o voto consciente.
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Outro dado preocupante é com relação ao desconhecimento do real papel dos políticos na rotina da sociedade. Pesquisas recentes realizadas pelo Instituto Sivis, com sede em Curitiba, mostram que a falta de educação política dos brasileiros afeta diretamente sua participação nas eleições e interfere na hora da escolha dos candidatos. Os dados revelam que a população desconhece as responsabilidades atribuídas a prefeitos e vereadores, pouco participa da vida cidadã e demonstra um frágil comprometimento com os valores democráticos no país. Essa precariedade na participação política enfraquece a relevância das eleições municipais.
Dados como esse mostram a importância das campanhas de informação e conscientização promovidas por diversas entidades e organizações espalhadas pelo país que trabalham com o objetivo de mostrar a importância do processo eleitoral e a escolha de candidatos nas esferas municipais, estaduais e nacional.
Em Curitiba, o Instituto Aurora lançou recentemente uma iniciativa para estimular o voto consciente responsável dos eleitores. O projeto “Meu, Seu, Nosso Voto” disponibiliza gratuitamente um e-book com dicas para promover o engajamento sobre o tema e auxiliar na formação de pessoas engajadas na promoção de diálogos sobre o voto consciente. A presidente da organização, Michele Bravos, diz que o principal objetivo é subsidiar promotores de diálogo para conversar sobre o voto responsável. Para isso foram criadas duas publicações: uma sobre conceitos gerais de cidadania, empatia, voto responsável; e outra como uma espécie de guia de roteiros para rodas de conversa com passo a passo, metodologia e perguntas norteadoras para que as pessoas possam conversar sobre o voto responsável. A medida também deve ser amplificada pelas redes sociais. “Estamos com uma campanha online, nas redes sociais, newsletter e outros canais para incentivar que as pessoas estejam conversando e refletindo sobre o voto. Foi disponibilizado também um kit para mídias sociais com frases emblemáticas sobre a importância do voto responsável e de se dialogar nesse tempo eleitoral, para que qualquer pessoa possa baixar e usar nos seus perfis, entendendo assim que a rede de cada um também pode ser um disparador para o diálogo, mesmo que seja uma conversa informal. “Posso postar na minha rede social uma peça falando sobre a importância de dialogar nesses tempos de tanta polarização e isso pode gerar comentários e interações que vão incentivando essa consciência sobre a responsabilidade do voto”, diz Michele.
Segundo ela, o projeto deve reforçar a responsabilidade de cada um na escolha dos seus próprios candidatos. “Acho que algo que é bastante importante é reforçar a palavra “responsabilidade” até mais do que a palavra “consciência”. Entendemos que muitas vezes uma pessoa pode votar de forma consciente, mas ainda assim não leva em conta o impacto que seu voto vai ter. Ou ainda decide votar de forma consciente, quando, por exemplo, ela anula ou vota em branco, mas não é responsável. O voto responsável é aquele que entende que esse é um direito individual, mas que terá impactos no coletivo”, diz.
Mas em tempos de forte polarização, como promover um debate saudável e respeitoso entre a população? “Acho que a nossa principal orientação é entender que o diálogo não é palestra. Não é um espaço para apenas eu expressar a minha opinião e ficar falando sem dar oportunidade para que o outro fale; é também [momento] de escutar. Esse deve ser um espaço de troca onde implica necessariamente a escuta. Então trazemos essa perspectiva de que para haver um verdadeiro diálogo as partes envolvidas precisam estar dispostas a escutar umas às outras e entender o que tem por trás daquela opinião. Tentar escutar de forma ativa. É algo que a gente fala bastante”, finaliza Michele Bravos.
Entidade foca no voto consciente para jovens
A Politize! é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos (ONG) com a missão de formar uma nova geração de cidadãos conscientes e comprometidos com a democracia. A entidade atua por meio da educação política para qualquer pessoa, dentro e fora da internet, pregando o respeito pela pluralidade de ideias, crenças e posições. Bastante atuante nas redes sociais e com uma linguagem jovem, direcionada aos estudantes, o grupo promove a produção de conteúdo, como textos, vídeos, cursos, podcasts, oficinas e palestras para fortalecer a cultura democrática no país. “Acreditamos que a diversidade de interesses, valores e convicções é essencial para uma sociedade capaz de oportunizar uma vida de qualidade para todos. Esta pluralidade somente é possível com a ampla disseminação de conhecimento, porta de acesso ao poder político”.
Rede criada por pesquisadores quer estimular a participação no debate público
Um grupo de pesquisadores, de diversas instituições e estados brasileiros, criou a rede “Democracia e Participação”, que se dedica aos estudos sobre o tema no Brasil. A plataforma, de acordo com os idealizadores, tem dois objetivos principais: difundir o conhecimento, que é produzido em linguagem acessível para um público amplo, visando intervir com qualidade no debate público e atuar de forma coletiva em defesa dos direitos à participação e à democracia. “Nesse momento de ameaças aos valores democráticos e à universidade pública buscamos exercitar um diálogo mais estreito entre a academia e a sociedade, a partir de uma estratégia de divulgação científica orientada para a incidência na esfera pública em defesa do direito à participação nas ruas e nas instituições”, diz o coletivo.
Redes Cordiais atua na formação de influenciadores digitais
Criado em 2018, o Redes Cordiais tem o objetivo de divulgar, por meio de workshops voltados aos influenciadores digitais, conhecimentos relacionados à comunicação não-violenta, à luta contra a disseminação de notícias falsas e à educação digital para as redes sociais. A entidade é uma das organizações que participa do projeto de combate à desinformação promovido pelo TSE. Na ocasião do anúncio da parceria, a jornalista Alana Rizzo, uma das fundadoras do projeto, disse que o influenciador tem responsabilidade perante os seguidores e, por isso, deve estar atento para não ser o condutor de boatos. Na avaliação da comunicadora, a educação midiática é importante para assegurar que, além do compartilhamento de conteúdo confiável, haja capacidade de diálogo nas mídias sociais.
A jornalista diz que serão acrescidos nos workshops organizados pelo Redes Cordiais cursos que ensinarão o que é permitido e o que é proibido postar em períodos eleitorais. Nessas oficinas, os participantes conhecerão mais sobre a legislação que rege o processo eleitoral brasileiro e aprenderão quais são os melhores canais para a checagem de informações. “Teremos também cursos on-line para o grande público, principalmente o mais jovem, ensinando a combater a desinformação e capacitando para o diálogo com foco no período eleitoral”, explicou.
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