Diferentemente dos pleitos anteriores, as eleições municipais de 2020 foram marcadas por vários problemas. Os principais foram a lentidão na apuração do resultado, as falhas na justificativa on-line do aplicativo e-Título e uma tentativa de ataque hacker para tirar do ar o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nenhum dos contratempos prejudicou ou interferiu no resultado das eleições, garantiu o ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte.
A lentidão foi o problema mais evidente. Perto das 22 horas, o cenário era de completa indefinição nas duas maiores cidades do país (São Paulo e Rio de Janeiro) – e em muitas outras. O presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, disse em entrevista coletiva que "é possível" que a apuração seja finalizada hoje, mas não quis se comprometer.
A apuração e divulgação parcial dos votos começou pouco depois das 17 horas, quando as urnas foram fechadas na maior parte das cidades do país. Só que antes das 18 horas o sistema de divulgação “travou” e nenhum resultado foi mais divulgado. A atualização da divulgação dos resultados só retornou por volta de 19h50, após mais de uma hora e meia “congelada”. Ainda assim, o sistema voltou mais lento que o padrão.
Em São Paulo, maior cidade do país, as urnas apuradas somavam menos de 1% do total às 21 horas. O Rio de Janeiro tinha 30,11% dos votos apurados no mesmo horário. "Os dados enviados por São Paulo chegaram regularmente e na hora. Os problemas foram de totalização e divulgação. Os dados chegaram aqui com integridade plena", disse Barroso em entrevista coletiva concedida a partir das 21 horas deste domingo (15).
Problemas técnicos causaram o atraso, diz Barroso
Segundo Barroso, um problema técnico em um dos processadores do supercomputador que totaliza os votos causou a lentidão na divulgação. "Houve um atraso na totalização dos resultados por força de um problema técnico. Um dos núcleos dos processadores que processam a totalização falhou e foi preciso repará-lo", explicou.
Por volta das 21horas, o processador ainda estava sendo reparado. A tarefa está a cargo da empresa Oracle, que, de acordo com o presidente do TSE, instalou e mantém em funcionamento o "supercomputador" que faz a totalização dos votos: "Manutenção, conservação, suporte é de responsabilidade da empresa".
Depois das 22h, quando a coletiva ainda está rolando, Barroso informou que a totalização já tinha sido normalizada. "O problema agora está na divulgação. Se não for possível [a divulgação], vamos realizar verbalmente. Estou esperando o relatório da tecnologia da informação", disse.
Ele ressaltou, ainda, que o problema foi no TSE, e não nos tribunais regionais. "O problema que ocorreu deu-se exclusivamente aqui no Tribunal Superior Eleitoral, um problema técnico, de hardware. Os dados chegaram íntegros, mas o sistema de somar [totalizar os votos] ficou lento em razão de um dos processadores ter sofrido um problema técnico", prosseguiu Barroso.
Segundo ele, às 21 horas cerca de 50% dos votos de todo o país estavam totalizados. Por volta de 21h45, esse porcentual subiu para 62%. Perto das 22h, ele atualizou os números: "Já recebemos 96% dos resultados vindos dos estados e 77% já foram totalizados. O fato da totalização estar em 77% e divulgação inferior acontece porque são dois momentos diferentes e duas circunstâncias diferentes. Totalização aparentemente está regularizada e a divulgação permanece com algum atraso".
Sobre teses de fraudes na eleição, Barroso falou que elas são infundadas, já que as urnas eletrônicas não estão conectadas à internet. "Ao final do dia de votação, a urna imprime o resultado. Ponto. Não há mais como fraudar. Esses resultados foram impressos, foram comunicados ao Tribunal Regional Eleitoral e o TSE teve problema na totalização e divulgação. Portanto esses resultados saíram às 17 horas. Eu não tenho controle sobre o imaginário das pessoas, mas não é possível que tenha tido nada [de fraude]", disse Barroso.
Ele também negou que os atrasos coloquem em xeque a credibilidade do sistema eleitoral.
Atraso não teve consequência grave, disse Barroso
A respeito do atraso, o presidente do TSE disse ainda: "Eu lamento que tenha acontecido, mas não teve nenhuma consequência grave, salvo para a ansiedade de candidatos e imprensa. Não há nenhum risco de o resultado não expressar o que foi votado. Foi acidente de percurso sem nenhuma vítima. Foi um atraso que eu espero que seja de apenas algumas horas. Não houve nenhum risco à credibilidade do sistema eleitoral".
Mais cedo, às 19h30, o TSE já tinha explicado em nota que o atraso ocorreu por causa de uma lentidão no processo de totalização dos votos (soma dos votos), que mudou neste ano e agora é centralizado em Brasília. Até 2018, as informações eram transmitidas dos locais de votação para os tribunais regionais eleitorais (TREs), que faziam a totalização dos votos e repassavam ao TSE, para divulgação. Neste ano, a sistemática mudou: o TSE passou a totalizar os votos.
Barroso disse não entender essa mudança como a melhor opção, mas que a decisão já havia sido tomada e cabia ao Tribunal somente executar. "Eu assumi em maio e a decisão já estava tomada. Não tive simpatia por essa opção, mas era a opção estabelecida e foi ela que eu segui e muito possivelmente por ser uma novidade pode estar entre os motivos da instabilidade que sofremos." A decisão foi tomada durante o mandato da ministra Rosa Weber, segundo a GloboNews e o site O Antagonista.
Pouco depois, no entanto, Barroso voltou atrás e disse que não tinha condições de afirmar que a mudança tenha contribuído para a lentidão. E acrescentou que um relatório será divulgado, identificando todas as causas.
Na coletiva, o vice-presidente do TSE, Edson Fachin, afirmou que a mudança na totalização se deu por motivos de segurança e economia.
Apuração seguiu ritmo normal, disse TSE. Divulgação é que atrasou
O sistema do TSE acabou apresentando lentidão, o que atrasou toda a totalização de votos e divulgação. Segundo o tribunal, a apuração seguiu o ritmo normal. “Os dados estão sendo remetidos normalmente pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e recepcionados normalmente pelo banco de totalização, que está somando o conteúdo de forma mais lenta que o previsto”, disse o tribunal em nota.
O TSE destacou, ainda, que não houve nenhuma relação do atraso com o vazamento de dados pessoais de servidores e com a tentativa de ataque cibernético ao site do tribunal.
Ataque hacker
Pela manhã, o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, disse que houve uma tentativa de ataque hacker para tentar tirar do ar o site do TSE. O ataque veio do Brasil e do exterior. A ação não foi bem sucedida, ainda segundo Barroso.
O presidente esclareceu em entrevista coletiva no início da tarde que os hackers tentaram derrubar o sistema por meio de vários acessos simultâneos. Assim que foi identificada a tentativa, eles foram “barrados”. Por precaução, a equipe de tecnologia da informação (TI) do tribunal desligou um dos servidores.
Segundo Barroso, não houve tentativa de sequestrar dados do TSE. O caso segue sendo apurado pelo tribunal. "O ataque especifico que se verificou hoje às 10h41 não produziu nenhum resultado porque ele foi repelido na hora e não se conseguiu entrar no sistema. Foi um ataque múltiplo vindo inclusive do Brasil, dos Estados e da Nova Zelândia de tentar derrubar o sistema, totalmente inócuo", acrescentou o presidente do TSE na entrevista desta noite.
Na coletiva no início da tarde, Barroso revelou ainda que foi identificado um ataque hacker “antigo” à base de dados do tribunal que guarda informações dos servidores da Corte. Alguns dados de funcionários podem ter sido vazados, mas o ministro não deu mais detalhes. Ele informou que o vazamento aconteceu antes do dia 23 de outubro, mas que o tribunal não sabe a data exata. E reforçou que o ataque ocorreu somente em uma base antiga de servidores.
Sobre as urnas eletrônicas, Barroso explicou que elas não foram afetadas, pois não são ligadas à internet. Elas funcionam por baterias, que duram 12 horas. A transmissão de dados é feita após o término da eleição e acontece por rede interna, que não sofreu qualquer problema.
Falhas no e-Título
Muitos eleitores enfrentaram problemas neste domingo com o e-Título, aplicativo desenvolvido pelo TSE para funcionar como um título eleitoral digital. O principal entrave foi para fazer a justificativa on-line. Eleitores que deixaram para apresentar o e-Título para votar ou para consultar o local de votação também enfrentaram problemas para acessar o aplicativo.
Em tese, o sistema permitiria que qualquer eleitor que estivesse fora do seu município de votação entrasse no aplicativo e justificasse na hora. A justificação seria feita por geolocalização. Porém, milhares de pessoas não conseguiram usar a ferramenta, que simplesmente não funcionou.
A orientação do próprio TSE era para que os eleitores usassem o e-Título para justificar e votar. Pior ainda foi a situação dos eleitores que estavam em Brasília e em Fernando de Noronha. No Distrito Federal e na ilha, como não há prefeito nem vereador, a única forma de justificar era pelo e-Título.
Barroso disse que a instabilidade no e-Título foi causada por causa dos milhões de downloads de última hora e por causa dos acessos simultâneos. Ele chegou a pedir aos eleitores que “insistissem” mais, mas depois reconheceu que a funcionalidade de justificativa teve problemas de funcionamento.
Além disso, alguns eleitores foram impedidos de fazer a justificativa de voto presencialmente nas cidades que tiveram eleições, segundo o G1. Alguns mesários pediram para que as pessoas usassem o e-Título ou que justificassem depois. A justificativa pós-eleição exige a apresentação de comprovante do motivo da ausência, que será analisado por um juiz eleitoral.
Mais de 30% de abstenção, segundo Barroso
Sobre o número de abstenções, o tribunal ainda não tem números fechados, mas Barroso disse que as informações preliminares indicam que elas ficarão acima de 30%, o que não classificou como um problema, diante da pandemia de Covid-19.
"Eu fiz uma mera estimativa relacionada a não comparecimento, portanto não inclui votos brancos e nulos. A minha estimativa íntima é alguma coisa entre 30% e 35%, mas não é uma previsão", disse Barroso.
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