Liderados por ACM Neto e Ciro Gomes, DEM e PDT ensaiam aliança na corrida pela Prefeitura de Salvador.| Foto: Instagram ACM Neto/Reprodução e Nelson Almeida/AFP
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A eleição em Salvador virou um laboratório político para o DEM, do prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto (o ACM Neto), e o PDT ensaiarem uma aliança que pode ir além do pleito desse ano e se estender para as eleições, estadual e presidencial, de 2022. O objetivo é pavimentar o caminho para uma terceira via moderada entre o lulismo e o bolsonarismo.

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Apesar das diferenças ideológicas, os dois partidos têm uma boa relação na capital baiana e estão negociando compor uma chapa para a candidatura do atual vice-prefeito, Bruno Reis (DEM). Para o cargo de vice, a mais cotada é a advogada e secretária municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza, Ana Paula Matos, considerada um nome forte do PDT. O martelo será batido nas convenções dos dois partidos, previstas para 14 de setembro.

A situação não deixa de ser inusitada, já que o PDT integra a base do governador petista Rui Costa, mas é cedo para saber se a coalizão em nível estadual será abalada. Fontes do PDT dizem que, se houver ruptura, a responsabilidade será do governador.

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O acordo entre os Democratas e os pedetistas está sendo costurado diretamente entre o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, com aval de Ciro Gomes, e o prefeito e presidente nacional do DEM, ACM Neto. Ciro rompeu com o PT em 2018, quando se manteve neutro no segundo turno entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro.

O presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Junior, confirma que a eleição soteropolitana pode ser um balão de ensaio para 2022. “São dois partidos com pensamentos ideológicos distintos, mas são dois partidos que não têm extremismos, o que pode aproximar. O Brasil precisa de mais calmaria, de um governo de coalizão, não de um governo raivoso, nem extremista”, diz.

Se o experimento municipal der certo, um novo cenário para 2022 se descortina: o DEM poderia apoiar a candidatura de Ciro para presidente em troca do apoio do PDT a ACM Neto para governador da Bahia.

Além das diferenças ideológicas com PDT, o DEM deve conciliar várias almas, inclusive uma bolsonarista. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, por exemplo, é do DEM. Embora tenha rompido com Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também é do Democratas. Além disso, em 2019, o DEM votou a favor do governo em 77% dos casos na Câmara dos Deputados, de acordo com levantamento do Congresso em Foco.

Embora em algumas ocasiões tenha discordado publicamente de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também tem sido um grande articulador entre governo e Congresso. E vem blindando o presidente contra os pedidos de impeachment.

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O partido, porém, não é homogêneo e a situação é fluida. Recentemente, por exemplo, o DEM desembarcou do chamado “blocão”, que reúne siglas do Centrão. O grupo vem há meses se aproximando do governo garantindo a sustentação no Congresso.

DEM quer surfar na onda de ACM Neto

O pré-candidato à Prefeitura de Salvador Bruno Reis, hoje vice, com o prefeito da capital baiana, ACM Neto, ambos do DEM. Foto: Divulgação.

O pré-candidato Bruno Reis quer surfar na onda de ACM Neto, que goza de 75% de aprovação, segundo pesquisa do Poder 360 realizada entre 20 e 22 de julho com 2.500 pessoas em 192 municípios da Bahia (a margem de erro é de 2 pontos percentuais). Reis é advogado e foi duas vezes deputado estadual, antes de se tornar vice-prefeito em 2016.

A aproximação entre DEM e PDT começou em fevereiro, quando o secretário de Saúde, Leo Prates, trocou o DEM pelo PDT, com o intuito de compor uma chapa mista com Reis. Mas, por causa da pandemia, Prates optou por ficar à frente da secretaria e perdeu a janela para deixar o cargo e concorrer às eleições.

O passo seguinte foi a filiação da secretária Ana Paula ao PDT, em maio. Advogada, professora e concursada da Petrobras, ela tem perfil de gestora e trabalha na administração de ACM Neto desde 2013. Será a primeira vez que ela concorre a uma eleição. “Ainda não fui convocada e não participo das negociações. Se o PDT me convocar, estarei lá”, se esquiva Ana Paula.

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O PL, aliado histórico do PDT no cidade, também entraria na coligação. O martelo ainda não foi batido porque outros partidos da base do prefeito, como o PRB e o MDB, têm expectativa para compor a chapa. O prazo para definir as candidaturas é dia 16 de setembro.

À esquerda, o PT anunciou a pré-candidatura da major da Polícia Militar Denice Santiago. Negra, ela comandou as rondas Maria da Penha e se tornou um símbolo da luta pelas mulheres. O nome dela é considerado forte por alcançar setores que normalmente não dialogam com o partido.